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Felipe Camozzato é candidato à prefeitura de Porto Alegre
Felipe Camozzato é deputado estadual e foi duas vezes vereador de Porto Alegre| Foto: John Paul Arlington/Divulgação Campanha Felipe Camozzato

Primeiro candidato do Novo à prefeitura de Porto Alegre, Felipe Camozzato, 36 anos, quer se posicionar como a força da direita na capital gaúcha. Para isso, faz ataques recorrentes ao PT em uma tentativa de polarizar a eleição e atrair votos dos eleitores mais conservadores.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Felipe Camozzato disse que o sistema contra enchentes de Porto Alegre falhou, por isso a cidade ficou alagada em maio. É necessário, afirma o candidato do Novo, “construir novas estruturas”. Todos os candidatos à prefeitura de Porto Alegre foram convidados pela reportagem da Gazeta do Povo para entrevista.

“Inclusive botei no plano de governo que uma das medidas é acionar judicialmente o governo federal, porque a Constituição diz que é tarefa do governo federal a proteção contra cheias, porque, quando tu fala sobre proteção contra enchentes, tu está falando sobre um sistema que tem que ter proteção na bacia hidrográfica, não é um município”, afirma. 

Confira a íntegra da entrevista com o candidato Felipe Camozzato

Quais medidas o senhor pretende tomar, se for eleito, para evitar que Porto Alegre volte a alagar?

Primeiro de tudo, a gente precisa fazer não apenas a revisão do sistema, como revisar a cota da última enchente. Precisamos refazer os diques e partes da construção, construir o que não está pronto. Nós temos um sistema que fracassou, foi desenhado para uma cota de 6 metros e não foi executado conforme o projeto. Várias partes foram feitas com cota abaixo de 6 metros e partes do projeto sequer foram feitas. Nas comportas do muro do Mauá, a comporta 14 rompeu com a pressão de água em 4,5 metros. No dique do Sarandi, na zona norte, a água extravasou por cima do dique. É uma sucessiva irresponsabilidade de gestão, irresponsabilidades de gestão que passaram.

Tinha um órgão municipal, o DEP (Departamento de Esgotos Pluviais) e tem muita gente agora criticando que extinguiu o DEP, que tem que criar o DEP como proposta, mas esse mesmo DEP não viu que faltaram dois metros num dique em 50 anos. E o pior: que tem partes da cidade, como na Vila Asa Branca, também no Sarandi, que sequer o dique foi construído.

Então eu achei muito curioso que tem gente se apresentando na campanha dizendo "olha, o que faltou no nosso sistema de proteção foi manutenção". E isso é uma mentira deslavada, porque como é que você vai fazer manutenção num dique que não foi construído? Nesses momentos, em pleno debate eleitoral, quando a gente precisa construir confiança no cidadão de que ele pode voltar a morar na sua casa e que o empreendedor pode voltar a investir, tem candidato que não consegue oferecer o diagnóstico correto. Como é que a gente vai construir a confiança?

Então o primeiro passo é que a gente precisa falar a verdade e ter coragem para dizer que o sistema fracassou. Você precisa deixar para trás tudo aquilo que se viu no passado ou que não se fez e dizer que nós temos que revisar, atualizar as cotas e reconstruir esse sistema. Buscar recursos federais, inclusive, para fazer o fortalecimento do sistema de proteção e é isso que nós faremos.

O senhor citou o DEP, que foi extinto, comentando que muita gente acha que a recriação desse departamento é uma solução, mas que o caminho não seria esse. Então qual é a solução?

Hoje a gente tem diferentes grupos na prefeitura que podem ser responsáveis por isso. Aliás, já são responsáveis em certa medida. Mas tem tanto no DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgoto) quanto engenheiros e técnicos da prefeitura que podem ficar como responsáveis pela manutenção do sistema. Mais uma vez: a manutenção do sistema atual não é suficiente para impedir novas cheias. Nós precisaremos construir novas estruturas e, para isso, eu inclusive botei no plano de governo que uma das medidas é acionar judicialmente o governo federal, porque a Constituição diz que é tarefa do governo federal a proteção contra cheias, porque, quando tu fala sobre proteção contra enchentes, tu está falando sobre um sistema que tem que ter proteção na bacia hidrográfica, não é um município. Se cada município faz o seu sistema, tu não resolve um problema de bacia. O problema de bacia tem que ser tratado em nível regional, então precisa ter estado e o governo federal envolvidos nessa tarefa. Fora que são bilhões de reais de construção de infraestrutura, e prefeitura nenhuma tem dinheiro para isso, precisa do governo federal que já anunciou um novo PAC com recurso disponível para projetos de reconstrução de sistema de proteção. Eu acho que a prefeitura tem agora a responsabilidade de fazer projetos, pegar esses recursos e executar as obras. E, uma vez executadas, conseguir ter, seja através de uma parceria público-privada, seja através do seu corpo funcional, mas que tenha responsáveis unicamente para manter esse sistema vigiado e em dia.

No seu plano de governo, o senhor cita a necessidade de qualificar o modelo de proteção atual com um sistema mais robusto, seguro e moderno. Que modelo seria esse? O senhor já fez alguma simulação para ver custos e a viabilidade desse projeto?

Um dos problemas de reconstruir o DEP (Departamento de Esgotos Pluviais), por exemplo é que o DEP quando existiu ocupava mais as páginas policiais do que as páginas de drenagem da capital, então tu tinha lá um superfaturamento de contratos de limpeza de bocas de lobo - coisa que faltou agora na hora da enchente. Boca de lobo que não estava drenando a água, é por isso que eu não acredito nessa estrutura.

Quando eu falo sobre modernizar, é desde infraestrutura física até gestão, governança. Eu não acredito que simplesmente montar, recriar a governança estatal que era fracassada antes vai ser a solução agora. Então se eu falo sobre ter um sistema mais moderno, eu falo, por exemplo, no muro da Mauá. Nós temos um muro construído em 1974 que tem tecnologia de concretagem de 1974, que não é nem mais aprovada pelas normas atuais. Tem laudo de 2014 que diz que o muro não aguenta a pressão que é necessária aguentar, então ele precisa ser atualizado. 

E eu defendo, inclusive, que uma das formas de conseguir fazer isso sem onerar a prefeitura é através do edital de concessão do Cais Mauá, que é um projeto do governo do estado, que teve um leilão, teve um vencedor e esse grupo privado tem, no seu plano de investimentos, oferecer uma nova estrutura de proteção dos armazéns, que substituam o muro da Mauá com mais segurança, com engenharia e sistemas atualizados. No caso, é que numa das comportas faltou borracha de vedação, faltou a comporta conseguir funcionar o abre e fecha e tudo mais. Eu acho que o muro foi insuficiente, ele cumpriria a sua função, mas a gente não tinha todo o resto do sistema de proteção funcionando. Mesmo se a gente tivesse com todo o resto funcionando, o muro teve brechas ali por onde a água extravasou. Então a gente reduzindo o número de comportas a serem mantidas, tu reduz o risco de falta de manutenção. 

O edital do Cais Mauá prevê uma barreira física contínua que é uma espécie de novo muro só que com uma escadaria, arquibancada, que é contemplativa para o Guaíba e ao mesmo tempo protege os armazéns,  que são patrimônio histórico tombado. Eu acho uma solução melhor e mais robusta de engenharia. 

Outro ponto que eu acho que precisa de modernização: nas casas de bombas. Nós precisamos ter energia elétrica para alimentar de maneira exclusiva a casa de bombas. Hoje temos casas de bombas que dependem da rede do bairro. Então se a energia no bairro cai, a casa de bombas para, se a casa de bombas para, o bairro alaga. Tem que fazer com que a CEEE Equatorial faça a ligação direta com as casas de bombas, portanto estabelecer novos convênios.

Além disso, fazer as obras que atualizam as cotas dessas casas de bombas, porque hoje elas estão, muitas delas, em cotas abaixo de 6 metros, fazendo com que, em alagamentos, a água entre, pega no sistema elétrico e a  casa de bombas para de funcionar durante a enchente, agravando o quadro de enchente. Então elas precisam ser elevadas da cota de rua, para que possam cumprir a função de ajudar na drenagem e isso em vários pontos das casas. Então são alguns dos passos. Tu vê que é um sistema complexo, grande, robusto, e por isso a prefeitura não tem recurso suficiente para fazer por conta. Já tem um orçamento da prefeitura que chega próximo da casa de R$ 1 bilhão, embora a prefeitura tenha condições de pegar empréstimos e financiamentos - porque tem espaço de endividamento -, nós precisamos acionar esses recursos de outros entes, por exemplo o PAC do governo federal, disponível para fazer esse empréstimo com juro baixo para a prefeitura. Eu acho que esse é o caminho.

Alagamentos em Porto Alegre
Região Central de Porto Alegre ficou completamente alagada em maio| Gustavo Garbino/Prefeitura de Porto Alegre

O senhor cita no plano de governo algumas medidas referentes ao novo Plano Diretor, que está atrasado há quatro anos e deve ser responsabilidade do próximo prefeito e da nova legislatura de vereadores. Mas o plano não diz nada sobre as enchentes? A cidade não deveria se readequar considerando as enchentes de maio?

Todos os projetos de prevenção contra cheias não dizem respeito, necessariamente, a obras urbanísticas. Inclusive, acho que é melhor tratar isso separadamente. No plano diretor, tu tens outros elementos que ajudam o tema, que é drenagem. Aí sim tem que contar e isso está posto no projeto e tem que permanecer lá. Agora, sistema de proteção contra cheias é projeto de engenharia específico e planos específicos contra cheias. Então é só essa é a divisão que nós fazemos.

Na segurança pública, uma de suas propostas é aumentar a presença da Guarda Municipal nas ruas. De que forma pretende fazer isso? Vai ser através de concurso público? E em que áreas da cidade pretende intensificar a presença dos guardas?

A gente quer usar justamente os mapas de calor de ocorrências de crime para ajudar a fazer o patrulhamento, então a gente consegue fazer destacamento de guarnições. Isso é uma inteligência disponível, a Brigada Militar, inclusive, usa isso para os seus patrulhamentos. E a Guarda Municipal não substitui a Polícia Militar, ela complementa. A Guarda Municipal vai estar mais ativa no patrulhamento em parques, praças municipais. A gente já tem um efetivo hoje com veículo, com treinamento, com armamento. Inclusive com treinamento de abordagem para fazer esse patrulhamento. Basicamente, o que eu tô fazendo é, em vez de deixar aqueles profissionais parados ou mesmo dentro do escritório ou dentro do veículo, com que eles efetivem rondas. Isso não acresce muito na necessidade de investimento e nem de chamamento de efetivo, embora eu não tenha nenhum problema em fazer novos chamamentos de efetivo de guardas municipais, como foi feito recentemente até para que a gente tenha agentes com idade média mais baixa do que a idade atual, que tem mais condições de fazer esse enfrentamento de rua, especialmente para esses "pequenos crimes": assédio, pequenos furtos, furtos de fios, para dar a sensação de segurança que o policiamento ostensivo provoca. 

A gente vai ajudar a melhorar a segurança com o patrulhamento ostensivo que dê sensação de segurança, mas também usando inteligência para conseguir fazer com que a Brigada Militar, aí sim, possa fazer seu trabalho de abordagem, e a Polícia Civil também, de prender quem está cometendo crimes. E aí eu acredito também na integração da inteligência, conseguir fazer com que as câmeras de segurança e a nossa central de monitoramento do município possam estar integradas com a Secretaria de Segurança do Estado e a Brigada Militar. Acredito nessa relação de parceria como forma de fortalecer as ações. Hoje o que nós temos já é uma qualificação de câmeras, já teve mais nomeações de guardas.

Por exemplo, teve caso recente de assédio de mulheres correndo no parque (da Redenção), e aí teve um circuito de câmeras que não estava ativo. Câmeras que poderiam ter pegado essas imagens e daí se descobriu que não estavam operacionais. Nós queremos deixar tudo isso em operação e que, inclusive, a unidade da Guarda Municipal na Redenção possa estar em patrulhamento - lá tem um contêiner que não estava, aparentemente, em operação, pelo menos naquele momento não tinha guarnição em operação pelo que a gente pode observar pela própria cobertura da imprensa.

Entra e sai governo e se renovam promessas para reestruturar o transporte público em Porto Alegre, mas na prática isso não acontece. O senhor mesmo falou que há necessidade de transformar o transporte público, então quais são as medidas que o senhor pretende adotar para que haja, de fato, melhora do transporte público para os porto-alegrenses?

É um tema muito espinhoso, porque realmente tu tens contratos que foram feitos lá em 2014, manifestação, que engessam também essa relação, que a prefeitura às vezes tenta mudar, mas o parceiro privado ganhou a licitação, tem um prazo, ele pode simplesmente dizer que não interessa mudar os termos contratuais. Além disso, tem negociações que dependem do consórcio metropolitano. Eu acredito que Porto Alegre tem que ser protagonista na discussão de integração entre os modais e também entre os consórcios metropolitano e capital.Seria saudável para o transporte público de Porto Alegre que linhas metropolitanas pudessem ter um papel de pegar passageiros dentro de Porto Alegre, assim como o transporte público municipal pudesse pegar, muitas vezes, passageiros que estão em outras cidades.

A gente tem linhas que passam no mesmo lugar com ônibus vazios, porque são muitos ônibus passando nas mesmas linhas, com regras diferentes de quem pode pegar passageiro. Isso é ineficiente e custa caro, aumenta a tarifa e torna um transporte público ineficiente. Nós queremos otimizar essas rotas. E aí eu acredito que tem um ponto que interessa tanto para a empresa quanto para a prefeitura que é a modernização das linhas, ver o que realmente tem demanda, conseguir botar mais veículos na rua para ter mais recorrência e previsibilidade de horários, fazer com que o dinheiro que hoje a prefeitura paga como subsídio para as empresas para manter a tarifa baixa possa ter também uma bonificação para a empresa que cumpre o horário, que tem um veículo limpo, que o passageiro avalia e disse que está satisfeito com o transporte. E isso a EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação) pode nos ajudar. Os próprios agentes da EPTC podem fazer pesquisa de satisfação com os usuários e, na medida em que a empresa atingir metas de satisfação, consegue ser bonificada financeiramente pela prefeitura e isso alinha o interesse da empresa privada, que quer ganhar mais dinheiro, com o interesse do usuário que quer um transporte público de qualidade e pontual. 

Uma coisa que a gente pode melhorar também: a gente tem muita parada de ônibus que está sendo reformada, que está sendo qualificada, e tem muitas paradas que não estão no escopo de reformas. Nós queremos fazer revitalização nessas paradas de ônibus, para dar a iluminação, segurança, abrigo, para que as pessoas se sintam confortáveis de pegar o transporte. E achamos que também faltam informações dos itinerários e dos horários para dar mais previsibilidade para quem usa o sistema.

Qual a opinião do senhor sobre a tarifa zero, algo que é muito debatido quando se fala em transporte público?

Olha eu acho que por teoria é ótimo, difícil é ter quem pague, porque sempre envolve isso: quanto custa? O que eu vejo é que nem no mundo desenvolvido conseguiu se equalizar isso, porque se investe muito. Apenas cidades ricas conseguem bancar tarifa zero e, ainda assim, é um custo bastante alto. Eu acho que é super interessante do ponto de vista teórico tu incentivar as pessoas e conseguir botar um modal atrativo, com tarifa atrativa, especialmente se for tarifa zero. A questão é que Porto Alegre não tem dinheiro para bancar isso, então eu acho impraticável. Acho que quem promete tarifa zero está vendendo mentira. A gente não vai conseguir entregar. Agora o que eu acho que é razoável é dizer que “olha, nós vamos trabalhar para manter as tarifas atrativas para a pessoa poder deixar seu carro em casa e pegar o ônibus, para o transporte público ter a qualidade pra pessoa poder optar por ele”. A gente quer que tenha também o passageiro que voluntariamente escolha esse modal. E para isso ele (transporte público) precisa ter essa qualificação. 

Em agosto, mais de 3 mil crianças ainda aguardavam vagas em creches na educação municipal. Que medida o senhor propõe para reduzir essa fila, que é um problema crônico da cidade?

O que a gente viu foi o seguinte: a prefeitura ganhou mais recursos para educação e acabou optando por usá-los na compra de equipamentos que acabaram inclusive no escândalo de corrupção. Eu acho que os recursos deveriam ser melhor investidos, especialmente na educação básica, para acabar com essa fila de vagas em creche. Acredito que uma das formas de fazer isso é aumentando a remuneração paga por aluno na rede conveniada, fazendo com que a rede conveniada, que já responde pela maioria das vagas em creche no município, e que são instituições privadas, com ou sem fins lucrativos, que elas tenham atrativo financeiro para criar mais vagas. Muitos proprietários dessas creches dizem que não é interessante criar mais vagas, porque perdem dinheiro. Então o que a gente tá vendo é uma não resolução dessa fila. A gente precisa, então, aumentar o valor pago por aluno, qualificando esse ensino... A prefeitura lá atrás, na gestão do prefeito (Nelson) Marchezan (PSDB), fez uma medida que eu considerei muito acertada, que era ir aumentando a remuneração por vaga em creche na medida que tem qualificação da creche, que tem profissionais com capacitação, que a infraestrutura da escola melhora e assim vai aumentando o valor pago. Ou seja, existe uma contrapartida, portanto, que a creche investe no valor que é pago, ela ganha mais dinheiro na medida que ela se torna melhor. Eu acho que isso precisa ser retomado. E esse é um dos modelos que ajudaria a resolver esse problema de filas. 

Outro modelo interessante é o que já foi feito em São Paulo, por exemplo, onde você pega bairros e comunidades onde têm um déficit maior de vagas e consegue, através da locação de um imóvel por parte da prefeitura, fazer um convênio com uma creche conveniada, uma parceria, para que ela habite aquela casa alocada. Pega uma casa, prepara ela rapidamente para receber uma creche, e a creche conveniada abre uma nova operação ali com 50, 70 vagas, enfim, paga por aluno, mas rapidamente tu consegue abrir uma nova escola, muito mais rápido do que a prefeitura construir uma nova creche, fazer concurso e buscar professores. Esse é o modelo que São Paulo conseguiu fazer para resolver a sua fila que era de quase 100 mil vagas. Foram essas duas coisas: qualificando a remuneração por aluno e fazendo locação de imóveis e entregando para a  rede parceira. 

Porto Alegre ficou na penúltima colocação no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O que fazer para qualificar a aprendizagem e subir nesse ranking?

A gente precisa começar a ensinar mais português e matemática e medir se as crianças estão aprendendo. As nossas crianças saem da escola sem saber ler e interpretar um texto, sem saber as quatro operações matemáticas. E que futuro elas vão ter? Então me preocupa muito isso, porque Porto Alegre piorou nos rankings de educação. Mais uma vez, né, essa última gestão, acho que, talvez, tenha sido o maior calcanhar de aquiles da gestão Sebastião Melo (MDB) foi que a educação passou por diferentes gestores, teve até secretária presa e educação piorou.

A questão de a gente conseguir oferecer monitorias de reforço escolar, para focar no português e na matemática, é fundamental para pontuar melhor no Ideb e pra gente saber se as crianças estão aprendendo ou não. A gente precisa fazer medição de aprendizagem. Então tem que ter prova, tem que ter avaliação. De tempos em tempos, a prefeitura tem que avaliar se os alunos estão aprendendo conteúdos, sim ou não? Quais alunos estão aprendendo mais? Quais estão aprendendo menos? Que escolas estão se destacando na rede pública? Que escola está indo pior? O que a escola que está se destacando está fazendo direito para a gente pegar e replicar na escola que está indo pior? Está faltando professor? Vou ter que chamar professor. Está faltando monitor? Vamos botar o monitor.

Vamos chamar muitas vezes, inclusive, setor privado para ajudar nas monitorias, para conseguir avançar também em ensino  integral, que é algo que funciona. Cidades que avançaram na educação apostaram no ensino integral, nas monitorias e na medição de educação. Inclusive, fazendo com que o professor que não aparece para dar aula seja punido, porque a gente tem muitos relatos disso: de um professor que não aparece. A escola que muitas vezes acaba não cumprindo sua carga horária, muito atestado médico. Tem que ser um pouco mais rígido também, para a gente poder valorizar o bom professor e punir o mal, ou pelo menos fazer com que ele não esteja tendo um ganho indevido. Não está dando aula e ao mesmo tempo está sendo remunerado, né? Muitas vezes está fazendo política, está em greve, está na Câmara de Vereadores protestando em vez de estar na sala de aula... As crianças estão sendo prejudicadas. Então nós queremos ter uma postura mais altiva com relação à educação, para que, especialmente, com o foco no ensino do português e da matemática, que a gente melhore nossas notas.

Na pesquisa Quaest*, divulgada em 27 de agosto, 70% dos entrevistados responderam que não conhecem o senhor. Qual estratégia o senhor pretende adotar na campanha para reverter esse percentual?

É bastante rua, visitar as pessoas, fazer campanha nos bairros, especialmente em bairros em que o Novo e eu nunca estivemos fazendo campanha antes. O Novo naturalmente é um partido muito novo, é a primeira vez que eu me candidato à prefeitura. E mesmo assim, mesmo tendo dois mandatos como vereador, eu fui muito votado em regiões mais centrais da cidade.

Então nós temos o desafio, com a primeira candidatura à prefeitura de Porto Alegre, apresentar o partido e de me apresentar. É natural, acho que qualquer nome que o Novo colocasse nessa disputa - salvo, se fosse alguém já muito conhecido - qualquer dos nossos quadros teria o desafio de ser conhecido. E os meus adversários,  querendo ou não, estão na política há muito tempo: a Juliana Brizola, a Maria do Rosário, o Sebastião Melo. Inclusive esse meu grau de desconhecimento é talvez até um atributo indicativo de que “olha, será que apostando nos mesmos partidos, nessas mesmas caras,  nós vamos atingir resultados diferentes? Será que não tá na hora de mudar?”

A enchente chegou aqui e mostrou que esse sistema que nós temos hoje fracassou. No final das contas, quando as pessoas mais precisavam. Os serviços que vêm em troca do imposto pago são insuficientes e, na hora que mais importava, de salvar as pessoas, foi o povo pelo povo. Ou seja, se sentiram desamparadas do Estado.

O Novo já mostrou que onde governa faz a diferença mesmo sendo com candidatos desconhecidos. O exemplo de Joinville (SC) é muito ilustrativo. Lá, o Novo elegeu o seu primeiro prefeito, é a maior cidade de Santa Catarina, prefeito é o Adriano Silva, e vice a Regiane, uma chapa pura do Novo, nunca tinham disputado eleição. Começaram a disputa eleitoral com 1% (em 2020) e acabaram sendo eleitos. Hoje estão com 93% de aprovação e devem se reeleger em primeiro turno. Botaram gente qualificada nas secretarias, buscaram pessoas competentes para entregar melhores serviços, não fizeram mágica e nem fizeram politicagem.

Então o que o Novo traz para essa campanha é se a apresentar e dizer: "Olha se você está cansado das mesmas caras, dos velhos partidos, está na hora de tentar uma coisa diferente, uma coisa nova e que realmente quer botar as melhores pessoas nos cargos de decisão, para que ofereça os melhores serviços com a população. chega de pagar tanto imposto para ter pouco serviço em troca”.

Nas suas redes e no plano de governo, o senhor tem dito que não eleger o PT é o primeiro passo para garantir uma Porto Alegre melhor. Só que a última vez que o PT foi eleito em Porto Alegre foi em 2000, com Tarso Genro, desde então passaram prefeitos do PSDB, MDB e PDT. Esse ataque ao PT é uma tentativa de polarizar a eleição e atrair o voto do eleitor de direita que poderia ter como opção Sebastião Melo?

Tem dois pontos: primeiro, o Novo é um partido de direita e, nessa eleição, eu considero que só tem um candidato de direita na eleição. O Melo (MDB) é um político de centro, que já teve um passado inclusive mais vinculado à própria esquerda. O Melo teve a Juliana Brizola (PDT, candidata à prefeitura de Porto Alegre  nessas eleições) de vice na candidatura dele em 2016 e ele foi apoiado pela Manuela d'Ávila (PCdoB) naquela eleição. Felizmente, na eleição de 2020, ele tinha um liberal ao seu lado, o Ricardo Gomes, que é um excelente quadro e que ajudou trazer ele mais para centro-direita e não mais para centro-esquerda, mas ele é um político de centro.

Nós temos duas  representantes de esquerda: a Juliana Brizola, mais centro-esquerda, talvez, e a Maria do Rosário (PT), que é de esquerda. Portanto, o único candidato que está nos debates e que é de direita sou eu.

E o segundo ponto é que, bom, o que a gente teve nas administrações do PT, especialmente no (governo do) estado mais recentemente, né? O Tarso Genro que foi o governador e quebrou as contas do estado. Fez com que a educação piorasse, a segurança piorasse. A gente teve uma precarização da infraestrutura do estado por conta dessa irresponsabilidade fiscal. Lá na época da administração municipal do PT também, eu acredito que um dos grandes problemas da educação no município de Porto Alegre foi a herança deixada pelo PT na própria educação. E o PT fez por muito tempo uma educação pautada só em aumentar salário de professor e não em ver a aprendizagem.

E aí a gente tem hoje uma média salarial do professor que é a maior do Brasil na carga horária de 40 horas. O professor da rede pública municipal de Porto Alegre ganha, na carga horária de 40 horas semanais, cerca de R$ 10 mil, isso é muito maior do que o estado, muito maior do que outras cidades, é a maior das capitais. E aí a gente tem esse cenário um tanto anacrônico que é a capital que mais paga e que tem um dos piores resultados (no Ideb), né? Ou seja, é incompatível o tanto que se paga contando o que se entrega. E aqui eu não tô fazendo uma apologia que se pague mal professor, pelo contrário. Minha mãe é professora do estado aposentada. E eu acho que o professor tem que ser, sim, bem remunerado, só que o PT fez muita política do sindicato de fazer boa remuneração e esqueceu de aprendizagem. Eu acho que o PT faz muito esse populismo, essa demagogia, muitas vezes com as classes sindicais e esquece do resultado do serviço. Faz muita promessa e não traz depois o resultado. 

E quando eu falei por exemplo da segurança, né? Porque a Maria do Rosário foi ministra Direitos Humanos, no governo Dilma, e no período em que ela foi ministra de Direitos Humanos nós tivemos o maior acréscimo recente dos índices de insegurança no país. As taxas de assassinato foram a indicadores altíssimos tanto no Brasil quanto em Porto Alegre. Porque, querendo ou não, o PT traz a sua bagagem ideológica, é da sua crença partidária, o garantismo. De certa forma, trata tal o bandido como uma vítima da sociedade, de não ter uma pressão forte pelo choque de ordem, pelo policiamento ostensivo, tem muitos atritos entre o PT e a esquerda e as forças policiais. Tem toda aquela coisa da militância de dizer que a polícia tinha que ser desmilitarizada. Ou seja, existe no inconsciente popular essa ideia de que inclusive a Maria do Rosário é alguém que não é protagonista na segurança pública, alguém que tem experiência de gestão tão pouco, né? E a gente quis trabalhar um pouco disso, posicionar ideologicamente para o eleitor direita e ao mesmo tempo relembrar que ela foi uma péssima gestora.

*Metodologia da pesquisa Quaest: 900 eleitores foram entrevistados pelo instituto Quaest, entre os dias 24 e 26 de agosto de 2024. A pesquisa foi contratada pela RBS Participações S A / Televisão Gaúcha S.A. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais para mais ou para menos. Registro no TSE nº RS-09561/2024.

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