A menos de uma semana do primeiro turno das eleições 2024, os candidatos à prefeitura de São Paulo participaram do penúltimo debate antes do domingo (6). O encontro da manhã desta segunda-feira (30), promovido por Folha de S.Paulo e UOL, foi marcado por poucas propostas para a maior cidade da América Latina, além de mais ataques entre os candidatos e discussões sobre religião e mulheres.
Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (Psol) optaram por enfrentamentos mais diretos. Os dois, com Marçal, aparecem empatados tecnicamente, segundo pesquisa Real Big Data*, publicada nesta segunda-feira. Pablo Marçal (PRTB) apelou para a religião dos candidatos e fez críticas às mulheres. Tabata Amaral (PSB), por sua vez, se esquivou sobre não ter votado no projeto que legalizou apostas online no Congresso Nacional, criticou a postura dos demais candidatos e, entre eles, foi quem trouxe mais propostas para o embate.
Os quatro foram convidados para o debate por serem os melhores posicionados nas últimas pesquisas. O encontro, mediado pela jornalista Fabíola Cidral, teve quatro blocos e durou 90 minutos.
Embates entre Nunes e Boulos
O candidato do Psol, em diversos momentos, questionou a gestão de Nunes, afirmando que ele não cumpriu promessas, como o programa "Pode Entrar" que prometia 100 mil unidades habitacionais. Nunes, por sua vez, se defendeu, disse que até o final do ano terá 72 mil casas entregues e afirmou que sua gestão teve recorde de geração de emprego e de investimentos.
Boulos trouxe, ainda, denúncias contra a gestão de Nunes, como "R$ 50 milhões em contrato para o compadre do Ricardo Nunes, padrinho da filha dele. Essas denúncias foram publicadas pela Folha de S. Paulo e o UOL". Citou ainda R$ 4 milhões utilizados por Nunes sem licitação.
"Outro dia Nunes, você declarou que Boulos não tem experiência, mas você não geriria nem carrinho de cachorro quente. Imagino você administrando um carrinho de cachorro quente, que ia custar R$ 300, a salsicha ia vir do compadre, a mostarda ia comprar do amigo. Essa eu quero longe de mim", afirmou o candidato do Psol, citando ainda a experiência de Marta Suplicy, vice na chapa dele.
Nunes, por sua vez, afirmou: "Boulos tem insistido em falar e tenho muita tranquilidade: o padrinho da minha filha presta serviço há 20 anos para prefeitura". O prefeito acrecentou: "Não existe investigação, nem indício de que o serviço não foi feito. A única questão que ele traz é de uma pessoa que eu conheço". E completou afirmando que "existe todo o procedimento para fazer contratações", que passam por controladoria e Ministério Público.
Boulos reforçou que Nunes estava sendo investigado pelo Ministério Público por obras sem licitação e o atual prefeito afirmou que "não admite e não permite qualquer tipo de corrupção. Nunca tive indiciamento, nunca tive investigação. Se tem que investigar? Óbvio, a Controladoria está aí para isso, o Ministério Público está aí para isso". E complementou: "Da minha parte, tolerância zero com corrupção".
Tabata também criticou a gestão do atual prefeito: "Por três anos não teve governo. Veio ano de eleição e ele (Nunes) percebeu que as pessoas nem sabiam o nome do prefeito. Aí fez o quê? Gastança. Aí vieram projetos sem licitação, sem transparência, mais de 200 contratos estão sendo investigados. Não adianta nada ter dinheiro, trazer projeto se não tem controle do dinheiro, dos problemas da cidade".
Logo no início do debate, Ricardo Nunes perguntou pra Boulos sobre o posicionamento dele sobre a classe média e afirmou que o psolista disse que essa parcela da população era "intolerante, homofóbica, racista". Boulos rebateu: "Existe um setor da sociedade brasileira, inclusive da classe média, que padece do racismo, intolerância, um setor que elegeu o pior presidente da nossa historia e que hoje está contigo, Ricardo Nunes", disse então, referindo-se ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Marçal ataca mulheres e traz religião para o debate em São Paulo
O candidato do PRTB evidenciou a questão da religião para o debate, ao falar que, em encontro anterior, Nunes não conseguiu recitar um versículo da Bíblia sem se atrapalhar. E afirmou, ainda, ser cristão.
O prefeito de São Paulo, por sua vez, disse que tem vida dentro da igreja, com grupo de oração dentro da própria casa, mas que isso não é assunto de debate. "Essa coisa de falar de religião, sabe que fica feio para você. Você ir lá na Assembleia de Deus falar com grande líder, dizer que ele te apoia e ele não te apoia", afirmou, complementando: "Você só veio para tumultuar".
Tabata, que foi acusada por Marçal de não entender sobre religião, se posicionou sobre o assunto: "Sabe por que não fico esbravejando da minha fé? Porque não preciso, a relação que tenho com Deus é com Deus, com minha comunidade, com a igreja, e aprendi que o bom cristão demostra seus valores por seus atos, e não por palavras", disse, complementando: "Quanta gente que já foi condenada, já foi investigada, onde está na Bíblia que o cristão rouba e dá golpe?"
Boulos disse que, com todos os desafios da cidade, o debate "ficou rodando quem seria mais cristão. A gente precisa ter proposta para moradia, saúde, educação".
Durante o embate com a candidata do PSB, Marçal, que chegou a convidar Tabata para ser secretária de Educação em eventual governo dele, atacou a candidata do PSB e disse que "o fato de ela ficar esbravejando é porque ela quer provar que é mulher". Na sequência, emendou: "Se mulher votasse em mulher, você ganharia no primeiro turno. Mulher não vota em você porque é inteligente". Boulos rebateu: "Lamento a fala de Marçal insinuando que quem vota em mulheres não é inteligente".
Além disso, em diversas vezes, o candidato do PRTB também questionou o atual prefeito Ricardo Nunes sobre o motivo de a esposa dele ter registrado boletim de ocorrência por agressão doméstica. Nunes disse que a pergunta era "uma tática dele (Marçal) que deu golpe a vida inteira. Eu não vou cair no golpe dele. Vou manter minha estabilidade". Ele disse, ainda, que inaugurou o primeiro centro de saúde das mulheres e ampliou o programa Maria da Penha para toda a cidade.
Tabata se esquiva sobre votação para liberação de apostas e critica postura dos candidatos
No primeiro bloco, a jornalista Thais Bilenky questionou Tabata sobre a abstenção dela durante votação em projeto no Congresso Nacional que liberou apostas esportivas. "Apesar de não ter esse voto específico registrado, minha posição é conhecida: precisamos de lei dura pra regulamentar essa apostas", disse. Ela citou que, com as bets e as apostas online, "estamos vendo idosos, adultos jovens que estão adoecendo, que estão se endividando, enquanto as empresas que são de fora do pais estão enriquecendo".
A candidata do PSB citou ainda que é a responsável pela criação no Congresso da bancada da saúde mental e que no seu plano de governo tem a previsão de apoio à saúde mental em todas as unidades básicas de saúde e também prevê que as escolas tenham psicólogos. Enquanto os demais candidatos discutiam entre si, Tabata criticou a postura deles: "Só queria chamar a atenção para o que mais uma vez acontece: olha o tempo que já transcorreu". E complementou: "Se seguir nesse blablablá, se não se debruçar dos problemas reais, a gente vai perder uma baita oportunidade de questionar os problemas e de eleger uma prefeita que não vai ficar no 'oba oba'".
A candidata também trouxe para o debate a apresentação de propostas, questionando Marçal sobre suas ações para pessoas com deficiência. Ela trouxe, ainda, um vídeo em que, segundo ela, o candidato do PRTB "humilhou" uma pessoa que estava em uma cadeira de rodas, dizendo que ela não andava por falta de vontade.
Marçal rebateu dizendo que o plano de governo de Tabata é brilhante, mas que ela não será eleita e, em relação ao vídeo, disse que estava orando por aquela mulher. "(Marçal) Não tem nenhuma proposta. Lembrando que Nunes defendeu tirolesa pra pessoas com deficiência", disse Tabata, afirmando que, entre suas propostas, estão pontos de ônibus acessíveis, ônibus acessíveis, escolas com profissionais especializados para atendimento das crianças e apoio psicológico para pais de crianças atípicas.
Boulos aproveitou o modelo do debate, que permitia que eles comentassem todas as perguntas, para apresentar sua proposta para pessoas com deficiência: "A gente vai colocar auxiliares em todas as escolas e vamos criar centros de referência dos autistas em todas as regiões da cidade".
*Metodologia da pesquisa Real Big Data: 1.500 entrevistados pelo Real Time Big Data entre os dias 27 e 28 de setembro de 2024. A pesquisa em São Paulo foi contratada pela 3 Poderes Mídia e Comunicação. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº SP-05171/2024.
Regras diferenciadas no debate em São Paulo
O debate com os candidatos a prefeito de São Paulo desta segunda-feira (30) foi o primeiro desta campanha com formato de banco de tempo, em que o próprio candidato administra a duração das falas dentro de um limite estabelecido, de 20 minutos. Nunes foi o candidato que pior administrou seu tempo, ficando com menos tempo que os demais candidatos no final do debate.
Os candidatos puderam fazer uso da palavra em qualquer resposta, mesmo que a pergunta não tivesse sido dirigida a ele.
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