Em entrevista à Gazeta do Povo, Tabata Amaral (PSB) fala sobre propostas para a cidade de São Paulo, critica a gestão de Ricardo Nunes (MDB) e o opositor Pablo Marçal (PRTB)| Foto: Felipe Inácio/Divulgação
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Tabata Amaral, de 30 anos, é candidata à prefeitura de São Paulo pelo PSB. Deputada federal reeleita em 2022 com 337,8 mil votos, essa é a primeira vez que ela disputa uma eleição a um cargo no Executivo. Nascida na cidade de São Paulo, Tabata Amaral ficou conhecida quando tinha 17 anos e, vinda da periferia da zona sul de São Paulo, era bolsista em uma escola particular e colecionava medalhas de olimpíadas estudantis.

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Depois de passar em um projeto social do empresário Jorge Paulo Lemann e estudar Astrofísica e Ciências Sociais em Harvard, ela voltou para o Brasil, trabalhou em empresas de Lemann, cofundou um projeto social ligado à educação pública e resolveu entrar para a política, no legislativo federal.

Com posicionamentos ora considerados de direita, ora de esquerda, Tabata Amaral disputa a prefeitura de São Paulo com a vice Lucia França, casada com Márcio França (PSB), ministro do Empreendedorismo do governo Lula e ex-governador de São Paulo. Em entrevista à Gazeta do Povo, Tabata falou sobre projetos para a cidade de São Paulo e, após ter derrubado as redes sociais do opositor Pablo Marçal (PRTB), afirmou que ele é "um cara muito perigoso" e que ela rebateu "com força" as acusações que ele fez sobre Tabata ser responsável pela morte do pai.

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Todos os candidatos à prefeitura de São Paulo foram convidados pela reportagem da Gazeta do Povo para entrevista.

Confira a íntegra da entrevista com a candidata Tabata Amaral

Qual é a opinião da senhora sobre essa campanha no primeiro turno e os ataques entre os candidatos em São Paulo?

Tabata Amaral: Eu lamento profundamente tudo que está acontecendo e acho que todo mundo que leva o debate ou essa eleição a sério, ou que entende as consequências dessa eleição nos próximos quatro anos, se envergonha e se preocupa. Já foram cinco debates, nós temos seis pela frente, e me entristece muito. O que aconteceu ontem pra mim é o ápice.

A gente sabe que tem muito candidato que está apostando nessa polêmica, que está apostando nessa encenação, Pablo Marçal é o principal deles, mas ver meus adversários caírem nas provocações, darem palco para ele e também apostarem nessa polêmica, enfim, é lamentável. E um ponto que eu ressaltei [segunda-feira, 16/9] é que mesmo depois que o Marçal e o Datena saíram do debate, Nunes e Boulos continuaram em nível muito baixo, se atacando, se apelidando.

Então, o que cabe a mim, o que eu venho fazendo em todos os debates e farei nos próximos é tratar as pessoas com respeito, é saber que a população merece e espera mais quando o assunto é a nossa cidade. Falar das propostas, por mais que fiquem ofuscadas em meio à baixaria. Eu estou fazendo uma aposta, que é a única que eu posso fazer, de que quem está nos acompanhando em casa sabe que tem muita coisa séria em jogo. A cidade tem muitos problemas que não são atingidos por essa desigualdade e pela má gestão que a gente tem hoje. Então a minha postura vem sendo uma só e vai continuar sendo a mesma.

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Eu estou fazendo uma aposta, que é a única que eu posso fazer, de que quem está nos acompanhando em casa sabe que tem muita coisa séria em jogo.

Tabata Amaral, candidata à prefeitura de São Paulo

A cracolândia é um grande desafio para São Paulo. Quais são as principais diferenças entre sua abordagem e as gestões anteriores em relação à recuperação dessas áreas?

Primeiro, eu reconheço que a cracolândia é o maior desafio que enfrentarei como prefeita, e não só porque é um desafio que outros prefeitos não conseguiram enfrentar, mas porque ela se multiplicou. A política de espalhar a cracolândia fez com que hoje tenhamos 72 pontos de cracolândia pela cidade.

É um sistema criminoso altamente lucrativo e que envolve muita gente poderosa. Eu venho fazendo inúmeras perguntas que algumas operações agora começam a responder: tem hotel envolvido, tem ferro-velho envolvido, por que a prefeitura não fecha esses estabelecimentos? Tem agente público corrompido envolvido, por que não são afastados e investigados?

E acho que o principal diferencial que eu trago é ter coragem de dizer que tem bandido e tem doente, e que se não olharmos para os dois de formas completamente diferentes, vamos continuar falhando. Bandido você enfrenta, não tem nenhum coitadinho ali. É um trabalho sério de desmontar esse sistema criminoso, entender como o crack entra, como o dinheiro sai. É um trabalho a ser feito com as polícias, com o governo do estado, para sufocar um sistema que hoje é altamente lucrativo e que inclusive envolve outros crimes, como prostituição infantil. Para mim, isso é algo absolutamente inconcebível.

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E, do outro lado, é entender que tem doente. Só na região central, temos mais de mil pessoas ali por conta de uma dependência química, de um alcoolismo não tratado. E São Paulo não tem vaga para essas pessoas, então tenho um compromisso de garantir que tenhamos uma equipe de saúde mental em toda UBS, que todo hospital municipal tenha leito psiquiátrico, porque os números são absurdos.

São Paulo, em toda a cidade, tem 1,3 mil psicólogos públicos e privados, temos 1,5 mil leitos de psiquiatria. Não temos vaga para tratar nem quem está nas cracolândias da cidade. E sabemos que existe um adoecimento mental de toda a população. Não é só a questão da dependência química, é a depressão, a ansiedade, a depressão pós-parto que atinge as mulheres, a depressão que atinge policiais, que hoje morrem mais por suicídio do que por assassinato.

Então, em resumo, é encarar a bandidagem, trabalhar para desmontar esse sistema, é ter a mesma firmeza moral para acolher quem está doente e criar porta de saída. Não adianta nada a pessoa se internar se ela volta para a rua depois. É reconstruir a conexão com a família, é olhar para outras doenças não tratadas, é a moradia, é o emprego.

A senhora propõe a criação do Centro de Justiça Restaurativa. Poderia explicar como ele funcionaria e como enxerga o papel dessa estrutura no combate à criminalidade e à dependência química na cidade?

Tabata Amaral: A primeira coisa é só ressaltar o que eu trouxe: que bandido a gente trata como bandido, doente a gente trata como doente. Esse Centro de Justiça Restaurativa não tem como público-alvo quem está ali como membro do crime organizado, lucrando com esse sistema. Essas pessoas precisam ser enfrentadas com toda a força do sistema judiciário e das nossas polícias. Não tem conversa, é gente criminosa lucrando em cima da desgraça e da miséria das pessoas.

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Quando a gente fala de quem está doente, e do próprio uso abusivo de drogas que são proibidas, essas pessoas cometem crimes também, mas entendemos que colocar essas pessoas para pagarem pelos seus crimes sem, junto com isso, criar uma porta de saída é continuar apostando nessa porta giratória. Então, o que a Justiça Restaurativa prega? Que a pessoa que, por exemplo, é presa ou encontrada fazendo uso de uma substância ilegal seja, sim, seja punida por isso, mas que nesse caminho ela tenha uma porta de saída.

Dentre as penalidades que estão postas, está a busca por uma cura, a importância de um tratamento, a busca por um emprego. Não é ficar apenas na questão legal, mas garantir que toda a penalidade trazida também ofereça uma porta de saída. Porque, de novo, o bandido tem que ser enfrentado, mas o doente, enquanto continuar na rua, serve quase como uma proteção, um escudo, para que o bandido possa continuar atuando criminosamente.

Como deixar o serviço de transporte municipal mais eficiente, sem encarecê-lo para o usuário? Pretende manter as parcerias público-privadas e o subsídio da prefeitura?

Tabata Amaral: Sim, e aí falando sobre como resolver o problema, nós temos hoje um sistema de transporte que é extremamente ineficiente. As pessoas levam em média duas horas e meia por dia no transporte público e sabemos que quem vive nos extremos da cidade passa muito mais tempo do que isso.

Tem um problema de fundo, que tem que ser encarado com coragem e independência, que são as denúncias de corrupção. Existem investigações apontando que empresas que têm contratos com a prefeitura lavam o dinheiro do crime organizado. E aí não tem conversa: diante de denúncias e de provas tão graves, essas empresas precisam ser afastadas, a prefeitura precisa assumir o serviço para não prejudicar nem o trabalhador, nem o passageiro, e promover novas licitações.

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Só que só fazer isso não é suficiente. Precisa trazer ética e responsabilidade para o serviço, mas entender que nosso sistema está muito ultrapassado. Meu pai foi cobrador de ônibus 15 anos atrás e as mesmas linhas que existiam na época dele são as linhas que existem hoje. Nós precisamos urgentemente, até aproveitando os dados que temos de Waze, Google Maps, redesenhar e expandir essas linhas de ônibus para cobrir a cidade.

O trem e o metrô cresceram, isso não foi levado em consideração, a cidade expandiu, os movimentos mudaram, então, é fazer um redesenho dessas linhas para garantir que não tem área descoberta, que os trajetos são mais diretos, mais eficientes e que também estamos contemplando os trajetos que usualmente são feitos por mulheres, que não são os trajetos do centro para periferia, da periferia para o centro, mas em zigue-zague: para a igreja, para a escola, para o mercado, para ONG. Isso também vai trazer mais segurança e mais amparo para essas mulheres.

Tabata Amaral quer redesenhar e expandir linhas de ônibus a partir dados de Waze e Google Maps.

E claro que só redesenhar as linhas não é suficiente, tem que investir em corredor de ônibus, semáforo inteligente, para que possamos trazer velocidade. E aí, quando falamos dos domingos, eu vou manter a tarifa zero aos domingos, mas eu pretendo fazer mais do que o que é feito hoje. O que temos aqui em São Paulo é que aos domingos são as mesmas linhas de ônibus, mas com menos ônibus circulando.

E sabemos que a maioria das pessoas não fazem os mesmos trajetos aos domingos. Domingo é dia de encontro, de ver o jogo de futebol, de ir para a igreja, de ir ver uma peça de teatro, de encontrar uma tia. Então, dado tudo que a tecnologia nos oferece hoje, a nossa proposta é pensar um desenho específico para o domingo, justamente para incentivar que as pessoas possam aproveitar nossa cidade.

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A senhora protagonizou um grande momento nessa campanha eleitoral ao combater a estratégia de Pablo Marçal nas redes sociais. Qual é a sua análise, como um todo, desse personagem nessas eleições?

Tabata Amaral: Pablo Marçal vem protagonizando inúmeros espetáculos nos debates e nas redes sociais, em que ele usa de mentiras, faz ataques baixos, em que ele tenta desonrar seus adversários, e eu vivi isso alguns meses atrás. Mostrando toda a sua sujeira e falta de humanidade, Pablo Marçal saiu dizendo para a imprensa e colocou em suas redes sociais que eu seria culpada pela morte do meu pai, e aí inventou uma série de mentiras de que eu teria saído do país, que meu pai teria se matado por isso, o que eu acho que mostra que ele é uma pessoa que não sente remorso por nada, que realmente só pensa em si e no seu dinheiro. E diante de uma mentira tão asquerosa, eu rebati com força para defender a minha história e a honra da minha família.

Mas é importante dizer que esses ataques e essa baixaria que ele vem promovendo têm duas razões. Por um lado, é isso que faz com que o Pablo Marçal tenha dinheiro e atenção, e essas são as únicas duas coisas com as quais ele se importa, então quanto mais ele faz o showzinho dele e as pessoas respondem a isso e se engajam nisso, mais atenção e mais dinheiro ele tem.

O Pablo Marçal está lucrando com essa eleição, ele é alguém que sempre está liderando esquemas para que possa ganhar mais dinheiro. A eleição, a prefeitura de São Paulo, é mais um esquema pra ele. Mas tem um pano de fundo que é ainda mais grave, que enquanto o Pablo Marçal está fazendo a sua performance, as pessoas não questionam sobre o histórico criminoso que ele tem, esse é um cara muito perigoso.

Pablo Marçal fez parte, comprovadamente pela Justiça, da maior quadrilha de fraudes bancárias do Brasil. Ele inclusive foi condenado, foi preso e só não se manteve preso porque entregou seus comparsas e depois conseguiu postergar isso com advogado, com dinheiro. Ele responde a inúmeros processos de lavagem de dinheiro, processos de homicídio, então, quanto mais ele consegue falar dessas maluquices dele, menos atenção esse histórico pesado dele recebe.

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Então o que eu venho fazendo é, sim, combatê-lo e enfrentá-lo com coragem, tem que ter firmeza para ser prefeita de São Paulo, mas é também lembrar as pessoas do histórico dele. Nós nunca tivemos um candidato a prefeito com tantas ligações com o crime organizado como ele tem, e isso obviamente me preocupa, porque não só moro em São Paulo, sou apaixonada por essa cidade, mas porque eu cresci vendo o que o crime organizado faz nas periferias.

Marçal foi condenado, preso e responde a processos de lavagem de dinheiro e de homicídio, então, quanto mais ele consegue falar dessas maluquices dele, menos atenção esse histórico pesado dele recebe.

Tabata Amaral, candidata à prefeitura de São Paulo

Eu tive uma vida completamente transformada pela educação, mas muita gente que cresceu comigo não teve a mesma chance e a mesma oportunidade. Então não é teórico para mim. Eu vi filhos de amigas da minha mãe serem assassinados com 14 anos, se perderem para o mundo do crime e das drogas, então a possibilidade de ter alguém com tantas conexões com o crime organizado na prefeitura de São Paulo é uma possibilidade que obviamente me preocupa muito.

A senhora critica a forma como a atual gestão se posicionou em relação à privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo). O que a senhora teria feito diferente e, se eleita, o que pretende mudar em relação a esse tema?

Tabata Amaral: O que eu teria feito de diferente do atual prefeito, Ricardo Nunes, é que eu teria agido com coragem e independência, e eu não teria trocado um apoio político pela privatização da Sabesp, que foi o que ele fez. A Sabesp foi vendida a preço de banana, os cálculos indicam que perdemos, enquanto sociedade, pelo menos R$ 4 bilhões nesse processo, um processo completamente atropelado que pode, sim, levar a um aumento da tarifa.

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Esse processo não discutiu os inúmeros problemas que temos de falta de acesso à água e esgoto aqui na cidade de São Paulo. O que eu esperaria do prefeito seria não uma postura dogmática, porque eu também não a tenho, mas que ele tivesse brigado pelos interesses da população de São Paulo, e não foi isso que ele fez. Ele abriu mão, abriu mão dos votos da cidade, abriu mão do recurso que viria para a cidade em troca do apoio político do governador, Tarcísio [de Freitas].

A Sabesp foi vendida a preço de banana, os cálculos indicam que perdemos, enquanto sociedade, pelo menos R$ 4 bilhões nesse processo

Tabata Amaral, candidata à prefeitura de São Paulo

E o que eu farei como prefeita, dado que esse é um processo que já está concluído, é fiscalizar, é fazer o que ele não consegue fazer por incapacidade, por pequenez. Que é brigar pelos interesses de quem mora nessa cidade, brigar pelas 600 mil pessoas que hoje estão sem saneamento básico, brigar pelas periferias inteiras.

Isso acontece inclusive na comunidade em que eu cresci, em que as pessoas ficam à noite sem água, brigar por tarifas irregulares que são cobradas, enfim, lutar por algo tão essencial, que é o direito à água, que é o direito ao acesso ao saneamento básico. Prefeito e prefeita não está ali para ficar do lado de “a”, “b”, “c” ou “d”, está ali para defender os interesses da população, e Ricardo Nunes definitivamente não fez isso.

No seu plano, há grande ênfase na educação, com a proposta de alfabetizar 100% das crianças até os 7 anos. Como pretende superar os desafios estruturais da rede pública para atingir essa meta?

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Tabata Amaral: Primeiro, com um trabalho sério e focado na educação, trazendo o mesmo compromisso que eu demonstrei em Brasília com esse tema, para a cidade. É foco total na alfabetização, com avaliações bimestrais para entender onde estão as dificuldades, reforço e tutoria para não deixarmos ninguém para trás.

Temos hoje alunos chegando no terceiro, quarto, quinto, sexto ano sem saber ler e escrever. É um trabalho conjunto com a direção da escola, com as professoras e os professores. É trazer uma remuneração diferenciada, é garantir que toda a nossa rede municipal esteja alinhada, trabalhando com os instrumentos necessários para focar na alfabetização.

E aproveito para dizer que é muito absurdo o que acontece em São Paulo na pauta da educação. Quando o Bruno Covas era prefeito, São Paulo estava na posição número 2 no ranking nacional de alfabetização das capitais, São Paulo caiu 19 posições com Ricardo Nunes. Estamos hoje na posição 21, inclusive fazendo pior do que no auge da pandemia. Só para você ter uma ideia, de cada três crianças que chegam no terceiro ano, duas estão chegando sem saber ler e escrever. Isso na cidade mais rica do país, que tem o segundo maior investimento das capitais por aluno. Isso é inaceitável.

Tabata Amaral defende esforço concentrado para alfabetizar todas as crianças até o segundo ano

Uma criança que não aprende a ler e escrever vê todas as portas se fecharem na sua frente, ela não aprende biologia, não aprende português, não aprende história, não consegue ver o porquê de ir para a escola, ela se desmotiva e se torna uma presa mais fácil para o crime e para as drogas, para todos esses perigos e violências que vemos.

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Então eu tenho muitos sonhos para a educação paulistana, tenho um compromisso com a escola em tempo integral, de a gente ter robótica, esporte, teatro, dobrar a carga de inglês, levar intercâmbio para um aluno de cada escola municipal, mas sei que todos esses meus compromissos com a qualidade da educação passam por um esforço concentrado para alfabetizar todas as crianças até o segundo ano, e é isso que nós faremos.

Qual é a opinião da senhora sobre os banheiros unissex nas escolas e sobre o uso de linguagem neutra tanto no material didático quanto nas políticas públicas da prefeitura, como o programa "Saúde para Todes"?

Tabata Amaral: Eu tenho um posicionamento contrário ao uso da linguagem neutra nas escolas e também não acho que o debate de banheiros é um debate relevante, especialmente para as crianças. Mas acho que sim, precisamos ter um debate sério sobre respeito. Temos hoje casos horríveis de bullying nas escolas públicas e particulares. Aqui em São Paulo, recentemente, vimos um aluno, Pedro Henrique, cometer suicídio.

Ele era bolsista em uma escola particular e uma das razões que o levou a fazer isso foi o bullying que sofreu, entre outras coisas, pela homofobia que enfrentou. Não acho que o ponto aqui é a linguagem neutra ou o banheiro que se tem, de verdade, não acho que esse é o debate. O debate é a gente garantir que os trabalhadores da escola estão preparados para criar um ambiente em que se respeite a diferença e não se tolere o bullying.

Tem uma política pública que eu defendo que é toda escola ter o acompanhamento de um psicólogo ou psicóloga. E é por isso que defendo, inclusive, que toda UBS tenha uma equipe de saúde mental, porque estamos vendo o adoecimento dos nossos jovens. Nossos jovens e nossas crianças estão se suicidando cada vez mais novos, e não podemos ficar calados diante disso.

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E, de novo, às vezes as pessoas pegam debates nada a ver, o debate não é sobre linguagem neutra, isso é um absurdo. O debate deveria ser sobre como as escolas públicas e particulares podem ser lugares que promovam a tolerância e o respeito a todos, sem nenhuma ponderação. Me preocupa muito ver esse adoecimento dos nossos alunos e não conseguirmos fazer esse debate, ver os casos de bullying contra crianças com deficiência, bullying contra crianças com quaisquer características.

Estamos vivendo muita violência, vimos casos absurdos de atentados contra as escolas. O Brasil hoje lidera o ranking da OCDE de violência contra professores, são agressões físicas, são agressões verbais. Isso é o oposto do que eu sonho para a educação.

Educação é possibilidade, educação é oportunidade, então precisamos encarar esses problemas e garantir que as escolas sejam lugares seguros para que um pai ou uma mãe possa deixar seu filho ou filha na escola tranquilo, sabendo que essa criança não só vai voltar sã, inteira, obviamente, mas que vai voltar com um sorriso no rosto, que vai ter aprendido, que vai ter praticado um esporte, que vai ter descoberto um hobby, um talento, infelizmente, não é isso o que acontece hoje.

Uma das suas grandes bandeiras é “transformar São Paulo a partir da periferia”. Como pretende fazer isso?

Tabata Amaral: Tem uma visão que me guia muito na política pública, que é [o fato de que] a gente sempre vai olhar para todos e cuidar de todos, mas precisamos aprender a priorizar quem precisa mais, quem está numa situação mais vulnerável. Eu queria trazer um exemplo muito concreto: tenho um compromisso com a escola em tempo integral, de, em oito anos, alcançar 100% das crianças até o nono ano em escolas em tempo integral. Hoje, temos apenas 6% das crianças em tempo integral.

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E, dado que é uma transição e que não conseguimos fazer isso com todas de uma vez, defendo que priorizemos as escolas que estão em territórios mais vulneráveis, escolas que têm os piores desempenhos, escolas que enfrentam os maiores desafios. Acho que é assim que devemos fazer política pública: trabalhamos para todos, mas na hora que precisamos priorizar, começar por um lado, começamos por quem precisa mais.

Há senadores do seu partido favoráveis, neutros e contra o impeachment de Alexandre de Moraes. Qual é a opinião da senhora sobre esse assunto?

Tabata Amaral: Eu acho que é um verdadeiro absurdo que candidatos a prefeito de São Paulo, em busca de votos bolsonaristas, parem a eleição, deixem de falar sobre os assuntos de São Paulo, para ir em uma manifestação atacar uma instituição que é um dos pilares da democracia, que é o STF [Supremo Tribunal Federal]. Tudo isso me parece uma grande loucura, uma grande insanidade.

Deveríamos estar falando dos problemas que temos aqui. Não está faltando problema em São Paulo, não está faltando complexidade. E é claro que quaisquer críticas a indivíduos, quaisquer denúncias, devem ser formalizadas e levadas aos órgãos competentes. Você fazer esses ataques que, quando você vai ver, não têm lastro, a uma instituição inteira ou a um ministro como um todo, para mim, é simplesmente fazer palanque político.

É você querer apostar nesse grande "Fla-Flu", nessa grande polêmica que estamos vendo nesta eleição. Se alguém tem alguma crítica individualizada, tem alguma questão, é só levar isso aos órgãos competentes e aguardar as investigações. O que não dá é para atacar uma instituição inteira como estão fazendo, só porque isso viraliza e dá voto.

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Quais são os seus planos políticos caso não vença a eleição? Cogita concorrer ao Senado?

Tabata Amaral: Eu sou deputada federal e tenho muita convicção e fé em Deus de que estarei no segundo turno. Mas, se por alguma razão essa não for a vontade de Deus, voltarei a fazer o trabalho que realizo como deputada federal. Acabei de ser escolhida mais uma vez como a melhor deputada do Congresso, entre homens e mulheres.

Já tenho 19 projetos de lei que foram aprovados e que viraram leis, projetos que relatei, que eu fui autora ou coautora, como o projeto dos absorventes nas escolas e o “Pé de Meia”, que está mudando a vida de quase 3 milhões de jovens. Então, a minha missão é servir. E o povo e Deus vão dizer onde eu farei isso melhor. Seguirei trabalhando muito e honrando todos os votos que recebi até aqui.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]