O Partido dos Trabalhadores (PT) fez uma aposta arriscada em Salvador (BA) e não conseguiu obter o retorno esperado nas urnas em 2024: abriu mão de lançar uma candidatura própria para apoiar o emedebista Geraldo Júnior, que é vice-governador da Bahia. O risco era ainda maior porque o político não é bem aceito dentro de todas as alas do partido e iria concorrer contra o atual prefeito, Bruno Reis (União Brasil), que dominava a intenção de voto do eleitor desde a reta inicial da campanha municipal.
Nas urnas, Reis venceu no primeiro turno, com 78,67% da preferência do eleitor, um total de 1.045.690 votos obtidos no último domingo (6). A surpresa foi que Geraldo Júnior, além de não conseguir levar a disputa para um segundo turno na capital baiana, ainda ficou em terceiro na disputa, perdendo para o candidato do Psol, Kleber Rosa.
O nome de aposta do PT obteve 137.298 votos, o equivalente a 10,33%, na capital de um estado governado pela sigla. Foi o pior desempenho dos candidatos da base petista na cidade desde 2008. O cenário surpreendeu não só pela força do partido do presidente Lula (PT) na Bahia, mas também por todas as legendas que compuseram a coligação: MDB, PCdoB, PT, PV, PSD, PSB, Podemos, Solidariedade, Avante e Agir.
Nas eleições 2024, Salvador viu o pior desempenho dos candidatos da base petista na cidade desde 2008.
Série de acordos culminou na escolha por Geraldo Júnior
A escolha de Geraldo Júnior para a disputa municipal em Salvador pode ser explicada por uma série de acordos feitos por alas consideradas “menos radicais” e mais fisiologistas do PT. A indicação foi costurada pelo senador Jaques Wagner, líder do governo no Congresso e uma das maiores lideranças locais do partido na Bahia, junto com os irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima, do MDB.
A reportagem da Gazeta do Povo apurou que o acordo que levou Geraldo Júnior a concorrer à prefeitura iniciou há dois anos, quando a legenda o convidou para concorrer a vice-governador na chapa com o petista Jerônimo Rodrigues contra o ex-deputado ACM Neto. Até aquele momento, Geraldo era aliado do próprio ACM Neto e de Bruno Reis.
O preço para romper com o grupo político era alto: o PT deveria garantir que ele seria o candidato à prefeitura apoiado não só pelo governador, mas por todas as siglas aliadas, numa candidatura única que não existia há pelo menos quatro pleitos municipais em Salvador. O grupo adotava a estratégia de pulverização, ou seja, o lançamento de mais de uma candidatura por eleição.
Após a aclamada vitória da chapa Jerônimo-Geraldo sobre ACM Neto em 2023, Jaques Wagner começou a trabalhar pesado para cumprir o acordo. Mal tinha sentado na cadeira de vice, Geraldo Júnior já atuava nos bastidores para garantir a candidatura.
Apoio ao nome de Geraldo Júnior não era consenso no PT
Os petistas que apostaram no nome do vice-governador acreditavam que o tempo no grupo opositor garantia a ele um capital político que o ajudaria a conquistar votos do prefeito e, ao menos, levá-lo ao segundo turno, conforme informações de bastidores apuradas pela Gazeta do Povo.
Esse pensamento, no entanto, não era unânime no partido. O passado de Geraldo Júnior - que não só foi aliado de Bruno Reis e ACM Neto como apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro em 2018 - não agradou grupos mais ideológicos do PT. Um deles chegou a pedir à executiva nacional da legenda a suspensão do então pré-candidato, sem sucesso.
Para petistas consultados pela reportagem da Gazeta do Povo, Geraldo Júnior era considerado um político de centro-direita e o posicionamento pró-Bolsonaro em 2018 era “imperdoável”. Eles afirmam que a campanha nunca chegou a ter apoio da maior parte das legendas que compunham a coligação e que foi marcada por desentendimentos e traições dentro do comitê.
A falta de apoio foi ficando mais evidente com o andamento da campanha. Lideranças da esquerda na capital defendiam nos bastidores o boicote a Geraldo Júnior e defendiam um “voto de protesto” no candidato do Psol. O próprio MDB e o PT não quiseram desembolsar um montante muito alto para investir na candidatura dele.
No total, o candidato recebeu R$ 3,8 milhões das duas legendas, enquanto o União Brasil transferiu R$ 21 milhões para o prefeito Bruno Reis. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O presidente Lula, por sua vez, limitou-se a participar da campanha apenas por meio de um vídeo de 15 segundos.
Cenário nacional pode não ser decisivo em eleições municipais
O cientista político Antonio Henrique Lucena avalia que, além da força popular do atual prefeito Bruno Reis e do padrinho dele, ACM Neto, o cenário nacional pode não ser decisivo nas eleições municipais. “A questão nacional não foi tão decisiva, os apoios nacionais não tiveram grande influência. E os problemas locais terminaram sendo muito mais levados em conta. A preocupação da população é com foco nas questões locais“, explica.
Ele acredita também que os problemas enfrentados pela população baiana, sobretudo em relação à segurança pública, que é papel do governador, também podem ter enfraquecido o nome do vice para a prefeitura de Salvador. A avaliação de nomes dos bastidores locais é de que o principal derrotado foi justamente Jerônimo Rodrigues, que vai precisar começar a trabalhar duro se quiser se reeleger em 2026.
Vai piorar antes de melhorar: reforma complica sistema de impostos nos primeiros anos
Justiça ou vingança? Alexandre de Moraes é acusado de violar a lei; acompanhe o Entrelinhas
“Estarrecedor”, afirma ONG anticorrupção sobre Gilmar Mendes em entrega de rodovia
Ação sobre documentos falsos dados a indígenas é engavetada e suspeitos invadem terras