A candidatura do influenciador Pablo Marçal (PRTB) tem gerado debates internos entre parlamentares de direita sobre os rumos das eleições em São Paulo. Ouvidos pela Gazeta do Povo, alguns defendem que a direita deveria ter uma candidatura mais alinhada ideologicamente; já outros argumentam que a direita siga a orientação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mantenha o acordo firmado para apoiar a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) à prefeitura tendo como vice o coronel Ricardo Mello Araújo, indicado pelo ex-presidente.
Para o deputado federal Delegado Palumbo (MDB-SP), a oposição deveria apostar em um nome mais à direita para a prefeitura de SP, fazendo contraposição à candidatura do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP). Na avaliação do parlamentar paulista, a direita não deveria ficar “à sombra” do centrão.
“Acho bom que o Marçal esteja na disputa. É mais um candidato de direita para combater o Boulos. O Ricardo Nunes é de centro-direita, mas acho que a direita deveria se unificar em torno da candidatura de Marçal contra Boulos”, disse o parlamentar.
Indagado sobre o apoio a Marçal e a participação em um evento convocado pelo influenciador, Palumbo afirmou ter sido eleito de forma independente e que o comparecimento “não significa necessariamente que irá apoiá-lo no futuro”.
Aliada de Bolsonaro, a deputada federal Carla Zambelli (PL) defende que a direita, bem como o Partido Liberal, mantenha o apoio a Nunes. Ela argumentou que a sigla já possui a vice-prefeitura com a indicação do ex-coronel da Rota Ricardo Mello Araújo (PL) e que a direita deve ter cuidado para não dividir os votos.
“O partido tem a vice-prefeitura com o Ricardo Nunes, então temos que apoiar o Ricardo Nunes. O Pablo Marçal vem como uma alternativa, sim. Mas temos que ter o cuidado de não dividir muito os votos da direita e acabar entrando para o segundo turno com o Boulos”, disse a parlamentar.
Ela também defendeu que a eleição para a capital paulista seja decidida entre direita e esquerda. “Eu acho que tem que ser uma eleição decidida entre direita e esquerda em São Paulo. E ambos (Nunes e Mello) não são extrema-direita, ambos são uma direita moderada”, afirmou Zambelli.
Marçal é visto como alternativa a Ricardo Salles
A preferência de alguns parlamentares de direita pela candidatura de Marçal também está ligada à saída do deputado Ricardo Salles (PL-SP) da disputa pela cidade de São Paulo. Em dezembro do ano passado, o presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, anunciou que Bolsonaro havia escolhido apoiar Nunes para a disputa.
O ex-ministro do Meio Ambiente era defendido pelos deputados mais ligados a Bolsonaro como a melhor escolha para o partido na capital. A leitura era que, tendo um prefeito de São Paulo mais direitista, a oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria mais força para eleger mais candidatos.
“Pelo tamanho do PL, tinha que ter um candidato próprio. O Ricardo Salles seria um bom nome, mas, infelizmente, o PL não quis isso e já tem os acordos. Ter um candidato próprio possibilitaria não ficar à sombra de ninguém”, disse Palumbo.
Desde as eleições de 2022, o debate entre parlamentares de direita é que o espectro precisa ter maior independência do centrão. A leitura é que o fisiologismo dos deputados desses partidos - como PP, PSD e MDB - impede que as pautas conservadoras avancem, por exemplo, no Congresso Nacional.
Como os partidos tendem a apoiar o governo, atualmente comandado pelo PT, em troca de cargos, ministérios e emendas, a alternativa para a mudança desse cenário partiria das eleições municipais - principal termômetro para as eleições gerais em 2026.
Avaliando o cenário municipal, o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, afirma que as diferenças ideológicas entre o centro e a direita explicam essa resistência de deputados de oposição ao nome de Nunes.
“Existe nesta eleição uma disputa entre a direita e a centro-direita que, às vezes, tende a convergir com a centro-esquerda. Um exemplo do passado é o que aconteceu com o João Dória: teve sucesso eleitoral quando assumiu uma feição mais à direita, mas perdeu eleitorado ao assumir valores de centro-esquerda. A ala mais conservadora da direita não gosta desse perfil do Ricardo Nunes”, disse.
Oposição corteja Marçal, mas parlamentares apostam em Nunes x Boulos
Em Brasília, Marçal é cortejado por parlamentares próximos a Bolsonaro. No último dia 5 de junho, o empresário realizou uma visita à Frente Parlamentar Evangélica (FPE) e foi elogiado pelo então líder da bancada, o deputado Eli Borges (PL-TO). “Marçal é um cristão. Conhece a força, os valores e os princípios do evangelho. Estamos precisando muito disso no Brasil”, disse o deputado após um culto realizado pela FPE.
O crescimento registrado de Marçal no levantamento da Paraná Pesquisas, publicado na terça-feira (25), também animou parlamentares da oposição que apoiam Marçal. Segundo a pesquisa, o coach aparece em terceiro lugar com 11,9% das intenções de voto. Nunes e Boulos pontuam 31,1% e 27%, respectivamente.
No comparativo com a pesquisa anterior, Nunes e Boulos oscilaram dentro dos limites da margem de erro. O prefeito de SP havia obtido 33,1% das intenções e Boulos, 26,9%. Já Marçal teve crescimento real: no levantamento anterior, ele havia marcado 6,9%.
Metodologia: O Paraná Pesquisas ouviu 1.500 eleitores da capital paulista entre os dias 19 e 24 de junho. A margem de erro do levantamento é de 2,6 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número SP-06695/2024.
No entanto, falando de forma reservada, os congressistas admitem que a disputa deve ser decidida, até o momento, entre Nunes e Boulos. A percepção é que Marçal tem prospecção, mas que o suporte da “máquina pública” nas mãos de Nunes poderá ser o diferencial para o embate com o deputado do PSOL. Além disso, a preferência de Bolsonaro por Nunes é vista como fundamental para que o atual prefeito vá ao segundo turno.
Na avaliação do cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), o apoio de deputados de direita à candidatura de Marçal pode ser visto como um fator de pressão para que Nunes adote uma postura mais à direita, reforçando o eleitorado conservador em São Paulo.
“Acho que é plausível dizer que esse apoio acaba sendo uma exigência para que Nunes, se for mesmo um candidato com apoio da direita, adote uma postura mais à direita do que ele tem hoje. Isso pode ser visto com a própria indicação do coronel Mello”, disse o cientista político.
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