A indefinição sobre o vice na chapa de Ricardo Nunes (MDB) na disputa pela prefeitura de São Paulo ainda não chegou ao fim. Esperava-se que o jantar organizado pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), na noite desta quarta-feira (19), no Palácio dos Bandeirantes, concretizaria o nome do ex-comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar da Polícia Militar de São Paulo), coronel Ricardo de Mello Araújo (PL), indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A gestão Tarcísio optou por fechar o evento à imprensa, o que causou constrangimento para a equipe de Ricardo Nunes, que tentará a reeleição. Após às 23h - e três horas de evento - Nunes e Tarcísio, ao lado de Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, se dirigiram ao portão do Palácio dos Bandeirantes com bolo e salgadinhos para tentar amenizar o desconforto com os jornalistas.
O evento, que também comemorou o aniversário de 49 anos de Tarcísio, reuniu 15 pessoas, entre eles representantes das 11 legendas que apoiam a candidatura de Nunes à reeleição: o MDB de Rossi, o PL de Valdemar Costa Neto; o PSD de Gilberto Kassab; o PP de Ciro Nogueira; o Republicanos de Marcos Pereira; o Solidariedade de Paulinho da Força; o Avante de Luís Tibé; o PRD de Mauro Carvalho; o Podemos de Renata Abreu; o Agir de Daniel Tourino; e o Mobiliza de Antonio Massarolo.
Além deles, há o União Brasil, que em São Paulo tem como cacique Milton Leite, presidente da Câmara Municipal de São Paulo, contrário à indicação de Mello Araújo. Caso embarque na frente ampla de Nunes, o União será a 12ª sigla do grupo.
Indicação de Mello Araújo como vice de Nunes é dada como certa
Apesar das expectativas, Mello Araújo ainda não foi confirmado porque, de acordo com Tarcísio e Nunes, alguns detalhes precisam ser acertados até a realização do anúncio oficial. Eles confirmaram que houve consenso dos partidos sobre a indicação vir do PL, porém a informação já era sabida e vetou a possibilidade de Aldo Rebelo ser cotado ao cargo.
Sobre a aceitação de Mello Araújo pelos partidos, ambos afirmaram que não houve objeção de nenhuma sigla. Na terça-feira (18), Baleia Rossi havia afirmado que seis dos 11 partidos já topavam o nome do coronel.
"[A aceitação da indicação do] nome do coronel também, zero objeção da nossa parte, da parte dos partidos. Eu acho que é mais uma ou duas conversas para fazer o ajuste fino e a gente anunciar ainda provavelmente nessa semana o nome do vice", disse Tarcísio.
"Cada partido comentou, ninguém tem objeção e tirou-se o consenso de que a indicação será do PL. Agora, há algumas questões para analisar e a gente deve anunciar até sexta-feira o nome definitivo", disse Nunes. Na quinta-feira (20), Tarcísio e Bolsonaro devem se reunir por videoconferência para discutir a questão.
Mello Araújo é homem de confiança de Bolsonaro
Mello Araújo, que presidiu a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) durante o governo de Jair Bolsonaro, é conhecido pela longa amizade com o ex-presidente, iniciada em 2017. Na época em que era comandante da Rota, Araújo declarou apoio a Bolsonaro, mesmo mesmo tendo como chefe o então pré-candidato à presidência da República, Geraldo Alckmin (PSDB).
"O deputado Jair Bolsonaro, eu votaria nele. Eu não sou político e não gosto de falar muito de política, mas eu entendo que o país precisa de pessoas honestas no comando. E a população sente isso", disse ele na ocasião ao portal UOL.
A confirmação da indicação de Mello Araújo como vice, feita por Bolsonaro, vinha sendo um ponto de tensão entre os apoiadores de ambos os lados. No início de junho, o pré-candidato Pablo Marçal (PRTB) encontrou-se com Bolsonaro em Brasília e chegou a afirmar à imprensa que o ex-presidente não apoiaria Nunes, o que foi desmentido por Bolsonaro.
"Em nenhum momento eu falei para ele que não iria apoiar o Ricardo Nunes. Assim sendo, ele se equivocou, ou alguém se equivocou. Eu falei que tinha compromisso já com o Nunes, porque o vice é meu, o Mello Araújo", disse Bolsonaro.
O que atrasa o anúncio sobre o vice de Nunes
O gabinete de campanha de Nunes prefere que a escolha do vice seja divulgada mais próxima das eleições, porém a entrada de Pablo Marçal na disputa e a pressão de Bolsonaro pressionam para que o anúncio seja feito o quanto antes. A interpretação é que, dessa maneira, não se corre o risco de a direita se dividir e perder votos para nomes como Marçal.
Além disso, a campanha de Nunes não é favorável à escolha pelo ex-comandante da Rota por poder afugentar votos do centro e surfar na rejeição a Bolsonaro. Ademais, como ex-comandante da Rota, Mello Araújo enfrenta dificuldades de fazer campanha nas periferias, principalmente em locais onde predomina a liderança da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
As siglas que compõem a chapa de Nunes, por sua vez, precisavam entrar em um consenso. Líderes do Progressistas, por exemplo, deixaram clara a insatisfação por, de acordo com a legenda, não terem sido procurados para compor a chapa na disputa pela capital paulista.
Nunes elogiou passagem de Mello pela Ceagesp
Em entrevista à imprensa concedida nesta quarta-feira (19) antes do jantar, o prefeito Ricardo Nunes rasgou elogios a Mello Araújo, reforçando a tese de que ele será o nome escolhido para compor a chapa à reeleição.
"Fiquei encantado. Um cara que põe na cadeia quem faz exploração sexual infantil, que põe na cadeia corrupto, que põe na cadeia organização criminosa, não dá para negar que merece, no mínimo, o nosso respeito", disse Nunes.
O prefeito elogiou a passagem de Araújo na Ceagesp e disse que, enquanto ele esteve na direção, a companhia passou a adquirir lucro após um cenário de dívida de R$ 90 milhões.
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