Ricardo Nunes, candidato do partido MDB, foi a escolha da maioria dos paulistanos nas urnas no segundo turno das eleições municipais, realizado deste domingo (27). O prefeito de São Paulo foi reeleito para a gestão 2025-2028 e venceu a disputa contra o deputado federal Guilherme Boulos (Psol). O resultado das eleições em São Paulo foi confirmado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por volta das 18h40, quando havia 89,8% das urnas apuradas.
Com a apuração concluída em 100% das urnas, Ricardo Nunes ficou com 3.393.110 votos, 59,35% dos votos válidos. Seu adversário, Guilherme Boulos ficou com 2.323.901 votos, 40,65% dos votos válidos.
O resultado das eleições em São Paulo confirmou a vantagem aberta por Ricardo Nunes no primeiro turno (6 de outubro), quando o candidato do MDB obteve 29,48% dos votos na cidade (1.801.139 votos), enquanto Guilherme Boulos totalizou 29,07% da preferência do eleitor (1.776.127 votos).
Ricardo Nunes é o candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) - que indicou o vice da chapa, Ricardo Mello Araújo (PL) - e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
No maior colégio eleitoral do país, a disputa do segundo turno refletiu a polarização nacional entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apoiadores, respectivamente, de Nunes e de Boulos.
Ricardo Nunes (MDB), de 57 anos, foi eleito em 2020 como vice de Bruno Covas na prefeitura de São Paulo. Ele assumiu o cargo de prefeito após o falecimento de Covas em decorrência de um câncer, em 2021. Com perfil discreto, Nunes era pouco conhecido pelos paulistanos no início da gestão e apostou em políticas de maior popularidade.
Filiado ao MDB desde os 18 anos, Nunes iniciou a carreira política como vereador na cidade de São Paulo, tendo sido eleito em 2012 e em 2016. Tornou-se vice de Covas em decorrência de uma ampla aliança de 12 partidos que viabilizou a eleição da chapa. Ricardo Nunes é casado com Regina Nunes, com quem tem três filhos e um neto.
Como foi a campanha no segundo turno em São Paulo
Após o "efeito Pablo Marçal" - e sua coleção de polêmicas - elevando a pressão no primeiro turno, a campanha para o segundo turno na cidade de São Paulo começou com a divergência entre Nunes e Boulos em relação à quantidade de debates. A proposta inicial chegou a um total de 12 debates eleitorais, promovidos por diversos meios de comunicação, em 16 dias.
Nunes defendeu a realização de três encontros e Boulos concordou com a redução, mas para nove. Muitos dos eventos foram mantidos e, em alguns deles, Boulos foi sabatinado a partir da ausência de Nunes.
E então, a dois dias da votação decisiva, uma dobradinha Boulos-Marçal contra Nunes se materializou em um bate-papo entre o candidato do Psol e o empresário do PRTB. Horas depois, Nunes e Boulos se encontraram no último debate antes da votação, nos estúdios da Rede Globo.
O segundo turno da campanha paulistana também foi movimentado por um novo episódio de apagão após fortes chuvas, fator que poderia complicar a estratégia do prefeito rumo à reeleição depois que mais de um milhão de pessoas ficaram sem energia elétrica na cidade. Mais de 400 mil delas tiveram de conviver com o problema por quatro dias. Boulos usou o ocorrido para atacar o prefeito, enquanto Nunes contra-atacou culpando a concessionária Enel e o governo federal, detentor do contrato de concessão com a empresa italiana.
De modo geral, os ataques de lado a lado não cessaram. Boulos evidenciou a acusação de suposta participação de Nunes na "máfia das creches" e repetiu o pedido para abertura do sigilo bancário do prefeito. Já Nunes apostou em atrelar Boulos a uma suposta negligência na apuração do caso da "rachadinha do Janones" e evidenciou que o candidato do Psol fugiu da Justiça em uma ação de depredação até a prescrição do caso.
Primeiro turno em São Paulo ficou marcado por agressões físicas e foi o mais disputado da história
Além da campanha tensa, o resultado do primeiro turno das eleições foi um dos mais acirrados da história de São Paulo. Em 2024, a eleição municipal na maior cidade do país foi a mais disputada das últimas 10 votações para prefeito desde a redemocratização, no ano de 1988. Com mais de 98% das urnas apuradas no primeiro turno, ainda não era possível saber quem seriam os candidatos que disputariam o segundo turno em São Paulo.
Pablo Marçal (PRTB), que começou a campanha como um outsider no cenário político, trouxe uma sensação desestabilizadora para as eleições paulistanas com um discurso agressivo e provocador. Empresário e palestrante de desenvolvimento pessoal, ele apostou em uma estratégia digital massiva, falando diretamente com eleitores insatisfeitos e conseguindo captar um eleitorado de nicho que se sentia desatendido pelas propostas tradicionais.
Marcada por polêmicas, a campanha de Pablo Marçal trouxe um tom agressivo ao primeiro turno. No debate da TV Cultura, em 15 de setembro, Marçal perguntou a Datena quando ele deixaria a corrida eleitoral e chamou-o de "arregão".
"Atravessou o debate esses dias para me dar um tapa, mas você não é homem nem para fazer isso", provocou Marçal. Depois da fala, Datena pegou a cadeira usada pela candidata Marina Helena, que estava atrás do seu púlpito, e bateu em Marçal. O debate foi para o intervalo, Datena foi expulso e Marçal foi de ambulância para o hospital. Na sequência, o candidato do PRTB utilizou o incidente para uma nova promoção nas redes sociais, rapidamente viralizando o episódio em vídeos editados, apresentando-se como uma vítima da velha política e ganhando mais engajamento entre os apoiadores.
Outro episódio de violência que marcou a campanha aconteceu num debate eleitoral seguinte, promovido pelo Grupo Flow no dia 23 de setembro. Nos bastidores, Nahuel Medina, assessor de Marçal, agrediu violentamente Duda Lima, marqueteiro da campanha de Ricardo Nunes, com um soco, depois que Marçal foi expulso do programa por violar as regras nos momentos finais.
O golpe deixou Lima com seis pontos no rosto e lesões que o fizeram passar por atendimento médico. Ele também acusou o advogado de Medina de, após o episódio, rasgar a camisa do cliente para forjar provas contra ele. O caso foi levado à Justiça e Duda Lima conseguiu uma medida protetiva contra Medina.
Na noite da sexta-feira que antecedeu o pleito no 1º turno, Marçal foi o epicentro de mais uma polêmica ao divulgar nas redes sociais um laudo médico falso segundo o qual Guilherme Boulos teria sofrido um "surto psicótico grave" e que um exame toxicológico teria detectado a presença de cocaína no sangue. Dias depois, a Polícia Federal atestou que a falsidade do documento.
Marçal ficou fora do segundo turno e não declarou apoio a nenhum candidato
O candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo terminou a disputa municipal em terceiro lugar, com mais de 1,7 milhão de votos e decidiu não apoiar nenhum dos dois candidatos que avançaram para o segundo turno. Conhecido por vender cursos online, investiu na campanha publicando os chamados cortes de vídeos nas redes sociais. A equipe dele ficou famosa pelos conteúdos curtos que rapidamente viralizavam. Durante a campanha, Marçal admitiu que as ações dele eram influenciadas por esses vídeos.
Marçal condicionou o apoio ao candidato à reeleição, Ricardo Nunes, a uma retratação pública tanto do prefeito quanto do governador de São Paulo e do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Se eu não apoiar ninguém e liberar meu eleitorado, 45% dos meus votos o Lula com humildade vai recuperar. Tenho certeza de que ele [Boulos] vence. Ele sabe falar com o povo, e o Ricardo não sabe. Boulos e Lula têm a língua do povo, os outros só brigam”, disse Marçal.
Marçal disse que, após o resultado das eleições no primeiro turno em São Paulo, Tarcísio de Freitas ligou para Filipe Sabará, coordenador do plano de governo do candidato do PRTB, em tentativa de reconciliação. “Queria abrir meu coração para ver se eu caía em conversa fiada. Tarcísio, sua ligação não surtiu efeito”, respondeu publicamente então o empresário.
Boulos e Lula têm a língua do povo, os outros só brigam.
Pablo Marçal, ex-candidato à prefeitura de São Paulo pelo PRTB
Para 2026, o empresário disse descartar concorrer ao Legislativo e completou que vai optar pela Presidência da República ou pelo governo de São Paulo. Ele voltou a criticar Tarcísio, dizendo que o governador “vai amargar” uma derrota por causa do que considerou uma traição. “Você traiu o povo paulistano e foi um canalha comigo”, atacou Marçal.
Eleições municipais em São Paulo desde 1992
Apenas uma eleição municipal, desde 1992, não foi decidida no segundo turno na capital paulista.
- 2024 – Ricardo Nunes (MDB) x Guilherme Boulos (Psol)
- 2020 - Bruno Covas (PSDB) x Guilherme Boulos (Psol) - (Covas venceu)
- 2016 - Vitória de João Doria no 1° turno (PSDB)
- 2012 - Fernando Haddad (PT) x José Serra (PSDB) - (Haddad venceu)
- 2008 - Gilberto Kassab (DEM) x Marta Suplicy (PT) - (Kassab venceu)
- 2004 - José Serra (PSDB) x Marta Suplicy (PT) - (Serra venceu)
- 2000 - Marta Suplicy (PT) x Paulo Maluf (PPB) - (Marta venceu)
- 1996 - Luiza Erundina (PT) x Celso Pitta (PPB) - (Pitta venceu)
- 1992 - Paulo Maluf (PDS) x Eduardo Suplicy (PT) - (Maluf venceu)
As eleições municipais de 1992 foram as primeiras em que houve realização de segundo turno no Brasil.
Pesquisas apontavam vitória expressiva de Nunes
Na véspera da votação em segundo turno, pesquisa Datafolha indicava Nunes com 57% das intenções de votos válidos dos paulistanos, contra 43% de Boulos. Um dia antes, levantamento divulgado pelo Paraná Pesquisas indicava a liderança de Nunes na disputa com 55,7% dos votos válidos, contra 44,3% de Boulos.
Metodologia das pesquisas citadas:
- Datafolha: 2.052 entrevistados entre os dias 25 e 26 de outubro de 2024. A pesquisa em São Paulo foi contratada por Folha de S.Paulo e Rede Globo. Confiança: 95%. Margem de erro: 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Registro no TSE nº SP-01690/2024.
- Paraná Pesquisas: 1.500 entrevistados entre os dias 21 e 24 de outubro de 2024. A pesquisa foi contratada pelo próprio Instituto Paraná de Pesquisas e Análise de Consumidor Ltda. Confiança: 95%. Margem de erro: 2,6 pontos percentuais. Registro no TSE nº SP-05333/2024.
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