A largada dos debates eleitorais à prefeitura de São Paulo ocorreu na noite desta quinta-feira (8) no encontro promovido pela Band. O primeiro debate das eleições de 2024 teve a presença dos candidatos Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (Psol), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB) e Tabata Amaral (PSB).
O debate na maior capital do país foi acirrado com inúmeras trocas de acusações e ofensas pessoais, com diversos pedidos de direitos de resposta, em que as propostas para a cidade de São Paulo ficaram em segundo plano.
O ponto alto
O candidato tucano Datena lembrou várias vezes das investigações sobre a infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) no transporte coletivo paulistano, por meio de contratos com empresas ligadas ao crime organizado, vencedoras de licitações. Em dobradinha com Boulos, o apresentador de TV usou o caso durante o debate para atacar o prefeito Ricardo Nunes.
"Não pode ter bandido enfiado como está praticamente provado pelo Ministério Público, por forças-tarefa da polícia de São Paulo. Pelo menos duas empresas de ônibus, Transwolff e UPbus, estão misturadas com o PCC". Em seguida, Datena questionou o prefeito de São Paulo. "A pergunta que eu deixo para o Ricardo Nunes é se ele tem medo, se ele teme o crime organizado".
Nunes teve direito de resposta concedido e prometeu processar o candidato PSDB. "O direito de resposta é uma repreenda a quem insiste em atacar as pessoas. O apresentador José Luiz Datena já foi condenado por imputar crime a pessoas inocentes. A honra da pessoa não pode ser atacada. Está claro o joguinho que ele está fazendo com o Boulos. É um grande apresentador, quase 30 anos. Aqui não é um programa de televisão. Tenha respeito, candidato. E vai ganhar mais um processo", respondeu Nunes.
Posteriormente, Datena usou o tempo de resposta de outra pergunta de Nunes para afirmar que foi condenado, principalmente por acusar "bandidos que teriam cometido crimes que na realidade julgados pela Justiça, foram considerados alguns inocentes".
"Vai ser uma maravilha o senhor me processar, porque eu vou pendurar lá no quadro principal da minha casa. É uma honra ser processado por gente como você, que beira à acusação grave de pertencer a organizações que estão resvalando o crime organizado dessa cidade. Que beira a barbaridade de contratos com empresas criminosas que lesam a cidade, com licitações, 70% em caráter emergencial", complementou Datena.
Recebendo novamente direito de resposta, Nunes afirmou que "esse senhor já foi condenado várias vezes por imputar crime a pessoas inocentes. Por praticar outros crimes. Eu não vou falar aqui, em respeito à família dele". Nesse momento, Datena gritou "fale", com sua voz podendo ser escutada ao fundo do microfone de Nunes.
As polêmicas
Nunes x Boulos
Um dos pontos de maior tensão no debate da Band ocorreu quando Guilherme Boulos perguntou a Ricardo Nunes qual a relação do prefeito com Pedro José da Silva. Em resposta, Ricardo Nunes afirmou que Boulos "deveria responder quem é Janones" e que ele "instituiu a legalização da rachadinha", e afirmou posteriormente que Pedro José da Silva "presta serviço para a prefeitura há mais de 20 anos".
Na réplica, Boulos afirmou que Pedro "é o compadre dele que recebeu 10 contratos em obras sem licitação", e que Nunes "escolheu a empreiteira do compadre para ganhar obras". Na fala, Boulos citou o nome de "Genário Nascimento da Cruz, que está sendo investigado pelo Ministério Público por contrato de R$ 27 milhões com a prefeitura de São Paulo, pelo Instituto Pilar."
Em resposta, Nunes também pediu para Boulos explicar quem é Nicolas Maduro. O ditador venezuelano tem recebido o apoio de partidos de esquerda no Brasil, apesar dos indícios de fraude na reeleição de Maduro na Venezuela.
Marçal x Tabata
Durante uma pergunta sobre segurança pública, a candidata Tabata Amaral acusou o empresário Pablo Marçal de ter sido condenado no estado de Goiás por fraudes bancárias. "O candidato que está ao meu lado foi condenado por formação de quadrilha em um esquema de fraudes bancárias. Eu queria saber o que ele fará para proteger os idosos que vivem caindo em golpes de WhatsApp como esse", disparou.
"Ele também é investigado pela Polícia Federal por falsidade ideológica, apropriação indébita e lavagem de dinheiro. Então minha pergunta é muito simples: você pretende usar a sua experiência no mundo do crime para cuidar de São Paulo, para fazer política pública em segurança?", complementou a deputada.
Em resposta, Pablo Marçal afirmou que não existe condenação e disse que o presidente Lula é o heroi de Tabata. "Não há condenação, se tiver eu deixo aqui essa disputa agora imediatamente. Isso que você falou sobre mim, você tem um herói chamado Luiz Inácio Lula da Silva, que foi condenado por nove juízes, em três instâncias, 580 dias de cadeia, e você vive 'babando ovo' para ele", rebateu.
Marçal foi ficando cada vez mais irritado e subindo o tom na resposta. "Eu te desafio agora, se você é a sabichona, fala o nome do que eu peguei, do que eu toquei, que eu devolvo. Agora eu quero saber que dia que você vai devolver a moral desse país, com o Luiz Inácio Lula da Silva, com a Dilma, você que é parachoque de comunista. Você não vai direcionar nenhuma pergunta para o Boulos. Você é uma candidata fantoche".
Em seguida, Marçal passou a criticar os outros candidatos presentes. "Você que está aqui nessa cidade, se quiser a cidade m.... que está hoje, continua com o Ricardo [Nunes], que não tem perfil para prefeito. Se você quiser uma m.... de Venezuela, olha a cara daquilo ali [Boulos], dá uma olhada na cara daquele comedor de açúcar, continua acreditando nisso, esse apoiador de Hamas, de grupo terrorista", afirmou.
"O cara [Boulos] não cuida da saúde dele, vai cuidar da sua? Esse conjunto teatral aqui quer chamar a sua atenção para continuar do mesmo jeito", completou Marçal.
Boulos teve pedido de direito de resposta atendido e retrucou com as acusações de condenação na Justiça goiana contra Marçal. "Ele falou que sai da disputa se alguém apresentar a sentença de condenação dele, que a Tabata trouxe, que é verdadeira, por formação de quadrilha em fraude bancária. Está subindo agora na minha rede social a cópia da sentença de condenação do Marçal por quatro anos de cadeia. Espero que ele cumpra a palavra e saia da disputa. Ele disse que o Datena ia ser o primeiro a sair, acho que vai ser ele, a não ser que não cumpra a palavra e mostre o charlatão que é", respondeu o candidato do Psol.
Tabata Amaral x Ricardo Nunes
A candidata Tabata Amaral questionou Ricardo Nunes sobre a acusação que teria agredido a esposa. "Em uma sabatina do UOL, você foi questionado sobre isso e disse que o BO foi forjado", questionou Tabata, afirmando que isso foi desmentido "no dia seguinte" pela polícia. "São Paulo não merece um prefeito que mente e é agressor de mulher. Você mentiu ou não?", questionou Tabata, subindo o tom na pergunta.
"Nunca levantei um dedo para a minha mulher", respondeu Nunes, visivelmente transtornado com a pergunta. "Inclusive está aqui, estamos juntos há 27 anos, temos três filhos, tenho um netinho, minha filha Naiara está grávida. O que acontece é que na época de eleição aparecem esses assuntos, no período de eleição infelizmente forjam essas histórias. Eu realmente tive um desentimento com a minha esposa", disse ele, afirmando estar surpreso com a pergunta de Tabata: "Não esperava isso de você."
Tabelinha do debate em São Paulo: Datena com Boulos
Em alguns momentos, José Luiz Datena criticou Boulos, mas preferiu se juntar ao candidato do Psol para fazer críticas a Ricardo Nunes - antes de Datena se lançar como candidato, ele cogitou disputar as eleições em uma chapa conjunto com Boulos. No primeiro bloco do debate em São Paulo, por exemplo, escolheu fazer perguntas a Guilherme Boulos, mas utilizou seu tempo para criticar o prefeito, o que foi complementado pelo psolista.
"No meu governo ninguém vai sentar em ônibus do PCC", afirmou Datena se referindo indiretamente a Nunes e afirmando que grande parte das obras feitas na gestão de Nunes são feitas sem licitação. "Se provarem essas mentiras, ele vai para a cadeia", completou o apresentador.
Mas Datena destoou da "tabelinha" com Boulos e aproveitou a chance para cobrar explicações sobre a conduta do candidato de esquerda. "Você anda de braços dados lá na Comissão de Ética, o Janones da rachadinha", criticou. "Depois eu quero saber se você é democrata, que parece que não é, quem apoia o Maduro da ditadura da Venezuela. Você devia ser prefeito em Caracas [capital da Venezuela]", afirmou.
Em resposta, Guilherme Boulos se mostrou indignado: "Datena, até tu com fake news. De você, eu não esperava. Te conheço, sei que você é uma pessoa correta. Não precisa vir com fake news aqui."
Do que eles falaram?
Apesar de a segurança pública ser o tema apresentado por especialistas como o principal da campanha eleitoral à prefeitura de São Paulo, ele não foi tão explorado quanto o esperado no debate da Band, aparecendo como coadjuvante quando abordado o combate à cracolândia, a melhoria do turismo na cidade e as políticas públicas no Centro do município de São Paulo.
Questionado sobre o tema por uma jornalista da Band, Ricardo Nunes afirmou que aumentou a contratação de Guardas Civis Metropolitanas, deu aumento à corporação e instituiu o uso de câmeras Smart Sampa, trabalhando entrosado com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Outros temas como transporte público, educação, mobilidade urbana, saúde, parques públicos e até concessão de cemitério foram explorados ao longo das discussões entre os candidatos.
Pablo Marçal apresentou como proposta para melhorar a mobilidade urbana nas periferias um "elevador horizontal", que funcionaria como um teleférico, defendendo-o como mais barato e movido por energia limpa. Além disso, ele propôs centros olímpicos e pontos gastronômicos para fazer "bolsões" nas favelas.
A proposta foi rebatida por Ricardo Nunes, que a considerou impossível "até por uma questão de relevo da cidade".
Como funcionou o debate em São Paulo
Mediado pelo jornalista Eduardo Oinegue, o debate da Band à prefeitura de São Paulo teve início às 22h30 da quinta-feira (8). Os participantes tiveram confrontos diretos de perguntas e respostas. Em outro momento, as perguntas foram feitas por jornalistas do Grupo Bandeirantes.
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