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Aliança Eduardo Paes e Lula
Aceno à direita com apoio de deputado conservador e chapa pura do PSD ameaçam aliança Paes-Lula| Foto: EFE/André Coelho

A desistência do deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) da corrida eleitoral do Rio de Janeiro e o apoio declarado ao atual prefeito Eduardo Paes (PSD-RJ) deve acentuar a crise entre o pré-candidato à reeleição e o Partido dos Trabalhadores (PT), que almejava a vaga de vice na eleição à prefeitura carioca, mas sofre com a resistência da sigla comandada nacionalmente por Gilberto Kassab (PSD-SP).

Além disso, a aliança entre Paes e Otoni evidencia o racha no MDB, principalmente pelo apoio dos evangélicos no Rio. A sigla teria indicado o nome da ex-deputada Rosane Félix para ocupar o posto de candidata à vice na chapa encabeçada por Alexandre Ramagem (PL-RJ), aliança defendida pelo presidente estadual do MDB, Washington Reis. Ramagem foi diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ).

Pastor evangélico da Assembleia de Deus e deputado conservador, Otoni de Paula foi criticado pela direita por causa do apoio ao prefeito Eduardo Paes, mas justificou que não encontrou espaço na coligação com o PL e reclamou da falta de interlocução com o bolsonarismo no Rio.

No plenário da Câmara dos Deputados, Otoni respondeu ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) após o filho do ex-presidente afirmar que o parlamentar teria que se explicar à igreja pelo apoio ao prefeito do Rio, aliado de Lula. “Eu te respeito muito, mas eu não estou em pecado. Não neguei o nome de Jesus. Estou apoiando alguém que simplesmente me celebrou. Estou há um mês atrás dos senhores, pedindo uma saída honrosa do pleito, já que rifaram minha pré-candidatura no Rio de Janeiro. Senador, eu aprendi que tenho que estar onde sou celebrado e não tolerado”, declarou.

Segundo Otoni, a principal condição para apoiar Paes foi o veto ao PT na indicação ao nome do vice-prefeito na disputa pela reeleição. “Devido a minha posição de declarar apoio ao atual prefeito Eduardo Paes, que gentilmente resolveu aceitar as nossas críticas para caminharmos juntos, o PT não será vice do Paes no Rio de Janeiro, que está livre disso. Nós não teremos um vice do PT porque o Otoni foi para lá. Eu fui para lá como direita conservadora e disse que só faria isso se não tivesse alguém do PT [na chapa]”, afirmou o deputado.

Procurados pela Gazeta do Povo, o MDB do Rio e o deputado Otoni de Paula não responderam aos pedidos de entrevistas até a publicação desta reportagem.

Otoni de Paula é pastor e radialista
Otoni de Paula deixou a pré-candidatura à prefeitura do Rio pelo MDB.| Mário Agra/Câmara dos Deputados

A vaga de vice é disputada pelo PT em troca do apoio de Lula à reeleição de Paes. No entanto, o PSD pretende lançar uma chapa pura, pois o atual prefeito carioca deve disputar o governo do estado em 2026, deixando a administração nas mãos da própria sigla. O favorito para compor a chapa ao lado de Paes é o deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ).

Pelas redes sociais, Kassab classificou como “prematuro” o debate sobre a disputa pelo governo do Rio, mas confirmou que Paes pode ser uma alternativa. “Por isso, é muito importante Eduardo discutir com profundidade a questão do nome que vai ser indicado para seu companheiro de chapa, como candidato a vice-prefeito. Precisará ser alguém conhecedor e comprometido com o projeto que será apresentado aos cariocas nesta campanha de 2024”, afirmou o presidente nacional do PSD.

Em junho, o PT confirmou que colocou dois nomes à disposição de Paes para indicação do candidato a vice-prefeito: André Ceciliano, ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e secretário de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República; e o de Adilson Pires, vice-prefeito no segundo mandato de Paes (2013-2016).

“No estado do Rio de Janeiro, berço político da família Bolsonaro, temos uma responsabilidade ainda maior, que vai além do aspecto simbólico de vencermos na capital, o estado é decisivo para a disputa nacional, devendo o PT articular uma frente progressista capaz de melhorar a correlação de forças no estado e que sobretudo possa eleger prefeitos alinhados com o governo Lula”, diz a nota do PT-RJ. 

No entanto, a pesquisa Quaest divulgada na última semana acendeu o sinal de alerta do PSD. Apesar de o levantamento apontar para reeleição no primeiro turno, o cenário muda na pesquisa estimulada com o apoio de Lula. A oscilação de Paes foi de quatro pontos, caindo de 51% para 47%. Ou seja, a aliança com o deputado Otoni de Paula é vista como estratégica para interlocução de Paes junto ao eleitorado evangélico, mais alinhado com a direita nas últimas eleições no país.

Do outro lado, Ramagem pulou de 11% para 29% das intenções de votos com a indicação como pré-candidato do ex-presidente da República. Sem o apoio de Bolsonaro, Ramagem fica tecnicamente empatado com Tarcísio Motta (Psol-RJ), que teve 8% das intenções de votos. Os pré-candidatos Rodrigo Amorim (União-RJ) e Marcelo Queiroz (PP-RJ) possuem 4% e 2% da preferência dos entrevistados, respectivamente.

Procurada pela Gazeta do Povo, a assessoria de imprensa do pré-candidato à reeleição informou que Paes deve conceder entrevistas sobre a eleição para a prefeitura do Rio apenas após o início oficial da campanha. A assessoria do deputado Ramagem também não respondeu ao pedido de entrevista.

Metodologia: 1.145 entrevistados pessoalmente pelo Quaest Consultoria e Pesquisa entre os dias 13 e 16 de junho de 2024. A pesquisa foi contratada pela Sociedade Anônima Rádio Tupi. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº RJ-04459/2024.

Pré-candidato do Psol abre as portas para o PT após aceno de Paes à direita

Pré-candidato do Psol, o deputado federal Tarcísio Motta avalia que aproximação de Eduardo Paes ao parlamentar conservador Otoni de Paula sinaliza para uma campanha “à direita bolsonarista” e dificulta a adesão da militância petista e de esquerda ao pré-candidato à reeleição pelo PSD.

“Nossa candidatura segue aberta a receber essa militância. Somos uma candidatura de esquerda, da base de apoio do governo Lula e aberta para o apoio de PT-PV-PCdoB, caso a Federação mude de ideia a respeito da aliança com o Eduardo Paes”, disse em entrevista à Gazeta do Povo.

Na última semana, Motta se reuniu com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que evidenciou que existe uma aliança com Paes, alinhamento reforçado durante o processo eleitoral de 2022, que terminou com a vitória de Lula. Mesmo sem o apoio oficial, segundo o deputado, ela se comprometeu a tratar a candidatura do Psol como aliada. “Isso significa que eles vão ter que tratar com mais tranquilidade, quem resolver pular o muro para estar na nossa candidatura”, comentou. “A conversa foi nesse sentido para não haver sanções [contra petistas] para quem pular o muro que está baixo”, acrescentou.

Mesmo sem tempo de televisão e outros benefícios de uma coligação formal, o apoio de petistas dissidentes da chapa de Paes gera uma aliança política, que pode ter resultado nas urnas. “Constrói um polo de esquerda na cidade com o Psol, que é o maior partido de esquerda do Rio de Janeiro, para aglutinar a militância e construir um projeto de governo”, avalia Motta.

Oposição quer expor aliança entre Paes e Lula durante campanha

Se o apoio do PT à reeleição for mantido, o elo histórico entre o presidente Lula e o prefeito do Rio deve ser explorado pelos candidatos de oposição durante a campanha para o quarto mandato de Paes no comando do Executivo carioca. 

Pré-candidato pelo União Brasil, o deputado estadual Rodrigo Amorim afirma que o objetivo da campanha será debater a cidade e isolar o prefeito do Rio, a quem denomina como “soldado de Lula”, em referência aos grampos durante as investigações da Lava Jato. Em 2016, o ex-juiz federal Sergio Moro - hoje senador pelo União Brasil do Paraná - levantou o sigilo das gravações de Lula. Em uma das ligações, Paes critica o Ministério Público Federal (MPF) sobre o caso do sítio em Atibaia e declara apoio ao petista. “Aqui o senhor tem um soldado”.

“No segundo turno, a frente de centro-direita estará certamente unida, apoiando quem quer que seja. O deputado federal Delegado Ramagem é um excelente candidato, e uma pessoa que merece todo o respeito. Mas no primeiro turno é urgente a necessidade de expor a aliança Lula-Paes no Rio”, disse o pré-candidato em entrevista à Gazeta do Povo.

Amorim afirmou que deve manter a candidatura com o apoio do presidente estadual do União Brasil, Rodrigo Bacellar, que também ocupa a presidência da Alerj. “Já temos na coligação o PMN, que é o partido do meu vice, deputado estadual Fred Pacheco. Isso mostra a capacidade de diálogo político do presidente Bacellar. Acredito em somar mais forças até o dia da convenção.”

Pré-candidato do PP defende gestão no estilo “síndico de prédio”

Em entrevista à Gazeta do Povo, o pré-candidato a prefeito do Rio Marcelo Queiroz (PP) disse que a campanha dele vai representar o “centro, longe dos extremos”. Segundo ele, “o carioca está cansado disso [da polarização], que gera briga familiares e distorce a política”. O deputado federal considera que a eleição no Rio terá “dois candidatos de direita e dois de esquerda”.

De acordo com ele, a estratégia é focar a campanha em um perfil de administração no estilo “síndico de prédio” voltado para as entregas na cidade e melhorias locais, em contraponto à campanha de Eduardo Paes, classificado pelo deputado do PP como um “player nacional”, ao se referir ao projeto do prefeito de disputar o governo do estado em 2026.

Questionado sobre as convenções partidárias, Queiroz revela que busca o apoio da Federação PSDB-Cidadania. “A gente entende que a Federação tem uma configuração nem Lula e nem Bolsonaro, o que faz sentido para uma coligação”, respondeu.

   

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