Na contramão de países europeus e asiáticos, no Brasil são os carros híbridos que vêm moldando a eletrificação nacional. O movimento tem a influência da alta produção de etanol no país. E tem atraído a atenção e até pautado estratégia das montadoras – tanto das que já vendem veículos aqui como das que vão começar a produzir conteúdo local.
Um estudo realizado pela LCA Consultores e MTempo Capital mostra que o Brasil pode ter ganhos de cerca R$ 2,3 trilhões até 2050 com a descarbonização a partir de veículos híbridos. Com os carros elétricos puros, porém, a estimativa é perda média de R$ 5 trilhões no período.
Os números se referem à produção total, mas se aplicam também para empregos, impacto no produto Interno bruto (PIB) e arrecadação de impostos. A pesquisa considera também a cadeia de suprimentos e a tecnologia atual – ou seja, pode mudar conforme os processos sejam modernizados.
Incentivos para a indústria com o etanol em pano de fundo
A mistura de motores elétricos e a combustão continua sendo aposta do governo e do mercado na esteira do programa nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover) do governo federal para incentivar a descarbonização de veículos.
Em março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com representantes do setor automotivo e de combustíveis para discutir o potencial de produção de veículos híbridos flex e do carro bioelétrico, uma tecnologia que combina o uso do etanol com a eletrificação.
Na mesma linha, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Aloizio Mercadante destacou não só a indústria de carros híbridos no Brasil, como a relevância do etanol brasileiro como o combustível a combustão para ser usado com as baterias.
“O Brasil tem uma história de 48 anos com o etanol. Hoje, temos etanol de segunda geração, com cada vez mais produtividade, cada vez mais eficiência. E a própria economia mundial está mostrando que essa rota (híbrida) é muito mais promissora do que o (carro) elétrico puro”.
Mercadante ressaltou, ainda, que o objetivo é fomentar a pesquisa e desenvolvimento de carros híbridos no país, e que a taxação dos carros elétricos importados foi uma decisão importante do governo para estimular a rota tecnológica nacional.
“Estamos assistindo aqui (Brasil) à uma recomposição da indústria automobilística. Todos esses investimentos que estão vindo acima de R$ 100 bilhões não vieram do acaso. Foi a determinação de nós taxarmos o carro elétrico para estimularmos a nossa rota tecnológica promissora que é o carro hibrido”, afirmou Mercadante.
Antônio Jorge Martins, coordenador dos cursos automotivos da FGV, explica que a gasolina é o combustível mais usado em outros países na mistura com baterias dos carros flex. No Brasil, diz, prevalece o uso de etanol devido a sua forte tecnologia e produção, além de menor preço. “É uma tecnologia que desenvolvemos para fugir no petróleo nos anos 1980. O Brasil vem sendo um grande produtor de etanol”.
Para Cássio Pagliarini, diretor de marketing da Bright Consulting, o motor híbrido rodando com etanol gera quase a mesma quantidade de CO2 que um veículo elétrico movido a baterias operando na Europa, que tem uma matriz energética "suja" (muito combustível fóssil). Segundo ele, os veículos híbridos rodando a etanol se utilizam da infraestrutura de abastecimento existente e o CO2 gerado na queima é regenerado na fotossíntese.
Elétricos puros: preço pontos de recargas e descarte da bateria são pontos contra
Há várias razões para os brasileiros preferirem os automóveis híbridos. Uma delas é o preço. Os carros elétricos “puros”, como são chamados os movidos somente a bateria, são mais caros. Outro motivo é que o país não tem ainda uma estrutura de recarga robusta, um problema que deixa os consumidores inseguros de ficar na rua sem carga - e que pode ser resolvido com um segundo outro modelo de motor, a combustão e abastecido em postos.
“O veículo elétrico a baterias é muito caro, tem a necessidade de pontos de recarga, existem dúvidas sérias sobre o impacto no meio ambiente na fabricação e no descarte das baterias, além de dúvidas sobre a vida útil das baterias. Tudo isso é risco para o proprietário”, resume Pagliarini.
Existe ainda mais duas razões pelas quais os híbridos têm maior aderência no Brasil. Uma é o fato de o álcool e o modelo flex já serem consolidados. A outra, conforme explica Martins, da FGV, é que o mercado externo já experimentou os carros totalmente elétricos e apresentou os problemas como baterias e carregamento.
“Passado algum tempo da eletrificação (de carros elétricos puros), começaram a surgir os problemas. É um veículo bem mais caro porque a bateria não está totalmente desenvolvida, precisa depreciar estes investimentos para amortizar (o custo) nos próximos anos. Outro problema são as recargas. É um desafio mundial, mas no Brasil é pior porque não tem empresas privadas nem governo para dar suporte, como na nos Estados Unidos e China (respectivamente)”, sublinha o especialista.
A Stellantis e a Toyota estão ampliando seus investimentos em modelos flex
A montadora chinesa BYD, que prevê começar a produzir carros elétricos no Brasil até o fim do ano, lançou este mês o sedã híbrido BYD King. Movido a bateria e gasolina, o veículo veio na versão GL e GS (a diferença é o tamanho da bateria). Custa a partir de R$ 175,8 mil.
Este é o segundo híbrido a ser comercializado no Brasil, onde estão desde 2013. A SUV Song Plus que até então era o único modelo vendido será um dos primeiros a ser fabricado em Camaçari (BA), junto aos puramente elétricos Dolphin e Dolphin Mini.
A lista de modelos híbridos flex, porém, deve aumentar, segundo a CEO da BYD nas Américas, Stella Lee, disse à "Folha de São Paulo"". A ideia é fabricar 12 modelos, entre puros e híbridos, com destaque para o uso do etanol,
A Stellantis, dona de marcas como Peugeot e Fiat, fez uma joint venture com a Leapmotor e vai começar a vender carros elétricos chineses ainda este ano no Brasil. Serão dois modelos, um compacto e uma SUV. Também vai investir, nos próximos cinco anos, R$ 14 bilhões em sua fábrica em Betim (MG) para expansão da linha de motores flex de alta eficiência e baixa emissão. A previsão é que os modelos da tecnologia chamada Bio-Hybrid cheguem ao mercado no segundo semestre deste ano.
O grupo japonês Toyota anunciou em março investimento de R$ 11 bilhões para aumentar a produção de veículos híbridos do Brasil até 2030. Serão fabricados dois modelos híbridos flex, sendo um compacto em 2025.
O montante engloba a montagem do motor do sistema híbrido em 2025 e a montagem de baterias para modelos híbridos a partir de 2026. A expectativa da empresa é criar dois mil empregos até 2030.
“A tecnologia híbrida está transformando o jogo e a Toyota está na vanguarda desse movimento. No Brasil, nosso entendimento é que a melhor solução atualmente é a tecnologia híbrida flex. Inclusive, estamos testando um próximo passo dessa tecnologia, que seria o híbrido flex plug-in. No entanto não descartamos a produção e comercialização de elétricos no futuro”, diz a empresa.
A montadora brasileira Lecar desistiu de fabricar um modelo nacional 100% elétrico para investir em veículos híbridos flex com etanol. Segundo o empresário Flávio Figueiredo Assis, ainda que o mercado de elétricos esteja aquecido, a falta de infraestrutura, principalmente de carregadores no país, é muito grande.
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