Aliado de Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia se tornou um dos principais opositores de Marçal| Foto: EFE/André Coelho
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Decisivo na eleição presidencial de Jair Bolsonaro (PL) em 2018, o voto evangélico passou a ser alvo das campanhas políticas desde a articulação das coligações partidárias até a apresentação das propostas alinhadas aos valores do segmento religioso. Nas eleições municipais deste ano, o apoio evangélico tem sido disputado pelos candidatos do eixo Rio-São Paulo por causa do peso eleitoral na reta final do primeiro turno das maiores capitais do país, conforme indicam pesquisas Quaest divulgadas na última última segunda-feira (30).

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A disputa pela adesão estratégica dos evangélicos colocou pastores em lados opostos na tentativa de convencimento do eleitorado, que optou pela direita conservadora nas últimas eleições, principalmente representado pelo voto no ex-presidente Bolsonaro. Apesar da vitória de Lula em 2022 - no segundo turno mais apertado desde a redemocratização - 56% dos evangélicos votaram pela reeleição do candidato do PL.

De acordo com o levantamento da Quaest, o candidato Pablo Marçal (PRTB) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) disputam os votos dos evangélicos na eleição pela prefeitura de São Paulo, sendo que o empresário voltou a assumir a preferência da maioria do eleitorado nesta que é a semana decisiva do primeiro turno. Nunes tem como vice na chapa à reeleição o coronel Ricardo Mello Araújo (PL), indicado por Bolsonaro.

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Conforme os dados da Quaest, Marçal, que frequenta a Igreja da Videira, perdeu terreno para Nunes entre os evangélicos no período de 11 a 24 de setembro, quando caiu de 37% para 25% das intenções de voto no segmento. No mesmo período, o apoio do eleitorado evangélico subiu de 26% para 33% ao candidato à reeleição na capital paulista. No entanto, Nunes oscilou para 26% e Marçal voltou a liderar nas igrejas com 31%. Apadrinhado por Lula, o candidato Guilherme Boulos (Psol) tem 12% do eleitorado evangélico.

O deputado federal do Psol lidera no segmento que declara não ter religião, com 32% dos votos, seguido por Nunes (19%) e Marçal (16%). Entre os católicos, a preferência é pelo prefeito de São Paulo que soma 27% dos votos, empatado tecnicamente com Boulos dentro da margem de erro. O candidato de Lula tem 24% entre os fiéis ao catolicismo.

A disputa pelo voto evangélico fica evidenciada pelas críticas constantes à Marçal feita pelo pastor Silas Malafaia, aliado de Bolsonaro e organizador da manifestação no último dia 7 de setembro pelo impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que contou com a presença do prefeito Ricardo Nunes.

Ao longo da campanha, Malafaia publicou vários vídeos na rede social Instagram para “desmascarar a farsa” de Marçal como candidato da direita em São Paulo. “Quem tem boca fala o que quer. O que prova você ser alguma coisa não é o que você diz, são seus atos, suas atitudes e sua história”, disse no vídeo, ao questionar a posição de Marçal sobre o impeachment de Moraes e durante o debate do “PL da Censura” no Congresso Nacional para regulamentação das redes sociais.

“Em 25 de fevereiro deste ano, a megamanifestação na avenida Paulista, onde ele estava? Escondido em algum lugar. Em 21 abril, no Rio de Janeiro, também não estava. No 7 de setembro, chegou no final para lacrar. Por que ele chegou no final? Porque ele sabia que a manifestação era para pedir o impeachment de Alexandre de Moraes e denunciar os seus crimes. Em dois anos, não tem nenhuma palavra de Pablo Marçal contra o Moraes. Esse é o cara da direita?”, questiona o pastor.

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No último domingo (30), Marçal afirmou que estava de jejum pelo período de cinco dias, consumindo apenas água, porque uma “batalha espiritual” está sendo travada nas eleições. “Esse jejum é pelo povo, para sensibilizar o espírito para que o povo tenha discernimento”, afirmou o candidato do PRTB durante entrevista coletiva no debate promovido pela TV Record.

“Eu tenho um chamado da parte de Deus para servir na política”

Candidato do PRTB, Pablo Marçal

Evangélico, Marçal gravou um vídeo direcionado aos pastores paulistanos e pediu o apoio dos eleitores para distribuição do material em grupos de mensagens no WhatsApp. “Estou debaixo de uma palavra para de fato mudar a mentalidade dessa nação e colocar um propósito no coração do brasileiro que é fazer esta nação se tornar a mais próspera da Terra até 2050”, afirma.

O candidato também diz que nunca imaginou que “tantos interesses estariam em jogo” nas eleições e que sofreria “perseguição" até de pessoas evangélicas. “Nunca esperei que irmãos se levantariam contra nós. A cidade de São Paulo nunca teve um evangélico na liderança, um cristão, como nós na liderança”, diz Marçal.

“Esse vídeo é da minha própria pessoa transmitindo isso para você não ouvir de outra pessoa. Eu vou servir na política por 12 anos para treinar o maior número de pessoas com capacidade de gestão, de riqueza e mentalidade para servir nosso povo”, completa. 

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Voto evangélico pode levar Ramagem para o segundo turno no Rio

No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes (PSD), aliado de Lula, conta com o deputado federal Otoni de Paula (MDB), pastor conservador que se desentendeu com a família Bolsonaro durante a pré-campanha pela prefeitura da capital fluminense. A presença de Otoni é considerada estratégica para evitar a rejeição do público evangélico ao candidato à reeleição por causa da aliança com o PT, além de segurar a tendência de voto dos membros das igrejas em Alexandre Ramagem (PL).

De acordo com a pesquisa Quaest, a preferência pelo candidato apoiado por Bolsonaro subiu de 11% para 36% entre os evangélicos no período de 28 de agosto a 30 de setembro. No mesmo mês, Paes perdeu apoio do eleitorado dentro das igrejas, conforme o levantamento, que registra a queda de 54% para 42% no segmento religioso. A pesquisa também indica que a transferência de votos do eleitor de Bolsonaro em 2022 para o candidato do PL subiu de 22% para 47% no último mês.

Para frear a ascensão de Ramagem com o voto evangélico, que pode atrapalhar o plano de reeleição de Paes no primeiro turno, o prefeito carioca gravou um vídeo sobre as críticas que recebe pela aproximação ao grupo evangélico. “Um lado trata o evangélico como se fosse um ser à margem da sociedade, como se fosse de outro planeta e o outro acredita que detém toda autoridade sobre o pensamento e decisões de quem é evangélico. São dois lados da mesma moeda: da divisão, do conflito e da ideologia que cega”, declara o prefeito católico.

Paes disse que prefere “construir pontes e não muros” com o diálogo na política. “Se a prefeitura apoia carnaval, shows e eventos, me atiram pedras e falam que estou promovendo a destruição de valores. Se apoia festival religioso, show gospel ou a Marcha para Jesus, dizem que estou comprando o voto dos evangélicos”, acrescentou.

Metodologia das pesquisas citadas:

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  • São Paulo: 1.800 entrevistados pela Quaest entre os dias 27 a 29 de setembro de 2024. A pesquisa em São Paulo foi contratada pela Globo Comunicação e Participações SA/TV/Rede/Canais/G2C+Globo Globo.com Globoplay. Confiança: 95%. Margem de erro: 2 pontos percentuais. Registro no TSE nº SP-01233/2024.
  • Rio de Janeiro: 1.140 entrevistados pela Quaest entre os dias 27 e 29 de setembro de 2024. A pesquisa no Rio de Janeiro foi contratada pela Globo Comunicação e Participações SA/TV/Rede/Canais/G2C+Globo Globo.com Globoplay. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº RJ-00566/2024.
Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]