Com voto a voto contado nas eleições mais concorridas da história de São Paulo, a prefeitura da capital paulista será disputada em segundo turno entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (Psol). Com, respectivamente, os vices Ricardo Mello Araújo — apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — e Marta Suplicy (PT) — apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — a disputa deve refletir a polarização vista nas eleições presidenciais de 2022.
Os próximos passos da disputa eleitoral agora devem ser definidos, principalmente, pelos candidatos que não conseguiram se eleger no primeiro turno, devido à transferência de votos que eles poderão fazer para Nunes e Boulos. Esses, por sua vez, tiveram uma diferença de apenas 25.012 votos.
Resultado final da votação à prefeitura de São Paulo
- Ricardo Nunes (MDB): 29,48% ou 1.801.139 votos
- Guilherme Boulos (Psol): 29,07% ou 1.776.127 votos
- Pablo Marçal (PRTB): 28,14% ou 1.719.274 votos
- Tabata Amaral (PSB): 9,91% ou 605.552 votos
- José Luiz Datena (PSDB): 1,84% ou 112.344 votos
- Marina Helena (Novo): 1,38% ou 84.212 votos
- Ricardo Senese (UP): 0,09% ou 5.593 votos
- Altino Prazeres (PSTU): 0,05% ou 3.017 votos
- João Pimenta (PCO): 0,02% ou 960 votos
- Bebeto Haddad (DC): 0,01% ou 833 votos (anulado sob Judice)
Quem os candidatos não eleitos devem apoiar no segundo turno à prefeitura de São Paulo
Pablo Marçal (PRTB), por exemplo, que com um discurso combativo tentou se vincular à imagem de Bolsonaro e atraiu parte do eleitorado conservador paulistano, deve transferir votos para Nunes. Esse é um apoio precioso para o candidato do MDB, tendo em vista que Marçal obteve um número significativo de votos, de 1.719.274 votos, que certamente fará a diferença no momento de eleger o próximo prefeito de São Paulo.
"Vou apoiar todos os candidatos a prefeito que estão lutando contra o comunismo no Brasil. Tomara que o Ricardo [Nunes] leve em consideração as nossas principais propostas, afinal de contas o nosso eleitorado é exatamente do mesmo tamanho", disse Marçal em pronunciamento na noite deste domingo (6).
A candidata Tabata Amaral (PSB), que ficou em quarto lugar com 9,91% ou 605.552 votos, afirmou em declaração na noite deste domingo (6) que apoiará Guilherme Boulos (Psol). "Esse é um voto por convicção, não é um voto negociado. Eu não vou subir em nenhum palanque. Eu não vou desfazer quem eu sou e no que eu acredito", disse a deputada federal.
Com posicionamentos em sua grande maioria progressistas, Tabata é do mesmo partido de Geraldo Alckmin, vice-presidente e aliado do PT, portanto o apoio a Boulos já era esperado. Apesar da declaração sobre a decisão pessoal, no entanto, os votos da deputada federal do PSB não serão direcionados automaticamente para o candidato do Psol.
"O eleitorado de Tabata Amaral é também composto pelo eleitorado mais conservador. Quando a gente fragmentava no primeiro turno, vimos ali eleitores de Tarcísio [de Freitas], de [Jair] Bolsonaro. Embora ela tenha anunciado de imediato o apoio a Guilherme Boulos, não podemos acreditar que vai vir uma migração direta de votos", diz Aryell Calmon, coordenador de estados e municípios da BMJ Consultores Associados.
O voto da candidata Marina Helena (Novo), apesar de não ter sido declarado oficialmente e a assessoria da candidata ter afirmado à Gazeta do Povo que ela "vai se reunir com as lideranças do partido e definir seu apoio no segundo turno", tem grandes chances de ser direcionado à Ricardo Nunes (MDB). Marina Helena tem posicionamentos conservadores e certamente não irá apoiar o opositor Guilherme Boulos.
O apresentador Datena (PSDB), que obteve 1,84% ou 112.344 votos, afirmou na saída do último debate antes das eleições, na quinta-feira (3), que não irá apoiar nenhum candidato no segundo turno. O candidato do PSDB está em uma posição complicada: de um lado, ele é pessoalmente apoiador de Boulos, tendo em 2023 cogitado formar uma chapa com ele para estas eleições. Por outro lado, o PSDB já foi aliado de Ricardo Nunes, tendo ocupado com ele a prefeitura com Bruno Covas (1980-2021).
Boulos e Nunes se acusam mutuamente de serem radicais
Na noite de domingo (6), os discursos de Boulos e Nunes após o resultado do primeiro turno das eleições deram boas pistas de para onde as campanhas vão caminhar nos próximos 20 dias. De um lado, Guilherme Boulos tenta vincular Ricardo Nunes ao posicionamento de Jair Bolsonaro na pandemia e ao que chama de "golpe de 8 de janeiro".
"Do lado de lá nós temos um candidato apoiado pelo Bolsonaro, que acredita que Bolsonaro fez tudo certo na pandemia, que agora no primeiro turno se colocou contra a vacina, que acredita que o 8 de janeiro foi apenas um encontro de senhoras e não uma tentativa de golpe. Do lado de cá nós temos um time ajudou a restaurar a democracia no Brasil", disse Boulos.
Além disso, ao lado da vice Marta Suplicy (PT), Boulos tenta conquistar os votos da periferia lembrando dos feitos da ex-prefeita de São Paulo. "São Paulo é uma cidade potente, é a cidade mais rica do Brasil e da América Latina. A nossa missão é fazer com que essa riqueza de São Paulo chegue para todos, foram as periferias da cidade que nos levaram para o 2º turno, eu e a Marta, que fez os CEUs, o Bilhete Único, e hoje é minha vice", declarou.
Do outro lado, Ricardo Nunes tenta vincular sua imagem à ampla coligação de sua campanha, fazendo em seu discurso diversos agradecimentos como a Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo; ao coronel Mello Araújo (PL), seu vice, indicado por Bolsonaro; e Tomás Covas, filho de Bruno Covas, prefeito de São Paulo pelo PSDB e falecido em 2021. Além disso, Nunes tenta associar Guilherme Boulos a uma imagem de radicalismo.
"A gente precisa refletir, e cada um de nós vai levar isso para a população, [sobre] a diferença entre a ordem e a desordem, a diferença entre a experiência e a inexperiência. A diferença entre a boa gestão e a interrogação, a diferença entre o diálogo, a ponderação, o equilíbrio e o radicalismo", disse Nunes em seu discurso.
O candidato à reeleição também tenta se vincular a uma imagem de segurança jurídica: "Nós não vamos permitir que a cidade perca a sua capacidade de investimento, geração de emprego e renda. Nós vamos continuar num caminho seguro, gerando possibilidade para aqueles que desejam ter oportunidade", afirmou.
Para Leandro Cosentino, cientista político e professor do Insper, Ricardo Nunes inicia a campanha do segundo turno em vantagem sobre Guilherme Boulos. "Eu antevejo uma vantagem bastante forte do atual prefeito Ricardo Nunes, não só por deter a máquina pública na mão, isso faz uma diferença muito importante, é só a gente ver a quantidade de prefeitos que se reelegem no Brasil", diz ele.
Além disso, Cosentino pondera que os eleitores de Pablo Marçal, que teve uma boa colocação no segundo turno, claramente rejeitam Guilherme Boulos. "A chance maior é que boa parte dos eleitores de Pablo Marçal migre para Ricardo Nunes e ajude a garantir a vitória reeleitoral do prefeito", complementa.
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