A cadeirada dada pelo apresentador José Luiz Datena (PSDB), candidato à prefeitura de São Paulo, contra o também candidato Pablo Marçal (PRTB), se soma a uma série de polêmicas registradas pelo ex-apresentador da TV Bandeirantes. Ao longo dos anos, ele colecionou situações, tanto na política quanto em sua carreira na TV.
Da sugestão de uma chapa conjunta com Guilherme Boulos (Psol) à recusa em ser vice de Jair Bolsonaro (PL), passando por desistências recorrentes de pré-candidaturas, Datena construiu uma imagem marcada pela imprevisibilidade e por decisões inesperadas. A agressão contra Marçal ocorreu após uma série de insultos e provocações de ambas as partes durante esta campanha e, especialmente, no debate do último domingo (15).
O candidato do PRTB perguntou ao apresentador quando ele pararia com a "palhaçada" e desistiria da candidatura. Antes, ele havia citado uma denúncia de assédio sexual contra Datena. Ao responder Marçal, Datena disse que o adversário estava fazendo acusações e calúnias contra ele.
"A acusação que você fez sobre mim... Repito: não foi investigada porque não havia provas. Foi arquivada pelo Ministério Público", disse. Na réplica, Marçal afirmou que Datena não sabia o que estava fazendo no debate e o chamou de "arregão". Na sequência, Datena agrediu Pablo Marçal com uma cadeira.
Apesar do ocorrido, o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, disse que Datena permanecerá como candidato da sigla na disputa pela prefeitura de São Paulo. "Datena é e continuará a ser o candidato do partido", declarou Perillo em entrevista à CNN.
Antes das eleições, Datena propôs formar uma chapa com Boulos
No início de abril de 2023, Datena trouxe à tona a possibilidade de formar uma aliança com Boulos para disputar a prefeitura de São Paulo em 2024. Em um vídeo vazado nas redes sociais, o tucano sugeriu a Boulos que a junção dos dois poderia ser benéfica para a cidade, argumentando que tanto ele quanto Boulos tinham "o desejo de melhorar São Paulo" e que suas diferenças ideológicas poderiam ser colocadas de lado por esse objetivo comum.
A proposta, porém, foi vista com surpresa tanto pela classe política quanto pelos eleitores. Boulos, que já vinha se consolidando como o principal nome da esquerda paulistana, não deu sequência à ideia.
Ele manteve sua candidatura de forma independente e, em entrevistas, ressaltou que respeitava Datena, mas que não via viabilidade em uma chapa conjunta, dado o histórico conservador do apresentador. O episódio foi encarado por muitos como uma manobra de Datena para testar novas alianças, refletindo sua capacidade de transitar entre campos ideológicos distintos.
Datena já negociou para ser vice de Bolsonaro, mas recuou
Em 2021, Datena estava no auge das negociações para compor a chapa de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022. Desde o início daquele ano, o nome de Datena foi ventilado nos bastidores do Planalto como uma escolha ideal para ampliar o alcance de Bolsonaro entre eleitores mais moderados, especialmente na região Sudeste, onde o apresentador tinha grande popularidade.
O próprio Datena confirmou as conversas com Bolsonaro, afirmando que "sempre houve um respeito mútuo" entre eles. No entanto, as negociações começaram a mostrar sinais de desgaste em meados de julho, quando Datena criticou publicamente algumas posições do presidente. "Tenho minha vida e não sou submisso a ninguém. Não quero ser vice de ninguém, quero ser presidente", disse o apresentador durante uma entrevista à Rádio Bandeirantes em agosto do mesmo ano.
Além disso, Datena criticou a condução do governo federal durante a pandemia, destacando que, em alguns pontos, "não dava para seguir alinhado com tudo o que Bolsonaro fazia". As diferenças ideológicas, especialmente nas questões de saúde pública, e o caráter mais independente de Datena acabaram frustrando as negociações.
As desistências recorrentes de Datena mostram um padrão de indecisão
A trajetória política de José Datena é marcada por uma série de desistências que geraram frustração entre seus apoiadores e desconfiança entre os partidos. O primeiro episódio ocorreu em 2016, quando Datena era apontado como candidato a prefeito de São Paulo pelo PP. Na época, ele chegou a anunciar pré-candidatura, mas desistiu, alegando motivos pessoais, afirmando que "não estava preparado para abandonar a carreira televisiva".
Em 2018, Datena novamente se lançou como candidato, desta vez ao Senado, pelo DEM (atual União Brasil). Após semanas de campanha, surpreendeu ao recuar, explicando que preferia continuar seu trabalho na Band. "Amo o que faço na televisão e acho que não conseguiria viver longe das câmeras", declarou em entrevista à CNN Brasil.
As desistências continuaram em 2020, quando Datena era cotado para disputar a prefeitura de São Paulo, e em 2022, quando abandonou a corrida ao Senado pela quarta vez. O apresentador justificou esses recuos sempre com a mesma linha: a dificuldade de conciliar a vida como comunicador com os desafios do ambiente político.
Em entrevista à CNN, em outubro de 2022, ele afirmou que "a política é dura, e a televisão é minha vida. É difícil equilibrar as duas coisas". Esses recuos sucessivos levantaram críticas sobre a real disposição de Datena em entrar para a política. Muitos questionam a seriedade dele em seguir uma carreira política estável, apontando que usa as candidaturas como uma forma de se manter relevante no cenário público sem o compromisso de efetivamente disputar os cargos.
Para a campanha deste ano, o PSB, da candidata Tabata Amaral, dava como certa a aliança com o PSDB para ter Datena como vice na chapa, até ele confirmar a, então, pré-candidatura própria. A convenção tucana que confirmou Datena como candidato foi marcada por tumulto.
Datena protagonizou cenas controversas na TV
Além da política, Datena protagonizou cenas controversas e cômicas enquanto apresentador do programa “Brasil Urgente”. Durante uma edição do programa, o jornalista reclamou dos preços dos alimentos e chutou a cadeira que fica no estúdio do programa.
Na ocasião, ele estava exibindo uma reportagem sobre residentes da Grande São Paulo, indo comprar refeições em restaurantes do Bom Prato, estabelecimentos sociais administrados pelo governo paulista. Após a reportagem exibir uma pessoa mexendo no lixo para encontrar alimento, o comunicador se alterou.
"Não adianta nada você reduzir a inflação e deixar o feijão a 10 paus (sic). Não adianta baixar a inflação e deixar o arroz a quanto? Vinte contos o saco de cinco quilos. Quem é que vai comer, pô?", falou o jornalista. Na sequência, ele deu um chute em uma cadeira que estava próxima do telão.
Durante uma transmissão em que cobria enchentes em São Paulo, no ano passado, o apresentador escorregou ao tentar atravessar uma área alagada e enlameada. O episódio viralizou nas redes sociais, e o apresentador chegou a tratar com bom humor a situação.
Em outro episódio, em 2018, ele cumpriu uma promessa feita ao vivo e apareceu vestindo apenas uma cueca samba-canção, o que gerou risadas do público e viralizou nas redes sociais. O episódio ocorreu durante um quadro de esportes, em que ele havia prometido que ficaria de cueca se o Palmeiras ganhasse uma partida importante, o que acabou acontecendo.
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