A pré-campanha do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição, trabalha para conter os efeitos do recente anúncio de pré-candidatura de Pablo Marçal (PRTB). Apesar de estar em um partido pequeno, Marçal já aparece em sondagens de voto (veja abaixo) à frente de candidatos com mandato.
Nunes tenta fortalecer o engajamento entre eleitores de direita e centro-direita, justamente entre os quais Marçal mantém maior reduto. Na semana passada, Marçal esteve em Brasília e se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), fato que movimentou os bastidores que antecedem a eleição na capital paulista Após o encontro, Marçal chegou a afirmar que Bolsonaro não apoiaria Nunes, mas o ex-presidente desmentiu a informação, reafirmando o acordo com o prefeito.
Segundo apuração da Gazeta do Povo, coordenadores da campanha de Nunes avaliam que será necessário antecipar a escolha do vice para a chapa. Um dos pedidos de Bolsonaro para apoiar mais ativamente Nunes é a confirmação do nome do ex-comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), coronel Mello Araújo, como vice.
Para garantir o apoio de Bolsonaro, Nunes deverá anunciar o vice ainda em junho, antecipando o anúncio previsto até então para o período das convenções partidárias, que ocorrem entre o final de julho e o início de agosto. Outro fator que deve acelerar essa decisão é a reunião que ocorrerá nesta sexta-feira (14) entre Nunes e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que apoia o nome de Mello Araújo e deve aconselhar o prefeito a antecipar a indicação para assegurar Bolsonaro em seu palanque.
Em entrevista coletiva na segunda-feira (10), Tarcísio comentou sobre a entrada de Marçal na disputa eleitoral da maior capital do país e cobrou celeridade do prefeito na escolha do vice. "Entendo que, até pela mudança de cenário, é mais importante do que nunca fazer o acerto o mais rápido possível", declarou o governador.
Caciques do MDB haviam avaliado que os eleitores de direita votariam naturalmente em Nunes pela rejeição ao pré-candidato à prefeitura de São Paulo da ala da esquerda, Guilherme Boulos (Psol), e por não haver um candidato próximo a Bolsonaro na disputa. Com a entrada de Marçal, a estratégia mudou, e Mello Araújo pode ser o elo que conecta o eleitorado bolsonarista a Nunes.
“Eu não tiro voto do Nunes, porque ele não tem” diz Pablo Marçal
Em entrevista à Gazeta do Povo, Pablo Marçal disse que não tirará votos do prefeito de São Paulo na campanha. “Não estou tirando voto dele [Nunes], porque ele não tem voto. Ele é vice, não ganhou voto, foi colocado na chapa. As pessoas votaram no Bruno Covas, ele é o herdeiro”.
Questionado sobre a posição de Nunes nas pesquisas, Marçal afirmou que em pouco tempo isso mudará. “Temos oito semanas para o dia 6 de outubro. O Nunes vai desidratar, semana após semana. Estou em política já tem tempo. Não exerci nenhum cargo, mas entendo um pouquinho do jogo. O Nunes é natimorto na política”, disparou ele.
Marçal também descartou a possibilidade de ser vice de Nunes. “Sem chance. Mais fácil ele vir de vice. Encontrei a esposa dele no leilão do Neymar e ela falou ‘meu marido é muito trabalhador’, inclusive se ele for isso mesmo, posso oferecer uma secretaria para ele”, respondeu.
Na semana passada, Marçal esteve na Câmara dos Deputados e assistiu à Comissão de Ética julgar o caso do deputado federal André Janones (Avante-MG) sobre possível prática de rachadinha (quando os assessores transferem parte dos salários para o parlamentar). Boulos atacou Marçal, chamando-o de picareta e sugerindo que ele estaria vendendo sua candidatura para Nunes.
“Trouxeram até coach picareta para vir tentar tumultuar a sessão. Espero muito que não venda sua candidatura para o prefeito Ricardo Nunes. Quero te enfrentar nos debates. Não venda sua candidatura para o prefeito Ricardo Nunes, tem gente que está dizendo que você está vendendo", desafiou Boulos.
Cientista político diz que Nunes e Marçal disputarão quem é mais bolsonarista
Rodrigo Prando, cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirma que Marçal e Nunes disputarão para ver que é o candidato mais bolsonarista. “A entrada de Marçal pode tirar votos de Nunes, já que ambos se identificam com o mesmo espectro político e ideológico. Inclusive pode ocorrer uma disputa entre eles para ver quem é o mais bolsonarista objetivando os votos desse segmento do eleitorado”.
Prando confirma a aposta de que, com a chegada de Marçal, Nunes deve acelerar anúncio de vice. “O vice costuma ser escolhido após muitas discussões e, com essa pressão do Marçal, o vice indicado por Bolsonaro pode ser chancelado de forma mais rápida, pleiteando a conquista do segmento bolsonarista do eleitorado paulistano”.
Marçal desponta em pesquisas de intenções de votos para prefeitura de São Paulo
No último dia 29, o instituto Paraná Pesquisas divulgou um novo levantamento com as intenções de voto para a prefeitura de São Paulo. No cenário de pesquisa espontânea, ou seja, quando o entrevistador não cita os nomes dos pré-candidatos, Pablo Marçal apareceu com 0,3% das intenções de voto.
Já no cenário estimulado, ou seja, quando os nomes dos pré-candidatos são apresentados para o eleitor, as intenções de voto em Pablo Marçal chegaram a 5,1%. Em outro cenário estimulado em que a pesquisa não colocou os nomes de José Luiz Datena (PSDB) e Kim Kataguiri (União Brasil), Marçal alcançou 6,9% de intenções de voto.
Em 23 de maio, outra pesquisa de intenções de voto para a prefeitura de São Paulo - então pelo instituto AtlasIntel, realizada em parceria com a CNN - apontou Boulos com 37,2%; Nunes com 20,5% e Marçal com 10,4%. Na sequência surgem Tabata Amaral (PSB), com 9,9%, e José Luiz Datena (PSDB), com 7,9%, mesmo percentual que Kim Kataguiri (União Brasil). Marina Helena (Novo) fica com 3,5%. Fechando a lista, Altino Prazeres (PSTU) registra 0,5% das intenções de voto. Não sabe em quem vai votar ficou com 0,9% e branco ou nulo com 1,4%. Esta foi a melhor colocação de Marçal desde que o nome dele passou a ser incluído em pesquisas eleitorais para a prefeitura de São Paulo.
Metodologias de pesquisa
Paraná Pesquisas: 1.500 entrevistados pessoalmente, entre os dias 24 e 28 de maio de 2024. A pesquisa foi realizada por iniciativa do próprio Instituto Paraná de Pesquisas e Análise de Consumidor Ltda. Confiança: 95%. Margem de erro: 2,6 pontos percentuais para mais ou para menos. Registro no TSE nº SP-05645/2024.
Atlas/CNN: foram entrevistados 1.670 eleitores, por meio de Recrutamento Digital Aleatório (Atlas RDR), entre os dias 22 e 27 de maio. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. A AtlasIntel informa que o Recrutamento Digital Aleatório é quando os eleitores são recrutados pela internet durante uma navegação de rotina. Os usuários são localizados através de dispositivos como smartphones, tablets, laptops ou computadores. A empresa afirma que a metodologia evita um eventual impacto psicológico no momento da entrevista. A pesquisa foi registrada na Justiça Eleitoral como SP-05357/2024.
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