Vitória nas capitais pode garantir maior eleitorado e palanque para 2026.| Foto: Imagem produzida com o recurso Meta AI do WhatsApp
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O Partido Liberal (PL) disputa, neste domingo (27), o comando de nove capitais brasileiras no segundo turno das eleições 2024, o que coloca a legenda entre os favoritos ao título de campeão com mais prefeituras de capitais no país. No primeiro turno, a sigla garantiu a reeleição dos prefeitos João Henrique Caldas, em Maceió (AL), e de Tião Bocalom, em Rio Branco (AC).

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O ranking geral de municípios é liderado pelo PSD que fez 886 prefeitos no primeiro turno, sendo três capitais. Topázio Neto, Eduardo Paes e Eduardo Braide foram reeleitos em Florianópolis (SC), Rio de Janeiro (RJ) e São Luís (MA). O MDB saiu vitorioso em 852 cidades, entre elas, Boa Vista (RR) e Macapá (AP). O União Brasil venceu em 585 municípios e comandará as capitais nordestinas Salvador (BA) e Teresina (PI).

Apesar da meta de mil prefeituras anunciada pelo presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, a sigla venceu as eleições municipais em 531 localidades pelo país e é o partido com mais chances de vencer os pleitos nas capitais neste segundo turno. Entre os quatro partidos, o PSD é o que tem o menor número de candidatos: o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, enfrenta Bruno Engler (PL-MG) na capital mineira e o vice-prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel, concorre ao cargo de chefe do Executivo com a jornalista Cristina Graeml (PMB).

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Já o MDB tem três candidatos nas capitais Porto Alegre, São Paulo e Belém e o União Brasil disputa o segundo turno em Goiânia, Campo Grande, Natal e Porto Velho. Principal nome do PL, o ex-presidente Jair Bolsonaro participou diretamente das campanhas encabeçadas pelo partido e reforçou o apoio aos candidatos a prefeitos durante o segundo turno. Nos palanques, Bolsonaro repetiu a frase “2026 passa por 2024” durante comícios, apontando para a articulação política nos municípios como base para uma candidatura na próxima corrida presidencial.

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Em entrevista à Gazeta do Povo, o líder do PL na Câmara dos Deputados, Altineu Côrtes (PL-RJ), classificou as capitais e maiores cidades dos estados como “âncoras” na disputa política e citou o exemplo de Guarulhos, segundo maior município de São Paulo, onde Lucas Sanches (PL-SP) disputa o segundo turno contra Elói Pietá (Solidariedade).

“É óbvio que a vitória nas capitais é fundamental. A gente tem muita expectativa nas eleições deste domingo, pensando em 2026. Temos o prefeito mais votado do Nordeste, o JHC [João Henrique Caldas], que foi reeleito em Maceió. Além disso, podemos vencer em Fortaleza e em Aracaju”, disse o deputado federal, citando as capitais do Nordeste, reduto do petismo nas últimas eleições presidenciais.

Apesar da disputa com os partidos de centro e centro-direita, Côrtes ressalta a aliança com as siglas para as vitórias da direita em Salvador e Teresina no primeiro turno, além das coligações com Paulinho Freire (União-RN) e Ricardo Nunes (MDB-SP) que disputam o segundo turno em Natal e em São Paulo contra candidatos de esquerda que têm a participação direta de Lula nas campanhas.             

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“Mesmo depois de todos os debates que aconteceram sobre São Paulo, o PL vai vencer a eleição não com a candidatura própria, mas com a indicação do vice na chapa do Ricardo Nunes. O PL vai sair como o partido vencedor nas capitais, não só pelos prefeitos eleitos, mas pelos vice-prefeitos indicados e pelas coligações apoiadas”, analisa o deputado federal. Segundo ele, a estratégia impediu a vitória de partidos de esquerda e ainda tem a promessa de garantir palanque nas capitais e outras cidades estratégicas dos estados nas eleições presidenciais de 2026.

Para o líder da oposição na Câmara dos Deputados, Filipe Barros (PL-PR), o partido pode terminar as eleições com o maior crescimento nas grandes cidades do país, levando em consideração o eleitorado brasileiro. “Digo isso com base nos números. Foi o partido que mais cresceu em relação ao número de habitantes nos municípios em que nós ganhamos. No segundo turno, estamos disputando como cabeça de chapa em importantes cidades, além de nove capitais”, comenta.

Para ele, o resultado nas urnas vai impactar na configuração da Câmara e do Senado em 2026 e, antes disso, na eleição a presidente da Câmara dos Deputados no início do próximo ano. O deputado federal também ressaltou que o quadro político das eleições 2024 aponta para o avanço do PL e de outras siglas de direita e centro-direita.

É uma vitória expressiva nas urnas em detrimento do PT e de outros partidos de esquerda. Mas talvez o PT seja o maior derrotado destas eleições, ficando de fora de várias cidades no segundo turno. Mesmo com o governo federal, não conseguiu transferir os votos para os candidatos petistas ou de esquerda”, avalia.

PL nas capitais: pesquisas indicam vitória em Aracaju e derrota em João Pessoa

Das nove capitais em disputa pelo PL no segundo turno, apenas duas cidades aparecem nas pesquisas eleitorais com candidatos favoritos nas urnas. Nas outras sete capitais, o cenário é de equilíbrio. 

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Em Aracaju, a candidata Emília Corrêa (PL-SE) aparece na frente do candidato Luiz Roberto (PDT-SE), que tenta a sucessão na prefeitura para manutenção da gestão pedetista. No entanto, de acordo com o levantamento do instituto Paraná Pesquisas divulgado na quinta-feira (24), a candidata do PL tem 58,7% dos votos válidos no cenário estimulado contra 41,3% da preferência do eleitorado por Luiz Roberto.

Por outro lado, em João Pessoa (PB), o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga (PL-PB) surpreendeu ao chegar no segundo turno, mas enfrenta dificuldades para equilibrar a disputa contra o prefeito Cícero Lucena (PP-PB). Segundo a pesquisa AtlasIntel da última terça-feira (22), o candidato à reeleição tem 61,6% dos votos válidos no cenário estimulado. Queiroga somou 38,4% no levantamento.

Polarização pode favorecer desempenho do PL nas capitais

De acordo com o sociólogo e cientista político Aryell Calmon, coordenador de Estados e Municípios da BMJ Consultores Associados, a polarização nacional tem mais peso na decisão do voto do eleitorado nas capitais do que nas cidades do interior, o que pode explicar o melhor desempenho do partido de Bolsonaro nos grandes centros. 

“Quando a gente parte para os municípios menores, que simplesmente não têm segundo turno com menos de 200 mil eleitores, a vida real começa a ter mais influência diretamente no voto do que o aspecto ideológico”, compara. 

PSD tem característica fisiológica e posição para 2026 não está cristalizada

Na avaliação do cientista político Aryell Calmon, apesar do protagonismo do PSD nas eleições municipais deste ano e a proximidade ao governo Lula (PT), a característica fisiológica do partido comandado nacionalmente por Gilberto Kassab aponta que a posição da sigla para as eleições de 2026 não está "cristalizada".

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“O quadro de prefeituras é uma das variáveis, mas vai depender do desenrolar das alianças políticas no retorno das atividades no Congresso Nacional”, comenta. Segundo ele, a discussão sobre as emendas e a eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados podem indicar o peso das vitórias municipais e como os partidos vencedores vão usar o bom desempenho nas urnas. “O conjunto de capitais possibilita esse cenário a favor dos partidos, mas ele ainda é muito frágil para pensar em 2026.”   

De acordo com Calmon, o fisiologismo do centro com “operação diferente em cada localidade” permite as alianças com grupos políticos antagônicos pelo país. Neste ano, o candidato do PSD a prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel, tem como vice o ex-deputado federal Paulo Martins (PL-PR). No entanto, o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, também do PSD, busca a reeleição com apoio do eleitorado de esquerda no segundo turno para enfrentar o candidato do PL, Bruno Engler, que teve a campanha apadrinhada por Bolsonaro.

Após a derrota nas urnas, o cientista político aponta que o PT precisará de dois anos de aprovação do governo Lula para que a boa avaliação do eleitorado possa “balizar” as articulações políticas para 2026 com partidos como PSD e MDB. “O resultado da eleição funciona como uma pressão que as siglas com bons desempenhos fazem no governo em um jogo de interesses. Eu tenho essa máquina [pública], tenho esse conjunto de prefeituras, aplicação de recursos e aplicação de emendas para fazer com que o governo seja bem visto, assim pode contar mais ou menos com essas legendas”, analisa Calmon.

Metodologia das pesquisas citadas:

  • 800 entrevistados pelo Paraná Pesquisas entre os dias 20 e 23 de outubro de 2024. A pesquisa em Aracaju foi contratada pelo Partido Liberal (PL). Confiança: 95%. Margem de erro: 3,5 pontos percentuais. Registro no TSE nº SE-04788/2024.
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  • 1.214 entrevistados pela AtlasIntel entre os dias 15 e 20 de outubro de 2024. A pesquisa em João Pessoa foi contratada pela própria AtlasIntel Tecnologia de Dados Ltda Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº PB-01786/2024.
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