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Coronel Ricardo Mello Araújo (PL)
Vice de Ricardo Nunes (MDB) na chapa que disputa a reeleição à prefeitura de São Paulo, coronel Mello Araújo (PL) despontou na política paulistana graças ao apreço do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)| Foto: Divulgação/Campanha Ricardo Nunes

Filho e neto paterno de policiais militares e, por parte de mãe, filho e neto de professoras, coronel Ricardo Mello Araújo (PL) despontou na política paulistana e passou a ocupar o disputado cargo de vice na chapa do candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB), pertencente a uma coligação de 11 partidos, graças ao apreço do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Todo mundo queria enfiar alguém, tinham vários nomes. Milton Leite, Aldo Rebelo. Alguns nem apareceram na imprensa, de deputados, o próprio Tomé Abduch, que é deputado, já tem nome e eleitorado. O que é que eu sou? Não sou ninguém e o presidente [Jair Bolsonaro] cismou com a minha pessoa”, disse Mello Araújo em entrevista à Gazeta do Povo, do gabinete da campanha de Nunes, no antigo edifício Joelma, no centro de São Paulo, onde recebeu a reportagem.

Ex-comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), considerada a “tropa de elite” da Polícia Militar paulista, e ex-presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), Mello Araújo caiu no gosto do ex-presidente em 2017. Na ocasião, então comandante da Rota e subordinado do, à época, governador de São Paulo Geraldo Alckmin, ele foi perguntado em uma entrevista sobre quem apoiaria para presidente da República e respondeu que votaria no "deputado Jair Bolsonaro".

Depois disso, Bolsonaro foi visitá-lo pessoalmente na Rota e começou a amizade entre os dois, tendo acarretado na indicação de Bolsonaro para Mello Araújo presidir a Ceagesp. Fontes próximas afirmam que Mello Araújo tem “adoração por Bolsonaro” e “morreria por ele”. A entrada na política se deu graças ao convencimento do ex-presidente que, já nas eleições de 2020, queria que Mello Araújo se candidatasse.

 “Eu falei: presidente, não é uma coisa que eu me vejo. Prefiro continuar ajudando o senhor”, disse Mello Araújo. “Mas ele me convenceu a entrar no partido, vai que eu mudasse de ideia, pelo menos já ficava filiado”, complementou.

A história não foi muito diferente nessas eleições de 2024, para a qual foi escolhido por Bolsonaro para integrar como vice a chapa de Nunes para a candidatura à prefeitura de São Paulo. Mello Araújo trabalhava como diretor pessoal e patrimonial de uma grande empresa e pediu demissão, mas apenas quando a chapa foi registrada na Justiça Eleitoral.

“Eu estava muito bem, até conversei em casa com a esposa e os filhos, todo mundo foi contra. Estava em uma empresa sólida com mais de 50 anos, conheço os donos há mais de 20 anos, era reconhecido, excelente salário, e aí Deus me deu essa bifurcação: ó, esse caminho aqui você vai encontrar muita coisa errada, corrupção, aqui você não vai ganhar tão bem, você vai desgastar a sua imagem. Que caminho você quer?”, disse Mello Araújo à Gazeta do Povo. Ele então decidiu “deixar as coisas acontecerem e não fechar a porta”.

“Se for missão para mim isso aí, eu vou e vou dar o meu melhor. Se porventura não der, cumpri minha parte, fiz tudo o que era para fazer, me esforcei, mas não quiseram. Então acho que está bom [de política] para essa vida”, diz ele, afirmando ainda que não tem “vontade nenhuma de prosseguir nisso aí” e que retornará ao setor privado caso não vença as eleições.

Experiência na política e trabalho com Ricardo Nunes

Mello Araújo é especialista em segurança e fisiologia do exercício e, sobre o curto período em que está na política, afirma que é um mundo muito diferente do que conhecia até então. “No mundo de onde eu vim era muito olho no olho, lealdade, o certo é certo. Eu vim desse mundo e você vê que na política existe muita sacanagem, o pessoal joga muito diferente. As pessoas não são tão transparentes, tão sinceras”, afirmou.

Apesar do perfil técnico, ele demonstrou ao longo da entrevista que já está bem treinado para falar sobre os resultados de Ricardo Nunes à frente da prefeitura de São Paulo, números estes que vêm sendo reiteradamente repetidos na campanha e pelo próprio Nunes nos debates eleitorais.  “Consegui mudar muita coisa lá na Ceagesp, que nunca havia dado lucro e passou a dar, mas qual foi o segredo? Se não roubar, sobra, e lá sobrou. Vejo a administração do Ricardo Nunes com as contas em dia, para mim isso marca muito. Está devendo? Não, tem superávit. Não está só com o dinheiro guardado, como também estão investindo”, elogiou.

E compara com os resultados do governo federal: "O presidente [Bolsonaro] entregou em superávit, como é que está o país hoje?Você pega a administração de São Paulo, com dinheiro, diminuiu impostos. A administração que ele fez trouxe empresas para São Paulo. Foram mais de 5.155 empresas que vieram de outros estados e municípios para São Paulo”, complementou.

Crescimento de Marçal entre os conservadores paulistanos

Questionado sobre o fato de a liderança do ex-presidente Bolsonaro estar ameaçada pelo crescimento do candidato Pablo Marçal (PRTB) entre os conservadores, Mello Araújo afirmou que o tempo vai mostrar quem são as pessoas. “A gente já conhece o Bolsonaro há muito tempo, Marçal surgiu agora. A gente conheceu Marçal quando ele se aproveitou de uma situação e fez questão de mostrar isso, com as pessoas nas enchentes, no sul, passando necessidade. E aí surge o Marçal junto às eleições municipais”, disse Mello Araújo.

Ele questiona onde o candidato do PRTB estava nas enchentes do sul da Bahia, em Fortaleza, em Franco da Rocha e durante a pandemia: “Ele não existia, falo isso porque na Ceagesp eu ajudei muito nesses locais com alimentação. É uma pessoa que surgiu agora e fala tudo o que as pessoas querem ouvir.”

Em relação aos votos da direita paulistana que, supostamente, poderiam ser transferidos para Marçal, Mello Araújo afirma que “ele tenta passar a imagem que o Bolsonaro está apoiando ele. No Código Penal tem um artigo para quando uma pessoa faz isso para tirar benefício próprio, é o 171”.

E continuou com as críticas ao adversário. “Vejo nele essa figura de aproveitador, uma pessoa que já passou pelo sistema prisional. O histórico dele não é bonito, o próprio pai dele, naquele áudio da Polícia Federal, fala: ‘honra a tua família, sai dessa, não entra nisso’. Pelo que a gente percebe, ele continua dessa mesma forma, no sentido de iludir as pessoas”, acusou.

“É uma pessoa egocêntrica e eu não consigo nem falar que ele é de direita. Muita gente pode se enganar como se enganaram com o Dória”, disse Mello Araújo. “Eu, como profissional de segurança, o que eu posso fazer é dar as minhas dicas de segurança, e eu consigo ver aí uma pessoa que aplica golpe, mas muitos vão pagar para ver”, complementou.

Mello Araújo afirma que foi convidado para ser vice de Marçal: “não trabalho para quem já foi preso”

Mello Araújo disse na entrevista para a Gazeta do Povo que recebeu um convite de Marçal para ser vice na chapa dele. “Fui convidado pelo Marçal para ser o vice dele. Não aceitei, primeiro porque tinha um compromisso com o presidente mas, antes disso, eu pesquiso para quem vou trabalhar”, contou.

De acordo com o vice de Nunes, outro convite foi feito na sequência, da parte de Marçal. “Ele fez dois convites: para eu ser vice dele, e depois me convidou para cuidar de toda a segurança dele. Eu neguei os dois. Ele falou assim: quanto você ganha na empresa privada? Eu te pago o dobro. E eu disse: não trabalho por dinheiro. Meu, você não me compra, não trabalho por dinheiro. Vou largar a empresa porque você paga mais? Não é assim que funciona. Nunca trabalharia para ele. Se acabar a eleição e ele ganhar aqui, você nunca vai me ver sendo secretário dele. Eu não trabalho para quem já foi preso”, disse Mello Araújo.

O vice de Ricardo Nunes reclamou ainda de uma declaração de Marçal a respeito dele: “Ele deu uma entrevista dizendo: o coronel Mello não vai ser mais meu secretário de Segurança Pública porque ele está me atacando. Quem falou que eu ia ser secretário de Segurança Pública dele? Ele pôs isso na cabeça. Nunca falei, aliás, ele sabe disso, só que ele mente.”

Mello Araújo sobre Ricardo Nunes: “pessoa de centro que carrega valores da direita”

Questionado sobre como vê Ricardo Nunes no espectro político ideológico, o candidato a vice respondeu que enxerga o prefeito como uma pessoa de centro que carrega valores que a direita carrega. “Isso é muito importante, principalmente as bandeiras do presidente Bolsonaro, como família, Igreja, Deus, é uma pessoa muito religiosa. Ele carrega essas bandeiras que o presidente carrega, de pátria, de liberdade. Em relação ao aborto, ele brigou, é contra ideologia de gênero”, respondeu ele.

Em relação ao trabalho conjunto, Mello Araújo afirma que os dois não precisam concordar em tudo. “Mas é importante conversar e chegar a um meio comum. Seria muito chato se tudo fosse perfeito, tem que se discutir as coisas. Esse contraponto é muito importante na política, porque a gente sempre visa o bem comum, não o interesse próprio”.

Perguntado sobre como pretende contribuir com Ricardo Nunes, principalmente em relação aos valores conservadores, Mello Araújo afirmou que não está “na administração” e está “olhando por fora”, mas que “na hora que entrar, vou conseguir melhorar muita coisa”.

Opinião sobre aborto: “sou contra, mas respeito quando a lei dá essa opção”

Em relação ao aborto e sobre o posicionamento de Nunes em relação ao assunto, Mello Araújo afirmou que o prefeito é contra. “Para mim está muito claro, mas é lógico que existem as exceções legais, casos em que é permitido, entende? Vamos supor, a pessoa foi estuprada e engravidou. A lei permite isso aí”, exemplificou ele.

O ex-comandante da Rota trouxe sua experiência com quem comete o crime de estupro como contexto para afirmar que defende o aborto nos casos previstos em lei. “A gente segue a lei, e a lei faculta que a pessoa que foi vítima de estupro possa retirar. Se fosse lá com a minha esposa, por exemplo, eu ia tentar convencê-la a não fazer, mas é difícil se ela não consegue conviver com isso, porque é um trauma que marcou muito”, disse ele.

“Eu já prendi estuprador, eu já peguei criança que tinha sido estuprada. É um assunto muito delicado. Eu sou contra o aborto, mas respeito quando a lei te dá essa opção. Eu vou respeitar muito a pessoa, porque eu sei o que é isso. Quando você chega em uma família que acabou de sofrer, eu sei o que é isso. É um negócio que você tem uma ideia, mas é diferente quando é real. É muito diferente”, acrescentou.

Mello Araújo sobre trabalho na prefeitura: “vou quebrar esse paradigma de vice”

Em resposta ao questionamento da Gazeta do Povo sobre, muitas vezes, o vice ficar "na reserva", Mello Araújo afirmou que vai “quebrar esse estigma de que vice é uma figura para substituir”. E completou: “Quando as pessoas vão votar, elas escolhem duas pessoas. Eu terei um mandato, ninguém tira meu mandato. Vou ser eleito pelo povo e vou exercer minha função. Não larguei a empresa privada, não contrariei minha família, não larguei tudo isso para ficar dentro da sala, isso eu garanto a vocês”.

Mello Araújo também foi perguntado se receberia alguma secretaria e se teria algum cargo que gostaria de ocupar, e respondeu que não faz “conta nenhuma de secretaria”. “Se me der uma secretaria para cuidar, ótimo, vamos cuidar. Mas se não der, eu sei trabalhar. Entendeu? É igual eu fazia lá na Ceagesp”, afirmou.

Questionado se o prefeito Ricardo Nunes está confortável com esse posicionamento, ele afirmou que está deixando tudo bem claro desde o início. “Ele é o protagonista, mas eu quero que dê certo. Eu não larguei tudo para nada. Eu vou quebrar esse paradigma de vice-prefeito, vocês vão ver. Eu sei cobrar”, prometeu.

“Meu perfil é esse, não é de gabinete. Você acha que um vice-prefeito não tem moral para ligar para um secretário e cobrar o justo, e não o injusto? O vice não pode ligar para o subprefeito? São exemplos hipotéticos”, disse ele. Em relação às secretarias de Ricardo Nunes, de perfil ideológico de centro e que teve nomes como o de Marta Suplicy (PT), Mello Araújo afirmou que trabalha “com qualquer um, desde que seja honesto e trabalhe”.

Mello Araújo é a favor do impeachment de Alexandre de Moraes

Questionado sobre como votaria em relação ao impeachment do ministro Alexandre de Moraes caso fosse senador, coronel Mello Araújo afirmou que é “super a favor” e que “a liberdade é a coisa mais preciosa que a gente tem”. E emendou justificando a participação de Bolsonaro na campanha paulistana.

“Muitos perguntam: 'ah, por que o presidente não está de cabeça nessa campanha?' A preocupação maior de Bolsonaro é exatamente essa aí, a liberdade, as pessoas que estão presas do 8 de janeiro, as coisas que estão acontecendo. Tem gente com medo de falar o que pensa, que possa acontecer alguma retaliação. Talvez aconteça uma retaliação comigo”, disse ele.

“As coisas que aconteceram são gravíssimas, tem que ser apurado. Não estou falando que vai impeachmar ou não, mas tem que ser apurado. Isso eu acho importante. Você pega lá o 8 de janeiro, cadê as imagens das câmeras?”, perguntou ele.

“Eu não tenho o conteúdo todo, mas pelo que a gente vê que foi divulgado, é gravíssimo e tem que ser apurado. Existe um processo de impeachment que você vai apurar e no final tira ou não tira. Eu não estou inventando, o impeachment está previsto em lei. Tem que ser apurado e, se constatar a irregularidade, aí ele tem que sair”, afirmou.

Propostas para a segurança pública de São Paulo: valorizar e treinar a Guarda Civil Metropolitana

Sobre as melhorias que Mello Araújo pretende sugerir à Guarda Civil Metropolitana (GCM) de São Paulo, ele afirmou que tem muita coisa que pode ser feita, como investir em treinamento para capacitar o efetivo e fez comparação entre a corporação municipal e a Rota. “A Rota faz um tipo de serviço, a guarda faz outro. Algumas coisas podem coincidir, com certeza. Tem muita gente que passa o dia inteiro na viatura e não enxerga nada, não prende ninguém, não faz nada. Eu vou fazer esse homem ser diferenciado. Condicionamento físico a Rota tem todo dia, vamos colocar para a GCM”, propôs.

Sobre reposição salarial para a categoria, ele afirmou que, mesmo tendo aumentado recentemente, tem conversado com Nunes sobre o assunto. "A gente tem que valorizar mais esses homens. Valorizar ao ponto que a gente vai ver Policial Militar pedindo baixa para entrar na guarda. Muitos falam que vão dobrar a guarda, o Marçal falou em quadriplicar o efetivo da guarda, mas não é isso que faz a diferença, eu sou totalmente contra o que todos estão falando aí”, disse ele.

Mello Araújo afirmou que conversou “com o pessoal do governo” e quer 4 mil câmeras nas escolas. “Não temos o Smart Sampa? É uma prioridade que 100% das nossas escolas tenham câmeras. Tem que colocar certinho e, invadiu, vai apitar. O traficante que está lá vai ser identificado”.

Internação compulsória e esporte para reabilitação na cracolândia

Sobre a cracolândia - cujas promessas se renovam, mas o problema persiste historicamente em São Paulo - Mello Araújo afirmou que existe solução, mas que “para isso precisa de lei e amparo legal”, referindo-se à internação compulsória. “Tem 2,3 mil dependentes em tratamento e, desses, alguns a família assina. Eu acredito no tratamento, eu vi como é e entendo que dá resultado”, defendeu ele.

“A internação compulsória seria a solução, só que você precisa do Judiciário, do Ministério Público concordando com isso. Hoje não existe esse entendimento”, disse ele, afirmando que o trabalho de combate ao crime, de prisões e de estrangulamento do tráfico de drogas “tem que ser continuado, com inteligência, câmeras e tecnologia”. Na entrevista à Gazeta do Povo, Mello Araújo defendeu ainda acrescentar esporte e atividade física tanto para os usuários quanto para as pessoas envolvidas com o crime para auxiliá-las na reabilitação.

Segurança pública e as fronteiras: críticas ao governo federal

Mello Araújo destacou ainda a dificuldade de conter a entrada de drogas no país, um problema que, segundo ele, se agrava pela falta de políticas federais eficazes nas fronteiras e que acabam, inevitavelmente, chegando na cidade de São Paulo. "A cocaína vem de fora, e o governo federal pouco faz para impedir", disse, mencionando a necessidade de mais tecnologia e inteligência para patrulhar as fronteiras.

Ele não poupou críticas às lideranças políticas do país, afirmando que o próprio discurso do governo incentiva, indiretamente, o aumento da criminalidade. "Quando o líder maior do país diz que roubar um celular vale uma cervejinha, você incentiva o crime. O que a gente faz é manutenção da segurança pública, para evitar que a situação piore, mas não há um avanço significativo", pontuou.

Para o coronel, um dos maiores problemas enfrentados pela segurança pública está na legislação penal brasileira, que, segundo ele, é excessivamente branda. "Hoje, o crime não tem medo da lei, porque não existe uma punição real", disse, ao citar casos de reincidência criminal. "O problema da segurança pública não é a polícia, é a lei. O dia que o criminoso souber que vai cumprir 20 ou 30 anos de cadeia, a situação vai mudar". Mello Araújo foi contundente ao afirmar que o sistema prisional está em crise ao relembrar a primeira fuga de um presídio federal.

Ao falar sobre a questão do comércio ilegal em São Paulo, Mello Araújo reforçou a importância da atuação das forças policiais para combater tanto o descaminho quanto a falsificação de produtos. Ele também expressou preocupação com a necessidade de criar alternativas para quem depende do comércio informal para sobreviver.

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