A segurança pública e o apagão na capital paulista foram os principais temas do debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo neste sábado.
Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) se encontraram no evento promovido pela TV Record, o jornal O Estado de S. Paulo e a Rádio Eldorado.
Durante o debate, os dois acusaram um ao outro com frequência. Nunes, que tenta se apresentar como um candidato confiável diante de um adversário radical, não mencionou Jair Bolsonaro, de quem tem o apoio. Boulos, em segundo lugar nas pesquisas, buscou associar sua imagem à do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e apelou até mesmo aos eleitores de Pablo Marçal (PRTB).
Segurança e apagão abrem debate
No primeiro bloco, os candidatos acusaram um ao outro de mentir, e a segurança pública e o serviço de energia estiveram no centro da discussão. Nunes tentou explorar as críticas feitas por Boulos à atuação da polícia no passado. Já o candidato do PSOL culpou o prefeito pela falta de energia que chegou a atingir mais de 3 milhões de paulistanos nos últimos dias, depois de fortes chuvas atingirem a região da capital.
Na primeira pergunta, Nunes disse que Boulos defendeu o fim da Polícia Militar e que não apoiou o aumento da pena para criminosos. “Não parece que você está apoiando a bandidagem e contrário à Polícia Militar?”, ele indagou.
“Eu fico triste que o candidato comece o debate com mentiras”, reagiu Boulos. O candidato do PSOL afirmou ser a favor de uma polícia armada, “que é dura com o crime mas que trate os cidadãos de maneira igual”.
Ainda na primeira resposta, Boulos mudou de assunto e trouxe o apagão na capital paulista à pauta. Segundo ele, a interrupção no serviço de energia tem “uma mãe e um pai”: a mãe é a Enel, a concessionária de energia que atende os municípios paulistanos. O “pai”, segundo Boulos, é Nunes, que teria falhado em promover a poda das árvores próximas a fios elétricos.
Nunes disse que a declaração de Boulos tem “desinformação”. “É muito ruim você trazer mentira para as pessoas”, disse ele. Segundo Nunes, a prefeitura assinou um contrato para a remoção de árvores, e não a poda.
Boulos chegou a chamar Nunes de “uma máquina de mentira”. Nunes afirmou que a responsabilidade por cobrar o cumprimento do contrato com a Enel é a Aneel, a Agência Nacional de Energia Elétrica.
Nunes pressiona Boulos sobre aborto e drogas
Ricardo Nunes usou a sua segunda pergunta para pressionar Boulos sobre posições radicais à esquerda adotadas pelo rival. “Você já foi a favor da liberação de drogas, sim ou não? Você já foi a favor do fim da polícia militar? Sim ou não? Você já foi a favor da legalização do aborto? Sim ou não?”, perguntou ele.
Boulos voltou a negar ser a favor do fim da polícia, e disse que defende um tratamento diferenciado para traficantes e usuários de drogas. “O traficante é caso de polícia, é criminoso. O dependente químico, não”, disse Boulos. Ele afirmou que o dependente químico não deve ser preso, mas “tratado e resgatado”.
Sobre o aborto, Boulos não respondeu diretamente. “Prefeito tem que cumprir a lei. Eu defendo a vida da criança, da mãe, da menina, e a lei diz de forma muito clara que uma mulher pode interromper a gravidez em caso de estupro, de risco de vida ou quando o feto não vai sobreviver”, disse ele. Na verdade, apenas os dois primeiros casos são mencionados no Código Penal.
Ainda no primeiro bloco, o candidato do PSOL perguntou se Nunes abria o sigilo bancário. Nunes disse que “Quem tem que abrir o sigilo é o MTST” e o deputado André Janones, acusado de ter feito rachadinha com salários de assessores. Janones escapou da cassação na Câmara dos Deputados em um processo no qual Boulos era o relator. O deputado do PSOL defendeu a absolvição de Janones.
“Você não abre [o sigilo] porque você tem o que esconder”, provocou Boulos. “Quando tem focinho de rato, rabo de rato, cara de rato. Não é ursinho carinhoso. É rato”, acrescentou o candidato do PSOL.
Boulos cita Lula; Nunes ignora Bolsonaro
Durante o debate, Boulos citou Lula diversas vezes. Por exemplo: no segundo bloco, quando tentou rebater a acusação de que não tem experiência suficiente para ser prefeito, ele mencionou o petista. “O Lula, antes de ser presidente, não tinha nenhum cargo no Executivo”, disse.
Já Nunes não mencionou o ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem tem o apoio. O prefeito pareceu buscar o voto do eleitor moderado: ele apresentou como um candidato equilibrado e defensor da ordem, enquanto Boulos seria um “extremista” que representa a “desordem”.
Boulos acusou Nunes de ter dado um tiro para o alto na saída de uma boate em 1996. Nunes negou. Nunes acusou Boulos de ter recorrido ao pai para pagar os danos causados por ele em um acidente de trânsito quando tinha 35 anos. Boulos negou.
Em alguns momentos, o candidato do PSOL foi mais provocador. “Graças a Deus nunca bati em mulher. Bati o carro. E sempre paguei quando bati o carro”, ele disse. A insinuação tem a ver com uma acusação de violência doméstica contra Nunes, que o prefeito afirma ser infundada.
Boulos também chamou Nunes de “fantoche” e de “prefeito fraco”. Uma comparação feita por ele, em especial, rendeu críticas mais enfáticas do emedebista. “O Ricardo Nunes, falando de corrupção, parece o casal Nardoni falando em cuidar dos filhos”, atacou Boulos.
Nunes censurou o rival pela menção à menina, assassinada pelo pai e pela madrasta em 2008. A mãe de Isabella Nardoni, Ana Carolina Oliveira, foi eleita vereadora pela primeira vez neste ano. Ela é filiada ao PODEMOS, um partido que integra a coalizão do prefeito.
Boulos apela a eleitores de Marçal
Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, Guilherme Boulos usou as suas considerações finais para se dirigir aos eleitores de candidatos derrotados no primeiro turno. Ele citou nominalmente Tábata Amaral, José Luiz Datena e Pablo Marçal — com quem colecionou bate-bocas na eleição.
Ele disse ter “muitas diferenças ideológicas” com Marçal, mas enfatizou ser o candidato da mudança.
“Nesse momento, o que está em jogo é que todos vocês que no primeiro turno votaram nesses candidatos votaram pela mudança”, disse Boulos, que também tentou superar a imagem de que é um candidato radical e pouco experiente: “Aposte na mudança. Eu me preparei. Pode confiar”.
Nunes, por sua vez, listou o seu currículo. “Eu me preparei: empresário, presidente de várias entidades, vereador, vice-prefeito, prefeito”, afirmou. “Estou com muita vontade, com muita energia”, disse ele, antes de criticar Boulos uma última vez: “Infelizmente, o adversário só lembrou de ofender a memória de Isabella Nardoni, o que a gente lamenta”.
Regras impediam apelidos
No debate da Record, os candidatos estiveram frente a frente por aproximadamente duas horas, divididas em três blocos nos quais eles farão perguntas uns aos outros e serão interpelados por jornalistas.
As regras do debate da Record não permitiam que os candidatos mostrassem documentos, fizessem gestos desrespeitosos ou usassem apelidos para se referir ao adversário. Eles também não podiam deixar o local designado pela produção do debate.
Apesar das trocas de acusações frequentes, nenhum candidato chegou a ser advertido pela moderação do debate.