O último debate antes do primeiro turno das eleições municipais em Porto Alegre (RS) contou com apenas três candidatos. Juliana Brizola (PDT), Maria do Rosário (PT) e Sebastião Melo (MDB) participaram do encontro na noite desta quinta-feira (3). As enchentes que devastaram a capital gaúcha em maio dominaram as discussões entre os três participantes.
O debate com os candidatos em Porto Alegre teve quatro blocos. Em dois deles, os candidatos fizeram perguntas entre si com temas livres. Nos outros dois, de forma alternada, as perguntas foram direcionadas por temas prestabelecidos pela produção do debate.
As duas candidatas se revezaram em críticas ao atual prefeito Sebastião Melo na gestão da tragédia climática. Ao questionar Juliana Brizola sobre os estragos provocados pelas fortes chuvas no primeiro bloco, Maria do Rosário citou as chuvas do último final de semana, que fizeram com que áreas atingidas pelas cheias do Guaíba voltassem a ficar debaixo d’água.
“Choveu, mas o rio não voltou a subir. Foram os bueiros que começaram a jorrar água nas ruas. Falta manutenção no sistema. O prefeito não quis ouvir os técnicos e teve uma enorme dificuldade em se comunicar com a população. As pessoas não sabiam o que fazer durante as cheias”, afirmou a petista.
A candidata do PDT respondeu, dizendo que de toda a rede pluvial de Porto Alegre, “nem 20% foi recuperada depois das enchentes”. Segundo ela, a falta de um plano de ação de combate às cheias fez com que as chuvas recentes “alagassem 50% das áreas que já tinham sido inundadas em maio
Em sua oportunidade de perguntar, Sebastião Melo apontou a falta de ação de Maria do Rosário quando a petista governou Porto Alegre. “O que a senhora fez nos seus anos de governo? O que a senhora fez para proteger a cidade das cheias? Onde a senhora estava nas enchentes? Eu estava lá, já a senhora devia estar torcendo para que chovesse mais”, questionou.
Mesmo com temas prestabelecidos, discussão sobre as cheias voltou ao debate
No segundo bloco as perguntas eram sobre temas determinados previamente pela organização do debate, e ainda assim as cheias voltaram a ser assunto entre os candidatos. Na discussão sobre geração de emprego e renda, Sebastião Melo criticou as gestões do PT alegando que onde o partido governa “incha a máquina pública e aumenta o imposto”.
Em resposta, Maria do Rosário disse que não há como gerar emprego e renda em Porto Alegre sem um cuidado direto com a proteção contra enchentes. “Não dá para gerar emprego se os empreendedores não tiverem a garantia de que [Porto Alegre] não vai alagar de novo. O senhor precisa trabalhar na limpeza da rede de esgoto e saneamento. Mais de 45 mil CNPJ foram atingidos”, pontuou.
A petista perguntou a Juliana Brizola qual seria o plano dela para prevenir tragédias climáticas. Em resposta, a candidata do PDT retomou a abordagem de Maria do Rosário e disse que “Porto Alegre é uma cidade onde as pessoas têm medo de retomarem seus negócios”. Ela citou a falta de manutenção nos sistemas de contenção das águas do Rio Guaíba e afirmou que em seu plano de governo este é o tema mais urgente.
Habitação e saúde apareceram no terceiro bloco do debate em Porto Alegre
No terceiro bloco, de volta às perguntas com tema livre, Juliana Brizola questionou Sebastião Melo sobre a responsabilidade do prefeito nos estragos das enchentes. “O senhor coloca a culpa no governo estadual, no governo federal, até em São Pedro”, disse. Reclamando dos ataques recebidos das opositoras, Melo disse que as duas “são água da mesma vertente, farinha do mesmo saco”. O candidato à reeleição reconheceu que a contenção das cheias foi insuficiente e destacou que “todo o esforço possível está sendo feito para repor o sistema”.
Em um dos poucos momentos em que o debate se desviou das cheias, Maria do Rosário questionou o prefeito sobre a fila na saúde pública municipal. Segundo a petista, seriam 160 mil pacientes aguardando algum tipo de atendimento. Melo rebateu, dizendo que a candidata, que é deputada federal, poderia ajudar a acabar com a fila da saúde. “A primeira coisa que a senhora precisa fazer é mudar a tabela do SUS, que é insuficiente. São 200 municípios de toda a região atendidos pela prefeitura de Porto Alegre. De 700 mil prontuários passamos para mais de 1 milhão”, retrucou.
No fim do bloco, Melo questionou a candidata do PT sobre um alegado apoio da petista à invasão de um prédio localizado em área próxima ao Mercado Público de Porto Alegre. Ela respondeu voltando ao tema das enchentes ao dizer que há um déficit habitacional na cidade provocado pelos alagamentos.
“O governo federal já contratou mais de 3 mil unidades de moradia para quem perdeu as casas na chuva. O senhor quer criminalizar essa situação, mas esse prédio é voltado à moradia, e será adaptado pelo governo federal com recursos do programa Minha Casa Minha Vida”, respondeu.
Ao fim do debate, candidatos de Porto Alegre falam sobre educação e saúde
A educação em Porto Alegre esteve presente no quarto e último bloco do debate. Rosário questionou Melo sobre o fraco desempenho da capital gaúcha no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). “Essa gestão teve quatro secretários da Educação, e ficou em penúltimo lugar [no índice]”, comentou. O prefeito mais uma vez reconheceu que há problemas na gestão e atacou a petista, dizendo que quando ela governava Porto Alegre “os alunos eram aprovados sem saber ler nem escrever”.
A candidata do PT disse que, se for eleita, a prefeitura vai fornecer uniformes para os estudantes da rede municipal. Ela ainda criticou a proposta de parcerias feito por Melo com o setor privado. Em resposta, o candidato do MDB afirmou que a medida representa um ganho para o setor. “Essa rede de parceiros tem um trabalho comunitário extraordinário. Eu defendo essa parceria sim, porque diretor tem que cuidar da pedagogia da escola, e não se preocupar em consertar as goteiras do telhado”, comentou.
Na última pergunta do debate, Juliana Brizola questionou Maria do Rosário sobre as propostas para a saúde pública em Porto Alegre. A petista disse que vai reforçar as parcerias com o Ministério da Saúde e implantar uma rede de policlínicas na capital gaúcha. “É possível implantar essa rede e articular toda a saúde no SUS. Vamos manter os convênios que há nas Unidades Básicas de Saúde, não vamos demitir ninguém, e sim ampliar a atenção básica em consultas especializadas. Precisamos ser mais rápidos no diagnóstico de doenças graves como o câncer”, apontou.
Em resposta, a candidata do PDT disse que falta responsabilidade fiscal a Maria do Rosário. “Se fosse fazer tudo o que tu promete, ia precisar dobrar o orçamento. Tudo no teu plano está vinculado ao governo federal, ao teu presidente”, criticou.
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