• Carregando...
Ricardo Nunes (MDB) faz suspense para escolha do vice em sua chapa.
Alta taxa de reeleição no país pode ser mais decisivo a favor de Nunes do que apoio de Bolsonaro ou rejeição a Lula| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Maior termômetro político do país, a capital paulista aponta tendências eleitorais e se mostrou decisiva nas eleições presidenciais. No segundo turno de 2022, São Paulo refletiu a polarização nacional na disputa mais acirrada desde a redemocratização do país. Com uma diferença de apenas 1,8 ponto percentual (2,3 milhões de votos), o então candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, venceu nas urnas do país o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Na maior cidade do país, a vantagem de Lula foi de 7,08 pontos percentuais (486.437 votos), resultado que volta a ser analisado pelos partidos, dois anos depois, com o objetivo de entender a posição do paulistano nas urnas para o pleito municipal de 2024.

O comportamento do eleitor de São Paulo, imprevisível e crítico, tem desafiado as campanhas. Polarizadas, principalmente, entre o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e a chapa formada por Guilherme Boulos (PSOL) e Marta Suplicy (PT), a eleição paulistana deve ser marcada pelo equilíbrio de forças entre os apadrinhados politicos de Bolsonaro e Lula.

Enquanto Nunes tenta mostrar seus feitos à frente da prefeitura de São Paulo, Boulos tenta criticá-lo e atrelá-lo ao ex-presidente. “Teremos em São Paulo uma típica eleição em que a avaliação do incumbente, ou seja, aquele que está no poder, será o principal fator decisivo. Se o Ricardo Nunes continuar bem avaliado, ele ganha a eleição. No mundo afora, 80% dos incumbentes vencem nas urnas”, analisa o cientista político Antonio Lavareda.

Segundo ele, a taxa de reeleição dos prefeitos brasileiros que disputaram as urnas em 2020 foi de 63%, enquanto nas capitais o índice foi ainda maior, de 77%. Lavareda avalia que a aprovação da atual gestão pode ser mais decisiva que o apoio de Bolsonaro a Nunes e do que a presença de Lula na campanha de Boulos.

“O apoio do Lula pode ajudar Guilherme Boulos, mas jamais será um fator decisivo. As pessoas vão eleger um prefeito para administrar a cidade, e não para transformar a prefeitura em um palanque ideológico”, comenta. “Sem negativar a administração do Nunes, nenhum desafiante terá chance de ganhar a eleição para a prefeitura de São Paulo”, completa.

Desde a redemocratização, 70% dos prefeitos eleitos em São Paulo são de direita e centro-direita

Mais do que os resultados de pesquisas eleitorais, Lavareda afirma que a melhor maneira de entender o comportamento do paulistano nas urnas é observar a história das eleições municipais na cidade.

Nesse sentido, de 1985 a 2020, foram realizadas 10 eleições para prefeito na capital paulista e, em 50% delas, o candidato que ganhou não tinha o apoio do governador de São Paulo e nem do presidente da República no primeiro turno. Eles foram Jânio Quadros (PTB) em 1985, Luiza Erundina (PT) em 1989, Paulo Maluf (PDS) em 1993, Celso Pitta (PPB) em 1997 e Marta Suplicy (PT) em 2001.

Em 40% os pleitos municipais, o eleito tinha apoio do governador, mas não do presidente. Foi o caso de José Serra em 2005 (PSDB), Gilberto Kassab (DEM) em 2008, João Dória (PSDB) em 2017 e Bruno Covas (PSDB) em 2020.

Em apenas 10% delas, o eleito tinha o apoio do presidente da República, mas não do governador paulista, que foi o caso de Fernando Haddad (PT), em 2013, que era aliado da então presidente Dilma Rousseff (PT), mas não do então governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Já do ponto de vista da reeleição, 50% dos prefeitos que tentaram se reeleger conseguiram, enquanto 50% foram derrotados. Os vencedores foram Gilberto Kassab e Bruno Covas, enquanto os derrotados foram Marta Suplicy e Fernando Haddad.

Em relação ao campo ideológico, a direita ganhou em 40% das eleições paulistanas, enquanto a centro-direita e a esquerda empatam com 30% das vitórias. Entre os nomes da direita, estão Jânio Quadros, Paulo Maluf, Celso Pitta e Gilberto Kassab. Os prefeitos de centro-direita foram José Serra, João Dória e Bruno Covas. Os da esquerda, por sua vez, foram Luiza Erundina, Marta Suplicy e Fernando Haddad.

“Isso nos ajuda a olhar para as eleições neste ano e ver que não tem um padrão definido no comportamento do eleitor de São Paulo, ao longo do tempo. Ele é bastante heterogêneo”, diz Lavareda.

Para cientista política Maria Teresa Miceli Kerbauy, co-autora do livro "Política em São Paulo - Análise da dinâmica política", o eleitor paulistano é influenciado pelas próprias características da cidade de São Paulo, que é cosmopolita e acolhe pessoas dos mais diferentes tipos e gostos: “A capital paulista tem diferentes parcelas de eleitorado, em diversas partes”, aponta.

De 1985 a 2020: eleitor paulistano cada vez mais disputado

O cientista político Antonio Lavareda observa que as eleições em São Paulo têm ficado cada vez mais disputadas com candidatos que chegam a pelo menos 10% dos votos válidos no primeiro turno, ultrapassando a barreira dos “dois dígitos”.

“Nas décadas de 1980 até os anos 2000, o mais frequente era uma eleição com três candidatos competitivos, dois na frente e um terceiro conseguindo alcançar os dois dígitos. Mas em 2012 já tivemos uma eleição quadrangular, ou seja, com quatro candidatos com pelo menos 10%. Em 2016 isso se repetiu”, recorda Lavareda.

Em 2020, ele lembra que o acirramento foi ainda maior em um formato pentagonal com cinco potenciais candidatos. No primeiro turno, Bruno Covas teve 33% dos votos, Guilherme Boulos 20%, Márcio França (PSB) 14%, Celso Russomano (Republicanos) 12%, e Arthur do Val (Patriota) 10%. O petista Jilmar Tatto ainda ficou próximo da marca com 9%.

“Por pouco não tivemos uma eleição hexagonal. Houve muita fragmentação e todas essas variáveis terminam impactando no resultado da eleição”, ressalta Lavareda.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]