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Falta de estrutura para carro elétrico é um problema, e uma oportunidade bilionária
A infraestrutura associada ao carro elétrico avança mais devagar que as vendas desse tipo de veículo.| Foto: Michael Marais/Unsplash

A eletrificação de veículos no país segue acelerada. No primeiro semestre foram vendidos 79 mil carros elétricos e híbridos no mercado brasileiro, ante 32 mil no mesmo período de 2023. Os números tendem a crescer quando começar a produção de carros elétricos nas fábricas da BYD, na Bahia, e da GWM, em São Paulo. As duas montadoras chinesas serão as primeiras a fabricar em escala veículos leves elétricos no Brasil.

A infraestrutura associada aos elétricos, porém, avança mais devagar, com insuficiência de postos para recarga, limitação de autopeças e falta de profissionais especializados.

O descompasso dos atuais 8,8 mil pontos de recarga espalhados no país para quase 300 mil veículos em circulação, entre outras dificuldades da eletrificação, pode ser transtorno para o consumidor. Mas ao mesmo tempo abre espaço para negócios relacionados ao setor, como reposição de autopeças, manutenção, locação de veículos, postos de recarga, comércio e até condomínios.

“Quando se tem uma frota crescente, experimentando vendas crescente ano a ano, surgem oportunidades para outros segmentos”, analisa Ricardo Bastos, presidente Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).

A consultoria de estratégia nos setores energia e automotivo Mirow & Co. calcula que, a partir de 2030, a cadeia de veículos elétricos no Brasil movimentará mais de R$ 200 bilhões por ano. A projeção considera que até lá 10% da frota brasileira será de veículos movidos a bateria, híbridos ou não.

O setor automotivo em geral soma uma prospecção de R$ 167 bilhões do total. Autopeças e locação de veículos, serviços de carga e o setor elétrico vêm em seguida, com valores estimados de R$ 17 bilhões, R$ 14 bilhões e R$ 10 bilhões, respectivamente.

“A eletrificação vai transformar negócios já existentes e promover novos negócios entre empresas de setores que serão convergentes, como o de recarga e o de distribuição de energia elétrica, por exemplo. Haverá fusões e aquisições com vistas a essa nova realidade”, avalia Felipe Diniz, sócio e líder do estudo na Mirow & Co.

Recarga é lacuna para consumidor e oportunidade de negócio

A recarga atualmente é uma das principais questões a ser resolvida no país. Motoristas ficam inseguros de pegar estrada com grandes distâncias e não encontrarem postos de recarga no caminho. Nas rodovias, os eletropostos costumam ser de carregamento ultrarrápido. Ainda assim, a tomada e conexão, bem como a sua potência e o tempo necessário para alimentar a bateria, variam conforme o modelo do conector e do veículo.

Além disso, apesar do incentivo à eletrificação, o governo não constrói, nem incentiva ou paga por este eletropostos. Bastos pontua que o que existem são fontes de financiamento para negócios em geral, mas não projetos focados no fomento à infraestrutura da eletrificação, como em outros países.

No momento, o problema vem sendo contornado com as próprias montadoras instalando pontos e carregadores pelo país. Outras, porém, ficam na aba das concorrentes, o que acende críticas dentro do setor.

O uso de 75% de seus eletropostos por veículos de outras marcas levou a Volvo a mudar sua política de recarga. Desde o mês passado, a empresa decidiu cobrar R$ 4 o kWh e taxa de conectividade de R$ 2,50 para carros elétricos de outras marcas recarregarem nos seus 52 pontos rápidos em rodovias, presentes em 37 rotas.

Com investimento de R$ 70 milhões para chegar a 101 postos, a Volvo cortou as asas das montadoras que participavam apenas do bônus, sem ônus algum. A mudança é uma forma de pressionar outras companhias para não vender o “brinquedo sem a pilha”.

“Quanto mais players e parceiros existirem para abranger novas rotas, mais rápido atingiremos nosso objetivo de impulsionar a eletromobilidade no Brasil”, diz a companhia sueca.

O estudo da Mirow & Co. prevê que até 2030 a demanda de recarga de veículos elétricos de passeio amplie em 2% o consumo nacional de eletricidade. O entendimento é que, à medida que mais carros elétricos circulam, os postos de multisserviço se adaptam, criando oportunidades tanto para empresas especializadas em gestão de pontos de recarga e fabricantes de carregadores quanto ao comércio.

Hoje os consumidores carregam cerca de 80% de suas baterias em casa ou no trabalho, locais onde passam a maior parte do tempo. Os outros 20% são recargas de conveniência, na rua ou na estrada. O tempo de espera do motorista pela recarga pode se converter em venda em postos de abastecimento, shoppings e outros estacionamentos em centros comerciais.

“O dono do posto percebeu uma oportunidade aí na espera, pois ele atende a recarga e ainda vende outros itens enquanto o cliente espera o carro carregar”, observa Thiago Castilha, diretor de marketing da Associação Brasileira das Empresas de Equipamentos e de Serviços para o Mercado de Combustíveis e de Conveniência (Abieps).

Segundo ele, grandes empresas de energia vêm investindo em eletropostos de recarga rápida nas estradas e dentro das áreas urbanas. Bastos, da ABVE, acrescenta que os corredores (trechos conectados) estão sendo criados por empresas de postos de combustíveis.

“A previsão é dobrar o número de carregadores públicos em dois anos. O mais importante é a distribuição destes pontos ser assertiva e a expectativa de carregadores cada vez mais rápidos. Nas estradas, tem que ter recargas rápidas e ultrarrápidas”, adiciona Bastos.

A Vibra, dona da rede de postos de combustível com a marca Petrobras, tem 15 eletropostos em quase 2 mil quilômetros de extensão, a maioria no Rio de Janeiro. As outras estão nas capitais do Espírito Santo e da Bahia e no interior de Minas Gerais.

A meta divulgada pela empresa é somar 70 postos com pontos de recarga em 9 mil quilômetros de rede até 2025, dos quais 50 em estradas e 20 em centros urbanos.

Outro segmento atento à tendência é o imobiliário. Assim como as academias e espaços pet e gourmet foram diferenciais no passado, agora os destaques são minimercados autônomos e locais para os moradores recarregarem seus veículos.

“Hoje quando as pessoas vão procurar apartamento é mais comum perguntar se tem ponto de carregamento. Antigamente, era só em residenciais de alto padrão, agora é uma demanda geral. Então, entendemos que os condomínios precisam se estruturar, principalmente os grandes”, conta João Marcelo Frey, gerente de negócio da administradora Apsa.

A empresa gerencia mais de 3 mil condomínios em oito estados e fez parceria com uma companhia de recarga de carros elétricos. Frey explica que são dois modelos oferecidos aos mais de 300 mil condôminos. O mais procurado é aquele em que o morador contrata a instalação de uma tomada apenas na sua garagem, para seu próprio consumo.

O outro é um ponto de uso comum, com custo rateado entre todos os condôminos. Esse modelo é mais comum em novos condomínios na expectativa de valorizar o imóvel. O porém é que moradores não querem pagar por um serviço que não usam.

“Ainda tem muita resistência de contratar ponto de recarga no condomínio por quem não usa, mas entendemos que valoriza o imóvel”, completa Frey.

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