Na tarde desta sexta-feira (21), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciaram oficialmente a escolha do coronel Mello Araújo como vice da chapa que tentará a reeleição à prefeitura de São Paulo. O anúncio da escolha pelo indicado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sela a aliança de centro-direita na disputa pelo maior colégio eleitoral do país.
A confirmação veio após evento para a assinatura conjunta entre Nunes e Tarcísio para um termo aditivo de extensão da linha 5-lilás do metrô de São Paulo, realizado no Capão Redondo. Periferia da zona sul da capital paulista, a região será contemplada com a obra de infraestrutura viária.
A agenda desta sexta, cumprida no Jardim Ângela, integra um rol de compromissos que os dois vêm priorizando em áreas de vulnerabilidade social paulistanas neste período pré-eleitoral. "A gente está afinado como música, as coisas andam muito bem", endossou Tarcísio sobre Nunes, em discurso.
Questionado sobre o fato de Mello Araújo ser mais radical e poder tirar votos do eleitorado de centro, Nunes respondeu com base na estratégia da campanha de focar na segurança pública na cidade. "Se for para ser radical para combater a exploração sexual infantil, a corrupção, o crime organizado, a questão fiscal de uma empresa com um déficit, que ele ficou dois anos [no Ceagesp] e depois deu lucro, é esse radicalismo que eu quero".
Depois dos elogios, Nunes emendou: "Não vai ser o vice-prefeito que vai atuar em questão de segurança, mas ele pode colaborar muito comigo em vários quesitos e nisso ele se demonstrou com bastante eficiência".
A indefinição sobre o vice se arrastou por meses. Esperava-se que o jantar organizado por Tarcísio, na noite da quarta-feira (19), no Palácio dos Bandeirantes, concretizaria o nome do ex-comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar da Polícia Militar de São Paulo) indicado por Bolsonaro.
A gestão Tarcísio optou, porém, por fechar o evento à imprensa, e na ocasião foi anunciado apenas que os representantes das 11 legendas que apoiam a candidatura de Nunes à reeleição chegaram a um consenso de aceitar um candidato do PL como vice. Na ocasião, o governador de São Paulo afirmou que alguns ajustes finos eram necessários e que a decisão seria divulgada ainda nesta semana.
"[A aceitação da indicação do] nome do coronel também, zero objeção da nossa parte, da parte dos partidos. Eu acho que é mais uma ou duas conversas para fazer o ajuste fino e a gente anunciar ainda provavelmente nessa semana o nome do vice", disse então Tarcísio.
O tom de Nunes foi parecido. "Cada partido comentou, ninguém tem objeção e tirou-se o consenso de que a indicação será do PL. Agora, há algumas questões para analisar e a gente deve anunciar até sexta-feira o nome definitivo", disse o prefeito após o jantar.
O encontro de Tarcísio reuniu 15 pessoas, entre eles representantes das 11 legendas que apoiam a candidatura de Nunes à reeleição: o MDB de Rossi, o PL de Valdemar Costa Neto; o PSD de Gilberto Kassab; o PP de Ciro Nogueira; o Republicanos de Marcos Pereira; o Solidariedade de Paulinho da Força; o Avante de Luís Tibé; o PRD de Mauro Carvalho; o Podemos de Renata Abreu; o Agir de Daniel Tourino; e o Mobiliza de Antonio Massarolo. Além deles, participou virtualmente o União Brasil, que na capital paulista tem como cacique Milton Leite, presidente da Câmara Municipal de São Paulo.
Mello Araújo é homem de confiança de Bolsonaro
Mello Araújo, que presidiu a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) durante o governo de Jair Bolsonaro, é conhecido pela longa amizade com o ex-presidente, iniciada em 2017. Na época em que era comandante da Rota, Araújo declarou apoio a Bolsonaro, mesmo mesmo tendo como chefe o então pré-candidato à presidência da República, Geraldo Alckmin (na época, PSDB).
"O deputado Jair Bolsonaro, eu votaria nele. Eu não sou político e não gosto de falar muito de política, mas eu entendo que o país precisa de pessoas honestas no comando. E a população sente isso", disse ele na ocasião ao portal UOL.
A confirmação da indicação de Mello Araújo como vice, feita por Bolsonaro, vinha sendo um ponto de tensão entre os apoiadores de ambos os lados. No início de junho, o pré-candidato Pablo Marçal (PRTB) encontrou-se com Bolsonaro em Brasília e chegou a afirmar à imprensa que o ex-presidente não apoiaria Nunes, o que foi desmentido por Bolsonaro.
"Em nenhum momento eu falei para ele que não iria apoiar o Ricardo Nunes. Assim sendo, ele se equivocou, ou alguém se equivocou. Eu falei que tinha compromisso já com o Nunes, porque o vice é meu, o Mello Araújo", disse então Bolsonaro.
O que atrasou o anúncio sobre o vice de Nunes
O gabinete de campanha de Nunes preferia que a escolha do vice fosse divulgada mais próxima das eleições, porém a entrada de Pablo Marçal na disputa e a pressão de Bolsonaro pressionam para que o anúncio seja feito o quanto antes. A interpretação é que, dessa maneira, não se correria o risco de a direita se dividir e perder votos para nomes como Marçal.
Além disso, a campanha de Nunes não era favorável à escolha pelo ex-comandante da Rota por poder afugentar votos do centro e surfar na rejeição a Bolsonaro. Ademais, como ex-comandante da Rota, Mello Araújo enfrenta dificuldades de fazer campanha nas periferias, principalmente em locais onde predomina a liderança da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
As siglas que compõem a chapa de Nunes, por sua vez, precisavam entrar em um consenso. Líderes do Progressistas, por exemplo, deixaram clara a insatisfação por, de acordo com a legenda, não terem sido procurados para compor a chapa na disputa pela capital paulista.
Estratégia será elogiar passagem de Araújo no Ceagesp
Em entrevista à imprensa concedida antes do jantar desta semana, o prefeito Ricardo Nunes rasgou elogios a Mello Araújo, dando pistas que a estratégia para divulgar o nome de Araújo seria lembrar dos trabalhos realizados no Ceagesp de combate à corrupção e proteção dos trabalhadores no local.
"Fiquei encantado. Um cara que põe na cadeia quem faz exploração sexual infantil, que põe na cadeia corrupto, que põe na cadeia organização criminosa, não dá para negar que merece, no mínimo, o nosso respeito", disse Nunes. O prefeito afirmou que, enquanto Araújo esteve na direção, a companhia passou a adquirir lucro após um cenário de dívida de R$ 90 milhões.
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