Em busca de uma virada nas eleições de São Paulo, o candidato a prefeito Guilherme Boulos (Psol) lançou, nesta segunda-feira (21), uma “Carta ao povo de São Paulo”, na qual pede “voto de confiança” para uma “cidade mais humana”. A carta remete ao documento de Lula (PT) nas eleições de 2002, em que o então candidato petista apresentou compromissos com o país na "Carta ao povo brasileiro". Na ocasião, Lula foi eleito em segundo turno, derrotando José Serra (PSDB).
“Muitos ficam assustados com minha trajetória no movimento social, outros se questionam se vamos conseguir dar conta ou se vamos dialogar com quem tem visões diferentes. Por isso, ficam receosos de apostar na mudança que a gente representa, mesmo sabendo que a cidade não está boa. Peço aqui um voto de confiança para vocês, me preparei para governar nossa cidade, estudei cada área, cada contrato, cada solução”, diz trecho da carta lida por Boulos em pronunciamento na manhã desta segunda.
O candidato à prefeitura de São Paulo citou também a vice na chapa, Marta Suplicy (PT), e a experiência administrativa dela na política. "Juntamos especialistas e gestores que passaram por governos de diferentes partidos. Nosso governo será de diálogo e construção conjunta, sem amarras a qualquer tipo de sectarismo", afirmou o candidato do Psol.
“São Paulo tem um risco e uma oportunidade”, diz carta do candidato do Psol
A carta de Boulos segue dizendo que “São Paulo tem um risco e uma oportunidade” nessas eleições municipais. “O risco é deixar prefeito fraco e omisso levar a nossa cidade ao caos. Quando o governo é fraco, os verdadeiros vilões tomam conta, foi assim que o pior da nossa política se apoderou do orçamento de São Paulo, do nosso dinheiro, com esquemas que todos nós estamos vendo hoje. Foi assim que o crime organizado se infiltrou no transporte público, em cargos de alto escalão da prefeitura. A gente já viu esse filme em outras cidades do país e não acaba bem”.
O texto segue dizendo que há um caminho alternativo: "Nós podemos, com coragem e responsabilidade, afastar esse risco de São Paulo, e aproveitar a oportunidade de termos o nossos maior orçamento da nossa história para enfrentar as desigualdades e injustiças que vêm de longe, para olhar as grandes metrópoles do mundo e tirar as melhores soluções em inovação, eficiência e sustentabilidade, para termos pela primeira vez uma política que entenda e apoie a periferia que quer empreender. Um governo que vai levar a escuta e a participação da sociedade ao limite”, disse Boulos ao ler a carta.
Abaixo, a íntegra da carta de Boulos
"Venho aqui, de coração aberto, para falar com vocês. Eu nasci, cresci e formei minha família na nossa cidade. Tive a oportunidade de viver os dois lados da ponte. O que sempre me moveu, desde menino, quando fui atuar junto com as pessoas sem-teto, foi o sentimento de indignação com as injustiças e a convicção de que é possível vivermos numa sociedade melhor. Como pode uma cidade tão rica ter gente com fome? Como pode ter tanta gente nas ruas? Como pode termos bairros com a qualidade de vida da Suécia e outros, com a dos países mais pobres do mundo? Essas inquietações são minhas, dos que caminham ao meu lado e, tenho certeza, também são suas.
Ter uma cidade mais humana, em que a solidariedade não seja destruída pela indiferença, é o que eu acredito e quero fazer. Sei que muitos de vocês compartilham desse sonho, mas têm dúvidas e receios. Muitos ficam assustados com a minha trajetória no movimento social. Outros se questionam sobre se conseguiremos dar conta ou se vamos dialogar com quem tem visões diferentes. E, por isso, ficam receosos de apostar na mudança que representamos, mesmo sabendo que a cidade não está boa. Peço aqui um voto de confiança a vocês. Eu me preparei para governar nossa cidade: estudei cada área, cada contrato e cada solução. Chamei a Marta, com sua experiência administrativa, para ser minha vice e juntamos especialistas e gestores que passaram por governos de diferentes partidos. Nosso governo será de diálogo e construção conjunta, sem amarras a qualquer tipo de sectarismo.
Reconheço também que, pelo nosso propósito de olhar sempre para os invisíveis, muitas vezes nós da esquerda deixamos de falar com tanta gente que também batalha, sofre o dia a dia das periferias e que buscou encontrar sua própria forma de ganhar a vida. A periferia mudou. Você, mulher, que foi abrir seu salão, vender salgados na garagem de casa ou na porta do metrô, sabe disso. Você, jovem, que financiou uma moto e foi trabalhar sem parar e sem nenhuma proteção, sabe disso. Você que pega um carro e dirige a cidade toda como motorista de aplicativo sabe disso. Muitas vezes nós deixamos de falar com vocês.
Eu quero aqui assumir um compromisso com cada um de vocês: a Prefeitura de São Paulo vai reconhecer o seu esforço e te oferecer oportunidades, não só aparecer para cobrar boleto. Isso não é apenas uma promessa de campanha. É um compromisso de futuro.
Sei que boa parte de vocês está descrente da política, perdeu a esperança por achar que são todos iguais. E quando a gente vê quem aparece só de quatro em quatro anos, repetindo o que o marqueteiro falou, eu te entendo. É difícil diferenciar quem está de verdade do seu lado dos que querem te enganar. O compromisso que eu assumo com vocês não é apenas de fazer melhor, é de fazer diferente. Eu vou fazer meu gabinete na rua, indo todos os dias escutar você no seu bairro e construir junto as soluções. Vou fazer valer a participação como forma de governo, porque acredito que uma política feita desse jeito, sem portas fechadas, pode renovar a esperança de muita gente. Por isso, faço aqui um pedido a vocês: não desistam da mudança. Desistir dela é desistir do futuro, de deixar um legado da nossa geração para as que virão.
Nesta eleição, São Paulo tem um risco e uma oportunidade. O risco é deixar um prefeito fraco e omisso levar nossa cidade ao caos. Quando o governo é fraco, os verdadeiros vilões tomam conta. Foi assim que o pior da nossa política se apoderou do orçamento de São Paulo, do nosso dinheiro, com esquemas que todos nós estamos vendo na imprensa. Foi assim que o crime organizado se infiltrou no transporte público e em cargos de alto escalão da Prefeitura. Já vimos esse filme em outras cidades do país. E não acaba bem.
Mas esse não é o único caminho. Nós podemos, com coragem e responsabilidade, afastar esse risco de São Paulo e aproveitar a oportunidade de termos o maior orçamento da nossa história para enfrentar as desigualdades que vêm de longe. Para olhar as grandes metrópoles do mundo e tirar as melhores soluções em inovação, eficiência e sustentabilidade. Para termos, pela primeira vez, uma política que entenda e apoie a periferia que quer empreender. Um governo que vai levar a escuta e a participação da sociedade ao limite.
Eu jamais desistirei desse caminho. Fomos tão atacados nesta eleição exatamente por manter a coerência e os princípios que nos trouxeram até aqui. E acredito que é possível ganhar essa eleição dialogando olho no olho com as pessoas. Defendendo que os sem-teto tenham casa, que os invisíveis tenham voz, que todos os trabalhadores tenham oportunidades. Que as periferias sejam tratadas com respeito e não com preconceito e violência. É isso que nos move. E peço a todos que se movem por esses mesmos valores que saiam às ruas para virar votos nessa reta final. A verdade pode, sim, vencer a mentira. A esperança pode, sim, vencer o medo.
Pensem e reflitam com suas famílias. A hora é agora. Por tudo isso, peço o seu voto no próximo domingo no 50!"