Candidatos à prefeitura de São Paulo protagonizaram o debate mais acirrado nas capitais| Foto: Renato Pizzutto/Band
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A troca de ofensas entre candidatos à prefeitura de São Paulo durante o debate na TV Bandeirantes, ocorrido na última quinta-feira (8), aponta para a tendência do uso dos encontros como estratégia para angariar o máximo de visualizações para as redes sociais por meio de comentário polêmicos e gestos expressivos. Na visão de especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, os debates ganharam um caráter “instagramável”, ou seja, feitos para viralizarem nas redes sociais, independentemente das propostas discutidas.

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O evento contou com a presença dos candidatos Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB) e Tabata Amaral (PSB).

Em um dos momentos mais polêmicos, Marçal fez um gesto alusivo ao uso de cocaína durante uma pergunta direciona a Boulos. O gesto foi publicado pelo candidato do PRTB em suas redes sociais e teve ampla interação do público antes da determinação da Justiça Eleitoral pela remoção do conteúdo. No Instagram, o vídeo ultrapassou 360 mil curtidas e mais de 28 mil comentários em postagem no perfil oficial de Marçal. Ao todo, o candidato fez 30 postagens sobre o debate.

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Outro trecho que ganhou a atenção dos internautas foram as acusações feitas por Tabata a Marçal. A candidata do PSB disse que o empresário “foi condenado por formação de quadrilha em um esquema de fraudes bancárias” durante uma pergunta direcionada ao concorrente político.

No Instagram de Tabata, o vídeo ultrapassou 100 mil curtidas e mais de 9 mil comentários. Após o bate-boca entre os candidatos, Boulos prometeu aos telespectadores que iria compartilhar pelas redes sociais a cópia da sentença contra Marçal.

No debate realizado pela Band em Teresina (PI), a troca de farpas entre os candidatos ultrapassou as ofensas verbais. O atual prefeito da cidade, Dr. Pessoa (PRD), agrediu com uma cabeçada o candidato do Francinaldo Leão (Psol) durante a discussão sobre a saúde pública. O fato foi amplamente compartilhado nas redes sociais, sendo um dos assuntos mais procurados pelos internautas do Piauí, segundo o Google Trends - ferramenta que monitora pesquisas pelo buscador.

Debates perderam a relevância com redes sociais nas eleições

Para o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, os debates eleitorais atuais são cuidadosamente planejados para gerar repercussão nas redes sociais, em vez de aprofundar a discussão sobre os problemas da cidade.

"Os comunicadores políticos estão muito mais preocupados com a repercussão do que com o debate em si", resume Cerqueira, evidenciando que a principal estratégia durante os eventos é criar momentos que possam ser facilmente transformados em vídeos curtos e memes. Essas peças, posteriormente, circulam amplamente em plataformas como TikTok, Instagram e WhatsApp, moldando a percepção do eleitorado.

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Ele ainda observa que essa tendência reflete a diminuição do impacto das mídias tradicionais, como rádio e televisão, na formação da opinião pública. "Hoje, cada vez mais, as pessoas estão se mobilizando pelas redes sociais. A mudança no consumo de informação tem levado os candidatos a se preocuparem mais com a criação de frases de efeito e cenas memoráveis, que possam ser compartilhadas e viralizadas, do que com a apresentação de propostas concretas e detalhadas para a cidade”, analisa.

Bolhas nas redes sociais comprometem debates nas eleições

Já na avaliação do cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), a atual configuração das redes sociais molda o impacto dos debates eleitorais, mais focados em reforçar crenças preexistentes do que em apresentar propostas concretas.

"As redes sociais operam dentro daquilo que a gente chama de filtro bolha, viés de confirmação. Você acaba pegando esses cortes, essas imagens, esses vídeos curtos, essas 'mitadas', essas 'lacradas', para reforçar aquilo que o eleitor já acredita", explica Gomes.

Essa dinâmica, segundo ele, faz com que os debates sejam eventos de alto risco, onde os candidatos correm mais perigo de perder votos e se tornarem memes negativos do que de conquistar novos eleitores. Além disso, o cientista político ressalta que com a hipervelocidade de disseminação de informações nas redes sociais, os debates se tornaram menos propositivos e mais centrados nas características pessoais dos candidatos.

"Por conta do baixo nível de consistência ideológica e programática dos partidos brasileiros, os debates não são mais sobre políticas públicas"

Cientista político Elton Gomes
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De acordo com ele, os partidos se concentram em construir ou desconstruir a imagem dos candidatos, o que deve se repetir em outras cidades e capitais importantes do país nas próximas eleições.

Debate em São Paulo foi pautado por interesses dos internautas

Além do comportamento dos candidatos, as redes sociais pautaram os temas levados ao debate em uma parceria entre a Band e o Google, que monitorou as principais perguntas buscadas pelos internautas. Em relação ao prefeito Ricardo Nunes, por exemplo, os internautas questionaram o partido a qual está filiado e quantas obras ele entregou neste ano.

Sobre Datena, as perguntas mais buscadas foram a idade do apresentador e quem é o vice na chapa tucana. Acerca de Marçal, uma das principais perguntas é se ele seria bilionário. Os internautas perguntaram sobre os principais projetos da campanha de Tabata Amaral e quem é o pai do candidato Guilherme Boulos.

Nas considerações finais, os candidatos puderam usar seus dois minutos para comentar sobre os principais assuntos pesquisados no buscador durante o confronto de ideias entre os políticos: educação, saúde, segurança, emprego e transporte.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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