Técnica de operação da Petrobras no navio-plataforma P-71, no pré-sal da Bacia de Santos: Brasil e mundo vão consumir petróleo por um bom tempo.| Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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O Brasil foi convidado para fazer parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+). O grupo é uma espécie de "versão estendida" da Opep, o cartel dos exportadores de petróleo. O governo está avaliando a resposta.

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Mas, para especialistas, não faz sentido o país se tornar aliado, já que sua produção cresce e a organização vista justamente controlar e limitar os volumes exportados, além de trazer insegurança aos investidores no petróleo brasileiro.

José Mauro Coelho, presidente da consultoria Aurum Energia e ex-presidente da Petrobras, afirma que não vê sentido na possibilidade de o Brasil entrar na Opep+ por três motivos: o país estaria sujeito às cotas de permissão para exportar; o país precisa monetizar suas reservas e não limitar suas exportações; e não teria como o governo controlar as exportações das empresas privadas.

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“A expectativa é daqui uns 10 anos, em 2032, o Brasil esteja entre os cinco maiores produtores e exportadores de petróleo por dia. Com isso e com a transição energética, é importante que o Brasil monetize rapidamente suas reservas de petróleo. Não me parece fazer muito sentido entrar na Opep+, uma organização liderada pela Arábia Saudita, onde se faz um controle da oferta de petróleo no mundo”, argumenta Coelho.

O especialista explica que o controle se dá pelo sistema das cotas, no qual fica determinado o quanto cada país membro pode exportar, controlando a oferta de petróleo no mercado, o que afeta os preços.

“Para mim, não faz nenhum sentido o Brasil, que poderia monetizar fortemente sua produção, estar sujeito a uma determinada cota de exportação. Normalmente, um país que se incorpora à Opep quer ter algum ganho a comercialização do seu petróleo no mercado internacional ou acesso à tecnologia. O Brasil não precisa de nenhum dos dois", pontua Coelho.

Já para Marcio Felix, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás e seus associados (ABPIP), a inclusão no Brasil não o limitaria “necessariamente”, pois poderia entrar apenas como observador.

Na sua avaliação, o Brasil na Opep+ reconhece a posição de grande produtor e exportador de petróleo. Por outro lado, ele alerta que estar associado ao grupo pode prejudicar a atração de investimentos e o valor de mercado das empresas que atuam no Brasil, especialmente a Petrobras.

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“Estar na Opep+ pode mandar uma mensagem de sinal trocado ao mundo em relação ao discurso de potência da diversidade energética sustentável”, diz ele, que complementa:

“O Brasil deve manter uma boa relação com todos, inclusive a Opep, mas nosso perfil de exportador crescente de petróleo traz desafios a uma eventual discussão de cotas”.

No encontro sobre energia sustentável, os combustíveis fósseis estão em alta

A proposta do Brasil para fazer parte da Opep não é nova, mas a contradição do contexto em que isso ocorre vem causando polêmica. Depois da escolha de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, um dos principais produtores e exportadores de petróleo do mundo, para sediar a Cúpula do Clima (COP 28), o tema “energia verde” perdeu espaço para combustível fóssil. E convites como esse corroboram a sensação de distorção de objetivo do evento.

Outra contradição é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defender a transição energética e redução da produção dos combustíveis fósseis, mas o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, dizer que o Brasil deve aceitar o convite da Opep+, mesmo que sem entrar em cotas, ou seja, apenas observando.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, avalia a proposta e a decisão final é do presidente Lula, que até o momento não se pronunciou sobre o assunto.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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