Faltando três meses para a oficialização dos candidatos na eleição de 2024, o momento em Porto Alegre (RS) é de análise do cenário e muita movimentação dos partidos em busca de apoio, com ao menos seis frentes se organizando para concorrer à prefeitura. A cidade vive uma espécie de “turno zero”, com a disputa pela configuração do tabuleiro eleitoral, como define o cientista político e consultor de marketing eleitoral Juliano Corbellini.
De um lado, Sebastião Melo (MDB), atual prefeito, tentará a reeleição e conquistou o apoio de PL, Republicanos e Solidariedade. No entanto, a chapa que até meio de março estava completa agora carece de vice. Ricardo Gomes, eleito com Melo em 2020 para comandar a prefeitura, anunciou a saída do PL após o partido nomear nova comissão executiva em Porto Alegre e, com isso, não disputará o pleito como vice de Melo. A vaga para o cargo está em aberto. O novo presidente da sigla, deputado federal Luciano Zucco, disse que o partido ainda não definiu quem entrará na disputa. Nos bastidores, fala-se na possibilidade de o PL indicar uma mulher para o cargo.
Já a oposição tem como pré-candidata à prefeitura a deputada federal Maria do Rosário (PT). O Partido dos Trabalhadores está federado com PCdoB e PV, que estão juntos na frente de esquerda, e recebeu o apoio do Psol, que “pela primeira vez, abriu mão da candidatura própria” e indiciou como vice Tamyres Filgueira, diz o presidente da sigla em Porto Alegre, Roberto Robaina.
O PSDB, por sua vez, ainda busca uma candidatura própria, mas teve planos frustrados após a deputada estadual Nadine Anflor decidir não concorrer à prefeitura. “O cenário atual indica que precisamos ter uma candidatura nossa. E estamos trabalhando exclusivamente nesse sentido”, diz Moisés Barboza, presidente do PSDB em Porto Alegre. No entanto, o partido está federado com o Cidadania, que quer apoiar a reeleição de Melo já no primeiro turno. “A executiva do Cidadania somente admite a hipótese de não estar com o Melo se a candidata da federação for a deputada (federal) Any Ortiz”, afirma Rodrigo Karan, presidente do partido na capital gaúcha.
Uma possível candidatura própria do PSDB/Cidadania é vista por especialistas como uma terceira via capaz de despolarizar, pelo menos um pouco, o pleito. Movimento que PSB, PDT, União Brasil e Avante também tentam fazer. As siglas se uniram e querem lançar uma chapa mais ao centro. No momento, há dois pré-candidatos à prefeitura: Juliana Brizola (PDT) e Thiago Duarte (União). Mas o presidente do PDT em Porto Alegre, José Vecchio, diz que a frente “não se debruça em nomes, mas no estudo de um projeto. Oportunamente se chegará a uma chapa de consenso que possa levar o projeto adiante”.
Pelo PSD, a pré-candidata é a vereadora Cláudia Araújo. E o Novo lançará pela primeira vez um candidato à prefeitura de Porto Alegre, Felipe Camozzato. O vice ainda não foi definido e, segundo o presidente da sigla, Carlos Molinari, pode ser alguém do próprio partido, mas há conversas com outras siglas para ampliar a base.
Debate na eleição em Porto Alegre irá de estragos da chuva à polarização
O primeiro ponto da eleição em Porto Alegre, segundo especialistas, será a avaliação do atual prefeito Sebastião Melo. Professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rodrigo Stumpf González entende que a gestão atual ficou “um pouco prejudicada” por causa das tempestades e “lentidão da prefeitura em dar respostas, como limpar as ruas e tirar árvores”. Em janeiro, um forte temporal provocou diversos estragos na cidade.
A tendência é de que o debate se concentre nos temas locais. A oposição deve explorar a necessidade de melhora no transporte público, em obras que não foram feitas ou que estão atrasadas, no sistema de saúde municipal e suas limitações, pontua González. Enquanto Melo apostará, em seu discurso, na abertura de vagas em creches e em postos de saúde e na campanha de asfaltamento que tem realizado na cidade.
Além do foco na agenda municipal, Corbellini aponta ainda que o ambiente nacional, de polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), estará presente nas campanhas e nos debates eleitorais. Mas pondera: “Cria um ambiente, mas não determina a eleição”.
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