A eleição municipal no Rio de Janeiro traz à tona um cenário político marcado pela reaproximação de antigos adversários. Eduardo Paes, atual prefeito e candidato à reeleição pelo PSD, tem contado com apoios inesperados, como o de Marcelo Freixo, ex-deputado federal e ex-candidato a prefeito pelo Psol, que agora integra o PT e preside a Embratur.
Freixo, outrora um crítico fervoroso de Paes, declarou em entrevista ao jornal O Globo seu apoio à reeleição do prefeito, defendendo uma vitória já no primeiro turno. Segundo o ex-deputado, a candidatura do atual gestor carioca pode garantir um palanque forte para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Rio, especialmente em 2026, ano em que Paes é visto por ele como um potencial candidato ao governo do estado.
“Em 2012, quando concorri contra ele, o Eduardo representava a direita. Hoje há outra configuração política no país e no Rio. A extrema direita e a direita estão fora do projeto do Eduardo. A candidatura dele, hoje, configura o campo democrático. O que vai derrotar a extrema direita no Brasil não é a esquerda, é essa aliança do campo democrático”, disse Freixo durante a entrevista.
O estreitamento entre Paes e Freixo não é novo. Em novembro do ano passado, o presidente da Embratur era cotado pelo Partido dos Trabalhadores como uma opção para a vice-prefeitura na chapa. O objetivo da sigla era contar com a prefeitura em uma eventual eleição de Paes para o governo do estado. No entanto, as negociações não avançaram e o PSD decidiu formar uma chapa “puro-sangue”.
Aproximação com Republicanos visa eleitorado evangélico
A aproximação de Paes com o antigo adversário segue na esteira do gesto feito ao partido Republicanos, especialmente com Marcelo Crivella, ex-prefeito do Rio e adversário de Paes na última eleição. Paes participou recentemente de um evento no Templo de Salomão, liderado pelo bispo Edir Macedo, o que pode sinalizar uma tentativa de angariar apoio de um segmento crucial do eleitorado carioca.
No entanto, essa aproximação pode causar desconforto, considerando que Paes conta com o apoio de Lula e se alinha a pautas progressistas que frequentemente entram em choque com as posições conservadoras defendidas pelos evangélicos, como questões relativas ao aborto e à legalização das drogas. O desafio para Paes será equilibrar esses interesses divergentes sem alienar uma parte significativa de seu eleitorado.
Estratégia do PL será ligar Eduardo Paes a Lula
Com o vínculo entre Eduardo Paes e a esquerda, o Partido Liberal, representado por Alexandre Ramagem no pleito municipal, investirá sua estratégia em relacionar a imagem do atual prefeito com o governo petista. A expectativa é que Paes seja prejudicado ao ser visto como aliado de Lula.
O raciocínio é oriundo de uma pesquisa realizada pelo instituto Quaest*, publicada em julho, que mostrou que os apoios de Lula e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) possuem influência no comportamento eleitoral. No caso de Paes, o prefeito cai de 52% para 46% quando recebe apoio do petista. Já Ramagem sobe de 14% para 30% quando é apoiado por Bolsonaro.
O deputado estadual Rodrigo Amorim (União), que também é candidato à prefeitura do Rio, adotou o mesmo posicionamento do PL. No primeiro debate entre os candidatos do Rio, realizado pelo Grupo Bandeirantes em 8 de agosto, o parlamentar chegou a dizer que Eduardo Paes era “soldado de Lula”.
O apelido faz referência a uma declaração feita pelo prefeito em 2016 a Lula. Na época, Paes ligou para o petista dias depois da operação Aletheia para demonstrar seu apoio ao ex-presidente. A ação da Polícia Federal investigou crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no esquema criminoso relacionado à Petrobras. “Aqui o senhor tem um soldado. Estou aqui administrando as minhas crises também. Segurando o Pezãozinho. Eu sempre tenho que falar uma coisa pro senhor: a minha vida começou com Lula e Cabral. Terminou com Dilma e Pezão”, disse Paes na época.
Ex-aliado de Freixo aponta abandono ao apoiar Paes
Sendo ex-correligionário de Freixo, o deputado federal Tarcísio Motta (Psol), também candidato à prefeitura do Rio, disse que o ex-colega o “abandonou” ao apoiar Paes em vez da candidatura dele. O parlamentar buscava o apoio do presidente da Embratur para sua campanha.
"Ele faz uma avaliação de que não ganhou as eleições porque estava na esquerda, mas a França está aí para mostrar que a melhor forma de vencer a direita é ter um programa de esquerda", disse Tarcísio em entrevista à Folha de São Paulo no último dia 15.
Não é a primeira vez que o deputado alfineta o ex-colega pela decisão. Em maio, quando a decisão de Freixo ainda estava sendo especulada, Motta afirmou que, se isso se confirmasse, seria uma “contradição” para a história política do ex-deputado. “Se fizer isso, vai ter que explicar a contradição que pode significar para muitos de seus eleitores. Paes é um grande oportunista político, muda de posição conforme o vento. Apoiou o golpe contra Dilma (Rousseff) em 2016 e só foi de Lula no primeiro turno de 2022 quando muitas pesquisas apontavam que ele poderia ganhar ainda no primeiro turno”, disse Tarcísio em entrevista ao Globo.
*Metodologia da pesquisa Quaest mencionada: 1.104 pessoas foram entrevistadas pela Quaest entre os dias 19 e 22 de julho de 2024. A pesquisa foi contratada pela Sociedade Anônima Rádio Tupi. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais para mais ou para menos. Registro no TSE nº RJ-03444/2024.
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas