O governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), eleito pela primeira vez a um cargo público há dois anos, deixa as eleições de 2024 com mais força política e como um dos principais nomes da direita nacional após assumir o protagonismo na articulação da campanha de Ricardo Nunes (MDB), prefeito reeleito em São Paulo.
De novato nas urnas em 2022, quando o ex-ministro da Infraestrutura disputou uma eleição pela primeira vez com o apoio do então presidente Jair Bolsonaro (PL), Tarcísio foi o líder político na campanha de Nunes, fez as articulações partidárias e trouxe Bolsonaro para mais perto do prefeito de São Paulo no segundo turno, na disputa contra o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), aliado de Lula que tinha como candidata a vice Marta Suplicy, ex-prefeita petista da capital paulistana.
"Agradeço ao líder maior, sem o qual esta vitória não seria possível: meu amigo, que me deu a mão na hora mais difícil", declarou Nunes após a confirmação da vitória sobre Boulos nas urnas na noite deste domingo. “No final de agosto eu dei uma caída nas pesquisas, foi quando o governador mais entrou no processo. Isso é uma prova do caráter, da lealdade, da pessoa que é o Tarcísio”, completou o prefeito paulistano.
Antes disso, o governador de São Paulo ainda foi crucial para conter o avanço do candidato Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno, quando o influencer passou a disputar os votos da direita conservadora com Nunes. Com a reeleição do candidato do MDB, que terá como vice o coronel Ricardo Mello Araújo (PL), nome indicado pessoalmente por Bolsonaro para compor a chapa, Tarcísio garante a manutenção da parceria com o prefeito da capital paulistana para gestão do estado e consolida o próprio nome na direita para as eleições de 2026, seja como candidato à reeleição ao governo de São Paulo ou como presidenciável na corrida pelo Palácio do Planalto.
Tarcísio sai fortalecido das eleições e pode disputar voos mais altos, avalia analista
“O governador sai fortalecido dessas eleições porque consegue uma dupla vitória: elege seu candidato na capital contra a esquerda e contra uma direita radical no primeiro turno e também consolida um padrão próprio de candidatura, de apoio, para além do seu mentor Jair Bolsonaro. Tarcísio sai das eleições pronto para voos mais altos e talvez buscando aquilo que já pretendia, que é consolidar seu capital político para presidência da República em 2026”, avalia o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino.
Além da capital, o Republicanos venceu em mais três pleitos no segundo turno deste domingo em São Paulo: Barueri, Santos e Sumaré. Assim, o partido saiu das eleições com 83 prefeituras, que serão comandadas por correligionários do governador. No primeiro turno, os candidatos do partido de Tarcísio de Freitas ainda venceram as eleições em Campinas e Sorocaba, municípios que estão entre as maiores cidades do estado.
Aliado de primeira hora de Bolsonaro, o governador paulista teve uma posição de neutralidade nas cidades com disputa entre o seu partido e o do ex-presidente, estratégia para manter o apoio da base de prefeitos de direita em São Paulo. Tarcísio ainda conta com a articulação política e apoio do secretário de Governo e Relações Institucionais, Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, sigla com maior número de prefeitos no estado e no Brasil.
No entanto, na avaliação de Consentino, Tarcísio errou ao comentar a suposta indicação de voto do Primeiro Comando da Capital (PCC) ao candidato adversário no segundo turno durante uma coletiva de imprensa no domingo, ao lado de Nunes. Questionado sobre o “salve” da organização criminosa interceptada nas penitenciárias do estado, o governador respondeu que a recomendação era para o voto em Boulos.
“No dia da eleição, ele comete um equívoco deliberado ao associar o crime organizado com o adversário. Sendo verdade ou não, não deveria ser feito durante o processo eleitoral e pode lhe trazer problemas no futuro”, disse o cientista político. Boulos afirmou que vai acionar a Justiça Eleitoral pelo abuso de poder político do governador em favor da coligação do candidato aliado.
Postura de Tarcísio nas eleições é comparada com “carta de independência”
Segundo o consultor de Estados e Municípios da BMJ Consultores Associados, Érico Oyama, Tarcísio deixou as eleições de 2024 mais autonomia em relação ao principal padrinho político, o ex-presidente Bolsonaro.
“Nessas eleições, ele conseguiu uma carta de independência para mostrar que tem potencial de fazer articulações políticas. Conta muito o fato de ter apoiado o Nunes do início ao fim, mesmo sem pestanejar diante das oscilações nas pesquisas”, avalia Oyama.
Para ele, Bolsonaro teve um papel secundário no apoio ao prefeito reeleito, tendo em vista a pequena participação na campanha paulistana. O ex-presidente apareceu ao lado de Nunes na campanha apenas na semana passada, às vésperas do segundo turno.
“Bolsonaro não participou de forma ativa na campanha no rádio, na TV e nem na internet, que Bolsonaro domina muito bem. O papel do ex-presidente no êxito do Nunes em São Paulo foi bem tangencial, beirando o nulo”, analisa o cientista político, que destaca a neutralidade do PL mesmo durante a ascensão de Marçal no primeiro turno.
“Ele procurou não criticar Marçal abertamente para não correr o risco de se indispor com uma possível nova liderança de direita. Tarcísio, ao contrário, assumiu os riscos de se indispor com Marçal e com um eventual novo prefeito da capital paulista, mesmo ocupando o cargo de governador de São Paulo”, compara.
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