Mesmo com todas as fontes alternativas postas à mesa, substituir o petróleo parcial ou totalmente é complexo. Isso porque, com todas as ressalvas socioambientais, ele é mais barato, acessível e seus derivados estão em inúmeros produtos, o que torna esta transição lenta e gradual.
"O mundo real precisa de petróleo todos os dias", diz o géologo Pedro Victor Zalán, fundador da Zag Consultoria. Com 45 anos de experiência na área, Zalán sublinha que, para além do uso de derivados no transporte e na petroquímica, também será desafiador substituir o petróleo como fonte de energia. As fontes eólica e solar são mais caras e intermitentes – dependem de vento e sol para gerar energia.
Além de ser mais barato que outras fontes que estão sendo desenvolvidas agora e requerem investimentos e tecnologias mais robustas, o combustível fóssil é mais acessível para países que muitas vezes não têm nem energia para toda a população.
Helder Queiroz, professor do Grupo de Economia da Energia da UFRJ e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), cita uma dificuldade prática da transição. "Imagine um país inteiro para trocar um fogão a gás por um elétrico, por exemplo. A demanda para essa troca precisa de recursos, tanto da disponibilidade de fogões para vender no Brasil quanto algum incentivo para o consumidor. E não temos política estruturada para isso", diz. "Então, em quanto tempo mudariam-se as cozinhas no Brasil? Isso envolve décadas", completa.
Na prática, a teoria na indústria e comércio é outra
Substituir o petróleo pode ser complexo mesmo para quem declara interesse e despende tempo e dinheiro nisso. A fabricante de brinquedos Lego, por exemplo, avisou dias atrás que abandonou seu esforço mais importante para eliminar plásticos à base de petróleo de seus famosos bloquinhos.
Há dois anos, a empresa havia anunciado testes com um protótipo de plástico reciclado de garrafas. Mas constatou que, por causa da exigência de novos equipamentos para a fabricação, as emissões de carbono ao longo de toda a vida útil do produto seriam maiores que as do bloco convencional.
No último dia 20, o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, comunicou que a data de proibição das vendas de veículos novos a gasolina e diesel foi adiada de 2030 para 2035. Motivo: boa parte da população não conseguiria custear a transição energética, por causa do custo do substituto, o carro elétrico.
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