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Um estudo global da consultoria EY mostra que somente 31% das pessoas aceitam pagar mais por energia limpa, ou seja, estão dispostas a investir mais tempo e dinheiro em ações sustentáveis. A pesquisa foi realizada durante três anos em 21 países, com 100 mil moradores, incluindo quem paga ou não a conta de luz, de diferentes faixas etárias e rendas.
De acordo com o estudo “Energy Transition Consumer Insights”, os custos relacionados às ações para se obter energia limpa – como a instalação de energia solar em casa e a compra de um carro elétrico, por exemplo – foram citados como as principais barreiras para aderir a opções menos poluentes.
O levantamento mostra que, por mais que exista interesse em novas fontes de energia, produtos e serviços, a maior parte dos entrevistados não pretende investir na transição energética nos próximos três anos em razão da dificuldade financeira envolvida.
Para 67% dos consumidores consultados, não é possível absorver um aumento de 10% na conta de luz. Isso porque a energia já é uma despesa relevante no orçamento doméstico da grande maioria (foi citada por 87% do total de entrevistados).
Segundo análise da pesquisa, globalmente há uma crescente desconexão entre os governos e suas áreas de atuação no tema, e isso acaba minando o envolvimento do consumidor.
“A exaustão do consumidor ocorre quando entramos em uma nova – e muito mais difícil – fase da transição energética, ao mesmo tempo em que administram-se preços mais elevados da energia, volatilidade geopolítica e preocupações crescem em torno da equidade energética. Governos, empresas e consumidores estão fazendo concessões difíceis para equilibrar as prioridades econômicas, ambientais e de equidade”, aponta a pesquisa.
Mais da metade dos brasileiros são engajados no tema
A EY não divulgou dados sobre o a disposição do brasileiro em gastar mais em nome da transição energética, mas fez um levantamento do consumidor local e identificou cinco principais perfis: campeões, entusiastas, novatos, espectadores e aliados.
Dos entrevistados no país, pouco mais da metade se enquadram nos grupos mais interessados em energia limpa – são 35% de entusiastas e 22% de campeões. Ambos os perfis são considerados altamente engajadas no tema e já fizeram mudanças significativas nos estilos de vida para serem mais sustentáveis. Isso significa que buscam informações e dão preferências a produtos e serviços que os ajudem a economizar energia.
Por outro lado, aproximadamente um terço da população é mais resistente à transição energética: são 19% de espectadores, os que mais se opõem às novas energias e às empresas dessa cadeia, e 13% de novatos, que se opõem, mas não tanto quanto os espectadores. Estes últimos também demonstram não ter interesse ou conhecimento sobre energias renováveis, energia solar doméstica e veículos elétricos, por exemplo.
Os aliados, por sua vez, são 12% dos entrevistados. Eles têm interesse, mas não conseguem ser mais ativos devido à situação financeira ou porque os produtos e serviços atuais não atendem às suas necessidades. Neste grupo, cerca de 80% disseram que estão fazendo o que podem para serem sustentáveis e acreditam que o fornecedor de energia deve liderar a transição energética.
Brasil está em "alfabetização energética", diz sócio da EY
Miguel Leão, sócio de Business Consulting da EY Brasil, observa que o Brasil apresenta o que chama de "alfabetização energética", ou seja, a compreensão do consumidor permanece baixa sobre transição energética e termos-chave do setor.
Por outro lado, apesar do desconhecimento e da resistência que existe nos grupos de espectadores e novatos, o Brasil é o quarto país no ranking de "índice de confiança" da pesquisa, com 68,6 pontos, atrás de China (76), Indonésia (72,2) e Malásia (69,4). O índice vai de 0 a 100 e a média global é 58,7.
“O fato de o Brasil estar nas primeiras posições globais do ranking confirma que há um grande espaço para desenvolvimento e crescimento de novos modelos de negócios em todos os elos da cadeia, sejam públicos, privados ou mistos”, avalia o executivo. “O sucesso da transição energética no mundo passa diretamente pelo comportamento do consumidor”, afirma Leão.