Ouça este conteúdo
A diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia Anjos, afirmou nesta quinta-feira (24) que o Brasil pode voltar a importar petróleo a partir de 2034, sem a exploração da Margem Equatorial.
“O tempo está sendo muito crítico, em cinco, seis anos tem uma queda da produção do pré-sal e, com isso, a gente pode voltar a ser importador de petróleo em 2034, 2035, se a gente não tiver descobertas”, afirmou.
Prospectar petróleo na região, que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte, depende da autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A Petrobras tem 16 poços na nova fronteira exploratória, mas só tem autorização do Ibama para perfurar dois deles, na costa do Rio Grande do Norte. A executiva afirmou que ficará “frustrada” caso a autorização não saia ainda este ano.
“Estamos fazendo tudo o que é solicitado para que tenhamos a licença. Estamos confiantes”, assegurou. A declaração foi feita durante uma aula aberta no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Mesmo com autorização, perfuração na região só deve começar no ano que vem
Mesmo que a licença fosse concedida hoje, a Petrobras não acredita que seria possível começar a perfuração ainda em 2024. A diretora apontou que são necessários ao menos três meses para preparar e transportar a sonda perfuradora até a região, informou a Agência Brasil.
De acordo com Sylvia, a falta de autorização gera um prejuízo operacional para a companhia, com o atraso da possível produção de petróleo e com gastos em operações não realizadas.
Ela citou como exemplo o aluguel de uma sonda de perfuração, no valor de US$ 600 mil por dia (equivalente a quase R$ 3,4 milhões) que ficou dois meses “parada”.
A executiva criticou ainda o que chamou de “fake news científica”, citando a informação propagada de que há corais na foz do Amazonas. Além disso, reforçou que, apesar do nome, os poços ficam a 540 quilômetros distante da foz.
Impasse sobre Margem Equatorial divide governo Lula
A presidente da estatal, Magda Chambriard, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, pressionam o Ibama pela licença. Em julho, o presidente Lula (PT) afirmou que o governo vai explorar a Margem Equatorial e comparou a situação à descoberta do pré-sal.
Já a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, não têm pressa nem interesse em permitir a perfuração da região diante da possibilidade de danos ambientais.
A diretora avalia que não há contradição entre a orientação da política ambiental do país de reduzir a emissão de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global, e o interesse na exploração do petróleo.
Sylvia citou que o Brasil é autossuficiente em petróleo desde 2006, hoje 81% da produção nacional são atribuídos ao pré-sal. No entanto, o ciclo do petróleo prevê um declínio da produção após atingir o pico, por isso a Petrobras busca novas áreas de exploração.
Em maio do ano passado, Agostinho negou a licença solicitada pela estatal para explorar petróleo no bloco FZA-M-59, na bacia da foz do Amazonas. A estatal pediu ao órgão que reconsidere a decisão. Segundo a diretora, a companhia atendeu às exigências do órgão.
O Ibama não estabeleceu prazo para responder ao pedido de reconsideração da Petrobras. “Todo óleo importa. Então, a gente vai buscar tecnologia para encontrar soluções para que se possa produzir, mesmo que não seja o pré-sal de milhões de barris”, afirmou Sylvia.