Esta semana será decisiva para a continuidade da pré-candidatura de Alexandre Ramagem (PL) à prefeitura do Rio de Janeiro. Com o avanço da investigação da Polícia Federal (PF) sobre um suposto esquema de espionagem ilegal de autoridades públicas dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na época em que o deputado federal era o diretor-geral do órgão, há dúvidas no partido se há espaço para continuidade dele no pleito deste ano.
Segundo o inquérito da PF, que deflagrou a quarta fase da operação Última Milha na última quinta-feira (11), a “estrutura paralela” da Abin teria sido usada para proteger os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), especificamente Jair Renan Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL), com estratégias de criar contrainteligência e desinformação sobre alvos que poderiam atingir diretamente os três.
Ramagem é uma aposta pessoal do ex-presidente na capital fluminense nas eleições de 2024. Ele se tornou homem de confiança e chefe da proteção pessoal de Bolsonaro após a facada recebida durante a campanha de 2018 e foi alçado à diretoria-geral da Abin. Nas eleições de 2022, deixou o cargo para concorrer a deputado federal, sendo eleito com 59.170 votos.
Ramagem é aposta pessoal de Bolsonaro no Rio de Janeiro.
O relacionamento com a família Bolsonaro é o que segura a pré-candidatura de Ramagem no Rio, mesmo ele tendo gravado uma reunião que foi central para a investigação da PF sobre a “Abin paralela” — teriam participado ele, o ex-presidente e o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno. A gravação, sem autorização, porém, teria arranhado essa ligação com Bolsonaro.
Apesar disso, o ex-presidente tem dito que a pré-candidatura de Ramagem segue normalmente. “Estarei no Rio de quinta a sábado da próxima semana. O Ramagem estará comigo”, disse Bolsonaro à CNN. O senador Flávio Bolsonaro saiu em defesa de Ramagem e citou a pré-candidatura como pretexto para a operação da PF. “A divulgação desse tipo de documento, às vésperas das eleições, apenas tem o objetivo de prejudicar a candidatura do Delegado Ramagem à prefeitura do Rio de Janeiro”, escreveu na rede social X.
Desempenho de Ramagem está longe de candidato de Lula no Rio
A possível divulgação, nesta semana, do teor completo do áudio da reunião gravada por Alexandre Ramagem tem potencial para acabar com a pré-candidatura dele. Dependendo do conteúdo e da repercussão, nem mesmo Bolsonaro conseguiria bancar a continuidade, que é questionada internamente no PL. Ainda mais de um nome que não tem demonstrado tração desde o lançamento da pré-candidatura, em 16 de março.
Segundo pesquisa do Datafolha divulgada em 5 de julho, o deputado federal aparece tecnicamente empatado em segundo lugar nos dois cenários estimulados, somando 7% das intenções de voto em ambos os cenários, contra 9% e 10% de Tarcísio Motta (Psol) — a margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. Atual prefeito e pré-candidato à reeleição, Eduardo Paes (PSD) tem 53% no cenário 1 e 55% no cenário 2.
Paes deverá receber o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa à prefeitura do Rio, exatamente para se opor ao candidato de Bolsonaro, em um cenário de nacionalização do pleito municipal que se espalha por diversas cidades do país. No início de julho, Lula elogiou Paes e disse que ele é um bom gestor.
“Muito dinheiro nas mãos de poucos significa pobreza, mortalidade infantil, fome. Pouco dinheiro na mão de muitos faz a economia girar. E é esse país que o Dudu [Eduardo Paes] vai criar aqui. Quero dar os parabéns a ele”, afirmou o presidente da República durante entrega de unidades habitacionais no bairro Santa Cruz, na capital fluminense.
O embate com Paes e Lula, aliás, fez parte da nota divulgada por Ramagem após a deflagração da quarta fase da operação Última Milha. Pelo X, ele escreveu que, no Brasil, “nunca será fácil uma pré-campanha da nossa oposição”. Mas confirmou que segue na disputa. “Continuamos no objetivo de legitimamente mudar para melhor a cidade do Rio de Janeiro.”
Deputado federal há menos de dois anos, Ramagem ainda não é um nome conhecido da população do Rio de Janeiro. Para a pré-candidatura ganhar corpo, vai depender da imagem dele ser atrelada a de Bolsonaro, como um contraponto a Paes e Lula. Os primeiros compromissos nesse sentido estão marcados para esta semana, com agenda de rua nas zonas norte e oeste do Rio de Janeiro, na quinta-feira (18) e sexta-feira (19). Pelo plano original, Ramagem e Bolsonaro estarão juntos. Qualquer mudança na agenda poderá indicar uma mudança de rumo.
Metodologia da pesquisa citada: 840 pessoas entrevistadas pelo Datafolha entre os dias 2 e 4 de julho de 2024. A pesquisa foi contratada pela Folha da Manhã S.A. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais para mais ou para menos. Registro no TSE nº RJ-06701/2024.
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