O cenário eleitoral de Porto Alegre (RS) ficou ainda mais incerto após as enchentes que invadiram a cidade e deixaram bairros embaixo d’água no mês de maio. Segundo especialistas, é possível que a esfera política caminhe para mudanças de apoios, esvaziamento da pré-candidatura à reeleição do atual prefeito Sebastião Melo (MDB), fortalecimento de outros candidatos e até nova opção para o eleitorado após movimentos do governador Eduardo Leite (PSDB).
Avaliar o impacto das enchentes na votação ainda é prematuro, considera o professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Rodrigo Stumpf González. Ele admite que Melo ficou desgastado com a reação da prefeitura às cheias mesmo com a estratégia do prefeito de tentar distribuir as responsabilidades com o governo do Estado e a União.
“A imagem dele ficou um pouco arranhada e isso não significa necessariamente facilitação da vitória da esquerda, mas talvez possa levar ao esvaziamento da candidatura dele com aliados que podem preferir outro candidato”, pondera González. A pré-candidatura do prefeito tem apoio do PL - que deve indicar uma mulher como vice da chapa, além de PP, Podemos, PRD e SD.
A redução da força eleitoral de Melo após as enchentes também é apontada pelo cientista político e consultor de marketing eleitoral Juliano Corbellini: “Há três ou quatro meses, não havia dúvidas de que ele (Melo) estava com o favoritismo e isso ele não tem mais”. Pesquisa eleitoral da Atlas Intel* divulgada após a crise da capital gaúcha, apontam que a pré-candidata do PT, Maria do Rosário, ficaria à frente de Melo no primeiro turno, mas o atual prefeito venceria no segundo turno.
Em uma tentativa de fortalecer a candidatura, Maria do Rosário tem feito rodas de conversas em bairros de Porto Alegre e também com ex-prefeitos. No último dia 9, publicou trechos de um diálogo com José Fortunati, que comandou Porto Alegre entre 2010 e 2016. A estratégia da campanha da pré-candidata deve ser o debate sobre a cidade - sem polarizar e nacionalizar as discussões.
Corbellini aponta, ainda, “duas peças” que, após esse período de crise, podem influenciar o cenário eleitoral: Nelson Marchezan Júnior (PSDB) e Juliana Brizola (PDT). Marchezan recebeu o apelo do governador Eduardo Leite (PSDB) para ser candidato no pleito de outubro. A possível entrada do ex-prefeito da cidade (2017-2020) na disputa eleitoral pode dividir os votos da direita. Em 2020, ele foi candidato à reeleição e ficou em terceiro lugar com 20,07% dos votos.
No entanto, o PSDB está federado com o Cidadania, que lançou Any Ortiz como pré-candidata. “O Cidadania já firmou posicionamento de que se não houver a possibilidade da Any Ortiz, o partido entende que não se deve colocar candidatura e, sim, apoiar o Melo”, diz o presidente da sigla em Porto Alegre, Rodrigo Karan.
Já em relação à pré-candidata Juliana Brizola, Corbellini afirma que se o partido conseguir o apoio do União Brasil, com uma possível indicação de Thiago Duarte (União Brasil) como vice, Juliana Brizola “muda o tamanho na eleição”. González diz, ainda, que ela pode se apresentar como uma alternativa de centro e centro-direita, atraindo votos de Melo e também de Maria do Rosário.
Segundo o presidente municipal do PDT, José Vecchio, o partido mantém as conversas para uma aliança com o União. “Há disposição para nos aliarmos, mas ainda há um longo caminho a ser seguido até fechar uma coligação”. No entanto, Duarte, que é presidente municipal do União Brasil, disse que segue firme como pré-candidato ao Paço Municipal.
Outro nome que despontou no cenário eleitoral, no momento pós-enchente, foi o do deputado estadual Felipe Camozzato (Novo). Na pesquisa Atlas Intel, divulgada em 20 de junho, ele aparece com 9,1% das intenções de voto em um dos contextos analisados pelo levantamento. “Agora é construir uma chapa competitiva”, diz Camozzato, que é o primeiro pré-candidato do Novo à prefeitura de Porto Alegre. Ele está conversando com partidos e lideranças para fortalecer a candidatura, inclusive com siglas que, atualmente, apoiam Melo.
A pré-candidata do PSTU nas eleições de Porto Alegre, Fabiana Sanguiné, deve intensificar as críticas que vinha fazendo à gestão Melo. Além disso, deve se posicionar, na campanha, contra a concessão do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) à iniciativa privada. Fabiana, que é servidora pública, lançou manifesto nesse sentido.
Por sua vez, a vereadora Cláudia Araújo, que é presidente municipal do PSD e também pré-candidata à prefeitura de Porto Alegre nas eleições 2024, entende que, em relação à enchente, é necessário considerar que o sistema de contenção vem desde 1960 e “nenhum governo investiu em manutenção ou reconstrução”. Ela admite, ainda, a possibilidade de entrar para uma chapa como vice, “podendo inclusive fechar apoio a uma majoritária e concorrer à reeleição de vereadora”.
*Metodologia da pesquisa mencionada: a pesquisa AtlasIntel/CNN foi realizada entre os dias 9 e 14 de junho e entrevistou 1.798 eleitores. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança, de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral sob o número RS-09253/2024.
Eleições em Porto Alegre devem ser menos polarizadas e focadas em questões da cidade
As enchentes, provavelmente, serão protagonistas da campanha eleitoral, e os candidatos terão que apresentar propostas contundentes de prevenção de cheias - ainda em julho moradores sofrem com as consequências das fortes chuvas, principalmente com lixos acumulados nas ruas.
Com foco maior no tema, a tendência é de que haja uma despolarização nas eleições em Porto Alegre. “As eleições anteriores foram polarizadas em torno de debate de costumes e isso talvez seja esvaziado por uma questão típica de infraestrutura que é como proteger a cidade das cheias, que vai cair no colo dos candidatos”, diz o professor de Ciência Política da UFRGS Rodrigo Stumpf González.
O cientista político Juliano Corbellini ressalta que, apesar da relevância da enchente no debate em Porto Alegre, as eleições não serão um “plebiscito só sobre isso e (o assunto) não vai apagar a questão de avaliação administrativa e de questões da cidade”. González cita, como exemplo, problemas no transporte público e o encolhimento da cidade: “Nos últimos anos, Porto Alegre tem perdido população e crescimento econômico para municípios do entorno e essas são questões que vão ser tomadas”.
Outro assunto que deve permear a campanha eleitoral são as irregularidades na Secretaria Municipal de Educação (Smed). A Polícia Civil fez uma operação, chamada Capa Dura, para investigar a suspeita de fraude licitatória e associação criminosa na prefeitura. A ação, desencadeada em janeiro de 2024, prendeu quatro pessoas.
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