A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse em entrevista ao jornal britânico "Financial Times" (FT) que o Brasil deve considerar limitar a produção e exploração de petróleo para que consiga triplicar as energias renováveis. Sua posição a coloca contra os planos do próprio governo de transformar o país num dos maiores produtores da commodity até 2029.
“Uma questão que terá de ser enfrentada é a questão dos limites, de um teto para a exploração de petróleo. É um debate que não é fácil, mas que os países produtores de petróleo terão de enfrentar”, disse a ministra.
Ela continuou: “O Brasil é produtor de petróleo. Este é um debate que terá de ser travado, mesmo em contexto de guerras. Estamos comprometidos com o objetivo de triplicar as energias renováveis. Mas tudo isso não pode ser feito se não discutirmos a questão dos limites à exploração”.
O jornal define que os comentários de Marina refletem uma tensão dos esforços do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para polir as credenciais ambientais do Brasil na proteção à Amazônia ao mesmo tempo que apoia a perfuração de petróleo pelos seus benefícios econômicos.
FT cita Marina como uma das ambientalistas mais respeitadas do mundo: “A sua nomeação como ministra no início deste ano pelo presidente Luiz Inácio Lula foi da Silva foi saudada como um símbolo do compromisso do Brasil com a proteção ecológica e a transição verde”, diz o jornal.
A missão de Marina enfrenta obstáculos dentro do próprio governo, que espera aproveitar novos campos em alto-mar para aumentar a produção de petróleo nos próximos anos. O Ministério de Minas e Energia estabeleceu a meta de aumentar a produção de 3 milhões de barris por dia, em 2022, para 5,4 milhões até o fim da década.
O governo tem sido criticado pela falta de clareza em suas propostas de transição energética. Além disso, fez lobby na COP28 e aposta na exploração de novas margens, como a Margem Equatorial e a Bacia de Pelotas – a estatal Petrobras foi a empresa que mais arrematou blocos em leilão realizado no dia 13.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse ao "Financial Times" que não via “nenhuma contradição” entre as metas de petróleo e gás do país e a sua aspiração de liderar a transição mundial para a energia verde. Ele disse que as receitas do petróleo ajudariam a financiar a mudança.
A opinião do ministro não livra o país de controvérsias. No início deste mês, chamou atenção o convite que o país recebeu, em meio à COP28, para aderir ao grupo Opep+, que compreende a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados.
Lula diz que o país será um "observador" na Opep+, concentrado em convencer as nações petrolíferas ricas a investir em fontes alternativas.
“O Brasil disse uma coisa, mas fez outra na cúpula da COP28. É inaceitável que o mesmo país, que afirma defender a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 graus, anuncie o seu alinhamento com o grupo dos maiores exportadores de petróleo do mundo”, afirmou Leandro Ramos, do Greenpeace Brasil, segundo o FT.
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