Eduardo Paes se reelege para 4º mandato como prefeito do Rio de Janeiro e pode almejar voos mais altos em 2026| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República
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O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), foi reeleito neste domingo (6) com 60,47% ou 1.861.856 votos, de acordo com dados do TSE. O candidato do PL, Alexandre Ramagem, obteve 30,81% (948.631 votos) e Tarcísio Motta, do Psol, foi o terceiro mais votado com 4,2% (129.344 votos).

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Quando assumir o quarto mandato à frente da prefeitura do Rio de Janeiro, feito inédito na cidade, Paes se tornará o prefeito com mais tempo à frente do cargo. Ele ultrapassará seu padrinho político, o ex-prefeito César Maia, que desempenhou a função por três mandatos.

Paulo Kramer, professor aposentado de Ciência Política da Universidade de Brasília, afirma que “a vitória de Eduardo Paes é o triunfo da esperteza rasteira que transformou o Rio de Janeiro na ex-Cidade Maravilhosa: promiscuidade nas relações de poder entre políticos e crime organizado; populismo rastaquera; e exaltação da malandragem como caminho para subir na vida, em contraposição ao mérito do trabalho e do estudo sérios e conscienciosos”.

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O cientista político Valdir Pucci avalia que a vitória de Paes é uma demonstração de sua força política no estado. “Hoje o Eduardo Paes é a grande liderança política do estado do Rio de Janeiro pela sua história e pela sua trajetória de vitórias eleitorais”. Pucci avalia que, ainda que o Rio esteja “longe, muito longe” de ser uma cidade consolidada, segura, com boa qualidade de vida, as entregas que o prefeito tem feito garantem a ele seu capital político.

Proximidade de Paes com o PT vem dos primeiros mandatos

Paes administrou o município de 2009 a 2012, e de 2013 a 2016, ou seja, durante o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e das duas gestões da sucessora petista, Dilma Rousseff (PT). Em seu terceiro mandato, ele está no comando do Rio de Janeiro desde janeiro de 2021.

A proximidade com o PT desde a era dos Grandes Eventos – Paes estava à frente do comando da cidade durante a Copa do Mundo da Fifa 2014 e os Jogos Olímpicos Rio 2016 - se repetiu nessas eleições: o prefeito contou com o apoio do Planalto. Ao ser reeleito, dedicou a vitória ao presidente: “Quero dedicar essa vitória a Lula”.

O PT até tentou emplacar um aliado como vice na chapa de Eduardo Paes. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã da vereadora Marielle Franco, assassinada na capital em 2018, foi veiculada como uma possível indicação do presidente. 

Quero dedicar essa vitória a Lula.

Prefeito reeleito no Rio de Janeiro, Eduardo Paes
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No entanto, Paes decidiu por um nome de seu próprio partido, o então deputado estadual e ex-secretário da Casa Civil do município Eduardo Cavaliere (PSD). Caso venha a concorrer ao governo do estado, em 2026, em um possível desdobramento de sua carreira política, a prefeitura da capital permanece com um nome de sua legenda e diretamente vinculado a ele.

Paes afirma que vitória indica fim da polarização, mas pode ser sinalização sobre seu futuro político

Logo após a reeleição, durante uma entrevista, Paes afirmou que a pluralidade da coligação que o acompanhou, com partidos como PT, PDT e PSB foi fundamental para a vitória. “Essa eleição é sobre aquilo que a gente deseja para o Brasil. Chegou a hora de acabar com essa polarização, essa briga de um contra o outro como se fôssemos inimigos, e não somos. Dá para se juntar independente da visão de mundo. Aqui tem gente de direita, gente de esquerda, gente progressista, conservadora. Essa é uma mensagem para o Brasil. Queria agradecer muito ao presidente Lula, supercompanheiro, ajuda a gente há muito tempo. Nós cariocas reconhecemos o carinho pela nossa cidade”, disse Paes.

De acordo com Luiz Filipe Freitas, cientista político e consultor do escritório Malta Advogados, o carisma e a capacidade que Paes tem de dialogar com distintos espectros políticos criam a base para a ampla coligação que contribuiu para a vitória do prefeito. Esses mesmos aspectos fazem com que possa ter “pretensões grandes”.

“Sua gestão nos próximos dois anos vai mirar o governo do estado. O Castro [governador Cláudio Castro] não pode se reeleger, e no Rio de Janeiro não vejo outras lideranças com destaque para tanto. Claro que as coisas mudam, mas Paes está cacifado”, disse.

No entanto, em 2018, essa estratégia não funcionou. O atual prefeito lançou sua candidatura para governador, mas perdeu para Wilson Witzel, então filiado ao PSC. Luiz Filipe lembra que, naquele momento, as conjunturas eram diferentes.

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Valdir Pucci avalia que o prefeito pode, inclusive, almejar cargos para além do Palácio Guanabara, sede do governo estadual. “Daqui a dois anos ele até mesmo pode alçar voos maiores, como a Presidência da República. Hoje, ele tem hoje o cacife político para pretender esse posto também”, afirmou.

PSD foi o partido com maior número de prefeitos eleitos em todo o país

A situação pode ser ainda mais favorável para Eduardo Paes, posto que a legenda dele, o PSD, foi o partido que mais elegeu prefeitos já no 1º turno, 882 no total. E ainda é possível que cresça no 2º turno. O MDB, segundo partido com maior número de prefeituras, tem 857.

Outros partidos do Centrão também tiveram resultados expressivos: o PP, do presidente da Câmara, Arthur Lira, elegeu 748 prefeitos, enquanto o União Brasil chegou a 585, e o Republicanos a 486. Já o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, estará no comando de 511 prefeituras, enquanto o PT teve a vitória em menos da metade, 249.

Luiz Filipe classifica como notável a capacidade do PSD de ter mais alianças com o governo em alguns colégios eleitorais, como a Bahia, Minas Gerais e o próprio Rio de Janeiro. “Paes se comprometeu com Lula ainda em 2022, que devolveu o apoio, mesmo sem o vice, o que entra na estratégia do PT não ter cabeças de chapa em alguns municípios. Me pareceu uma estratégia acertada, agora ao observar os resultados expressivos do Centrão nos milhares de municípios Brasil afora, PSD, MDB, PP e Republicanos saem muito fortes. Imagina a receptividade dos parlamentares dessas legendas após o Lula ter ido bater nos candidatos deles?”, questionou.

A pluralidade mostrada por Paes pode ser um caminho. “Nós vimos pessoas de todos os espectros políticos, nós vimos pessoas de grupos políticos distintos apoiando Eduardo Paes. Daí veio a sua famosa frase ao final da apuração de ontem, quando ele diz que não há mais espaço para polarização no país”, comenta Pucci.

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O cientista político acredita que talvez o prefeito tenha se precipitado em já colocar ou já tachar o fim da polarização. Mas que, no entanto, essa é uma demonstração de que é possível fazer uma campanha sem necessariamente “se engajar nesta polarização entre o bolsonarismo e o petismo, tentando agregar do seu lado pessoas de ambos os espectros políticos”.

Prefeito celebra terceiro mandato nas redes, mas diz pouco sobre segurança

Logo após o anúncio da vitória nas urnas, o prefeito Eduardo Paes publicou um vídeo no Instagram celebrando com familiares e aliados. Logo em seguida, publicou outro vídeo, “Dudu de volta para o futuro”, uma paródia ao sucesso hollywoodiano “De volta para o futuro”.

No vídeo, o atual prefeito volta ao início de 2021 (época da pandemia) para dar conselhos a Eduardo Paes daquela época, “preocupado com as questões da prefeitura” e usando máscara. O prefeito de 2024 diz a seu "eu passado" que fará o melhor de seus três mandatos.

Dentre os feitos que o “Paes de 2024” conta para o de 2021, estão “contas no azul, folha de pagamento do município em dia e recuperação do grau de investimento da cidade”, dentre outros, como a prefeitura ter assumido o comando do BRT e ter criado vagas em creches públicas.

No entanto, quando trata da segurança pública, Paes não fornece muitas informações. Apensa afirma ter feito seu dever de casa e culpa o governador do estado Cláudio Castro pela situação atual. Apesar de não citar nenhuma questão ou ação empreendida nesta área além da instalação de câmeras de segurança, o prefeito afirma que Castro está no comando da segurança pública há sete anos. E ainda diz que o governador acusa sua gestão de não dialogar sobre a segurança.

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Segundo Paulo Kramer, as experiências bem-sucedidas na área de segurança pública comprovam que esse é um empreendimento fundamentado na colaboração entre os três níveis de governo (federal, estadual e municipal) e a comunidade.

“Paes é esperto o suficiente para descobrir que o povo carioca já está tão desiludido de políticas de combate e prevenção ao crime que simplesmente desistiu de esperar que alguém possa atacar o problema de frente”, afirma ele sobre a postura do prefeito em relação ao tema.

O consultor independente Antônio Flávio Testa avalia que o discurso de Paes é demagógico. “Certamente ele consegue navegar em  quase todos os ambientes políticos no Rio. Prometeu muito para os mais pobres, mas resta saber como fará isso. Que aliados darão sustentação às suas promessas assistencialistas”, avaliou.