O prefeito e candidato à reeleição à prefeitura de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), aposta em parcerias com o governo estadual no âmbito das propostas para a área da segurança pública, no plano de governo apresentado. Nunes é apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Foi Bolsonaro quem escolheu o vice na chapa de Nunes, o coronel da reserva Ricardo de Mello Araújo (PL). No plano de governo, o prefeito paulistano evidenciar a cooperação entre a Guarda Civil Metropolitana (GCM) - vinculada ao poder público municipal - e as polícias Militar e Civil, no guarda-chuva do governo estadual. O prefeito ressalta medidas implementadas na gestão dele, como o programa “Smart Sampa”, que prevê a instalação de câmeras de segurança, drones e iluminação de LED na cidade.
O candidato Guilherme Boulos (Psol) - apoiado pelo presidente Lula (PT) na eleição municipal de São Paulo - foca na dimensão social para recuperar a ordem urbana e contribuir com a segurança pública da maior capital do país. Boulos tem como vice na chapa Marta Suplicy (PT), uma negociação também costurada pelo padrinho político dele.
O candidato do Psol propõe uma Guarda Civil Metropolitana mais “humanizada” e promete dobrar o efetivo da corporação, passando de 7 mil para cerca de 14 mil até o fim do mandato, caso seja eleito.
O ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho vê divergências claras nos planos dos candidatos à prefeitura de São Paulo. Ele questiona a viabilidade da proposta de Boulos ao efetivo da GCM. “Dobrar o número de guardas levaria cerca de seis anos, extrapolando o mandato, e custaria aproximadamente R$ 1,5 bilhão por ano. De onde viria esse dinheiro?”, pergunta ele.
A falta de integração com a PM no plano de Boulos é outro ponto evidenciado por José Vicente. “Ele quer atuar nas principais vias com a GCM, mas - como é comum entre partidos progressistas - não menciona a Polícia Militar nem a integração com o estado.”
Para José Vicente, que foi coordenador de Análise e Planejamento da Secretaria da Segurança Pública do estado paulista durante a gestão de Mário Covas, Boulos propõe "quase nada" para a segurança pública. “Ele não menciona a melhoria do espaço urbano, que impacta a segurança, nem o uso de tecnologia. O que ele propõe para a segurança pública é quase nada”, opipna.
Em relação ao plano de Nunes, José Vicente também tece críticas. “O programa de Nunes se limita a políticas municipais. Ele foca na zeladoria, melhorando o ambiente urbano para desestimular a desordem e os crimes associados a ela”.
Para José Vicente, Nunes apenas reforça medidas já adotadas pela prefeitura, sem apresentar novas propostas. “Ele menciona a integração com o estado, como na operação conjunta na cracolândia e a contratação de 2,4 mil PMs que trabalham horas extras remuneradas pelo município. No entanto, ele apenas reforça o que já está em andamento.”
Cientistas políticos analisam planos de Boulos e Nunes
Para o cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) Rodrigo Prando, há aspectos positivos nos planos de Boulos e de Nunes para a área da segurança pública. “Ambos os planos são interessantes. Um ponto em comum entre Nunes e Boulos é a valorização da Guarda Civil Metropolitana, incluindo equipamentos e treinamentos”, analisa ele.
Prando destaca que Nunes foca na geração de oportunidades, enquanto Boulos foca na segurança nas escolas. “Nunes trata a segurança não só como repressão, mas com foco na juventude, geração de oportunidades e acesso à educação de qualidade. Boulos, por sua vez, propõe o Programa Escola Segura, colocando a GCM na porta das escolas”, destaca o professor.
Por sua vez, a cientista política e professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Denilde Holzhacker aponta uma diferença fundamental entre os planos de governo dos candidatos a prefeito de São Paulo. “O debate tem sido mais retórico. Boulos vê a segurança sob uma ótica social, enquanto Nunes tem uma abordagem mais militarizada, essa é a grande diferença”, diz ela.
Nas propostas práticas, entretanto, Holzhacker não vê grandes distinções. “Em termos de segurança, não há diferenças significativas. Nunes menciona o aumento do efetivo da GCM, o uso de câmeras pela cidade e a parceria com o governo estadual. Boulos fala em controlar a cracolândia com ações sociais”, completa a cientista política.
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