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O combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) é a grande aposta para o setor aéreo nas metas de descarbonização e transição energética. Produzido a partir de fontes renováveis como biomassa, etanol e até algas, o SAF reduz entre 70% e 90% as emissões de gases de efeito estufa.
Porém, há um grande obstáculo para decolar de vez: ele custa até cinco vezes mais que o querosene de aviação (QAV), derivado do petróleo. Num setor em que combustível representa cerca de 40% das despesas, usar somente o combustível sustentável tornaria as viagens economicamente inviáveis.
Por enquanto, não há nem mesmo quantidade suficiente de combustível sustentável para atender ao mercado. O SAF ainda está na fase de testes. Neste mês, por exemplo, a companhia aérea Virgin fará o primeiro voo transatlântico abastecido exclusivamente com o combustível "verde".
A conta é difícil de fechar: o SAF precisa de escala de produção para ficar mais barato, mas não vai ganhar escala se não ficar mais acessível. Os Estados Unidos escolheram dar incentivos à produção. A Europa, por sua vez, optou por tornar o uso de SAF mandatório.
No Brasil, recentemente, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin (PSB), defendeu estímulos ao novo combustível. “No começo, precisa ter um incentivo”, disse Alckmin após evento da Câmara de Comércio Brasileira-Americana (Amcham), relembrando o que ocorreu com as fontes eólica e solar. “Precisa dar um estímulo para uma nova rota tecnológica. Depois ela pega escala e o preço cai”, completou.
Enquanto isso, as companhias aéreas preferem esperar decisão do governo, seja por incentivos, seja por uma obrigatoriedade de usar o combustível sustentável.
“A produção em escala para atender integralmente às necessidades das companhias requer um marco regulatório com regras claras e coerentes, segurança jurídica para investimentos, além de incentivos e tributação adequados”, observa Ligia Sato, gerente de Sustentabilidade da Latam Brasil.
Como têm metas de descarbonização a cumprir, as aéreas recorrem a outras saídas. A Gol, por exemplo, adotou um modelo de compensação de emissão de gases chamado Book & Claim. Neste sistema, a companhia compra créditos de carbono gerado por empresas fora do país que usem o SAF.