Em sua primeira entrevista à imprensa, a nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse que a companhia deve ser rentável, seguindo a lógica empresarial, e que é essencial repor reservas e continuar explorando petróleo.
Empossada na última sexta-feira, a nova CEO mostrou-se favorável à divisão dos dividendos, defendeu manter a atual política de preços dos combustível (sem paridade internacional) e disse que está analisando a troca de diretoria bem como outros negócios - desde que sejam lucrativos, pontuou.
Segundo ela, a companhia precisa ser rentável, mas também precisa atender ao interesse dos sócios, sejam eles majoritários ou minoritários, públicos ou privados. A maior acionista da Petrobras é a União Federal.
"Queremos responder às expectativas da sociedade, entendendo que temos na mão uma empresa grandiosa que tem que dar retorno, que tem que observar as normas de compliance, tem que ser sustentável, tem que respeitar as pessoas, tem que respeitar o meio-ambiente. Mas ela tem que ser rentável e ao mesmo tempo atender aos interesses dos acionistas majoritários e minoritários", disse a nova presidente.
Essa equação, diz, será possível "respeitando a lógica empresarial":
"Dando lucro, sendo tempestiva e atendendo aos interesses tanto dos acionistas públicos e privados, nós vamos fazer. A palavra-chave é conversa. E colocar a empresa à disposição dos acionistas dentro da lógica empresarial".
Ao ser questionada sobre quem dará a palavra final, se ela ou o presidente Lula, a nova presidente foi evasiva:
"A Petrobras é uma empresa de economia mista. Ela roda com uma diretoria colegiada, da qual eu participo, submetida a um conselho de administração, que é conhecido e eu também participo. A lógica empresarial é essa", respondeu Magda ao jornal O Globo.
Já sobre os dividendos, motivo de desgaste da última gestão, Magda não deu detalhes: “Se tem lucro, tem dividendos. Nós queremos ter lucro e queremos ter dividendos”.
Magda Chambriard defende exploração da Margem Equatorial
Até então, Magda Chambriard havia manifestado suas ideias sobre temas sensíveis da petroleira apenas em artigos e publicações anteriores ao anúncio e posse do novo cargo. Uma delas foi confirmada na entrevista de hoje. Ela defendeu a exploração da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial.
Considerada uma nova fronteira para o Brasil, a área que vai do Rio Grande do Norte ao Amapá (e especialmente neste estado) é a menina dos olhos da Petrobras pela expectativa do que explorar ali: cerca de 10 bilhões de barris de petróleo. Isso equivale a quase todo o volume de reservas provadas do pré-sal – de 11,5 bilhões de barris.
A Petrobras tenta aprovação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na região do Amapá, onde estima-se concentrar a maior reserva, mas sem sucesso. No ano passado, após o órgão ambiental indeferir uma licença solicitada pela petroleira para perfurar um bloco na região, a engenheira questionou a decisão.
Na conversa desta segunda com jornalistas, reafirmou: "Temos que tomar muito cuidado com a reposição das reservas, a menos que a gente queira aceitar o fato de que podemos voltar a ser importadores, o que para mim está fora de cogitação".
E emendou: "O esforço exploratório dessa empresa tem que ser mantido, tem que ser acelerado", disse, referindo-se à reservas do Amapá e em Pelotas, no Rio Grande do Sul.
Nova presidente não dá detalhes sobre troca na diretoria
Magda não deu detalhes sobre mudanças na troca da diretoria, nem sobre a transição energética. Sobre alterações na equipe, disse apenas que está avaliando mas que considera natural a troca: " Se houver alguma, vai ser um ajuste de perfil".
Quanto à energia renovável, a executiva afirmou que está na agenda, contudo, diferentemente de seu antecessor, Jean Paul Prates, não como uma das prioridades.
"A energia renovável vai ter que ser encarada porque o mundo está indo para o net zero e esse é um compromisso da Petrobras, está em nosso plano estratégico. Agora, obedecendo a lógica empresarial, é claro".
Magda assume o comando da maior estatal depois da saída conturbada de Jean Paul Prates. Entre os vários motivos que culminaram sua demissão, o principal é que o executivo era considerado mais pró-mercado e menos alinhado com o presidente Lula.
Magda entra com a missão de dar celeridade a grandes projetos do atual governo, como a retomada da indústria naval brasileira e ampliação do parque de refino da Petrobras, além da exploração de novas áreas. Segundo ela, no entanto, não houve demanda para acelerar projetos.
"A demanda que recebi foi que gerisse essa empresa com respeito à sociedade brasileira, foi a encomenda que tive do presidente", disse, ponderando: "Agora, a sociedade tem vários componentes: o governo interessado no seu plano de governo, os investidores, os fornecedores, seus industriais, os consumidores de gasolina".
Magda é a segunda mulher a assumir o comando da maior estatal brasileira. Graça Foster foi sua antecessora ao assumir o cargo entre 2012 e 2015, na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Ela é engenheira civil e funcionária de carreira da Petrobras, onde entrou em 1980. No governo de Dilma Rousseff (PT) foi convidada para a diretoria-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
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