Exemplo
Sociedade em construção
As duas mulheres têm o sobrenome Silva e são moradoras de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Mas elas têm mais em comum do que o sobrenome. Rudnéia da Silva, 34 anos, e Fabiane Moreira da Silva, 18, trabalham diariamente para construir uma sociedade de paz.
Fabiane, moradora do Jardim Primavera, sabe bem da importância de ajudar as pessoas. No projeto Arte da Paz, do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (Iddeha), do qual participou quando tinha 13 anos, muitos jovens resgataram a vontade de viver e de trilhar um caminho melhor por meio do hip hop, do grafite e de oficinas sobre cidadania.
Hoje Fabiane integra outro projeto, o Central de Jovem, também do Iddeha. O grupo usa um blog para transmitir mensagens de paz. "São os pequenos gestos que podem influenciar as pessoas", explica. A estudante de Pedagogia também vai às escolas com o grupo e oferta oficinas sobre violência. "Os jovens são os mais atingidos pela violência. Então, é a gente quem tem de fazer algo."
Já Rudnéia, moradora do bairro Jardim Santa Tereza, faz parte do projeto Mulheres da Paz, que chegou a São José dos Pinhais com apoio do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).
"A gente, como mulher da paz, pode ajudar muitas pessoas", diz. Junto com outras 50 mulheres, ela resgata jovens com fragilidades sociais. "Procuramos saber quais os problemas deles, conversamos e depois encaminhamos para redes de proteção", relata.
Rudnéia entrou para o projeto porque não suportava mais ouvir sobre tantos jovens morrendo por causa de envolvimento com drogas. "Quero tentar melhorar a comunidade. As pessoas acham que não têm dever com a comunidade. Falta muita solidariedade", opina.
Ela e as outras Mulheres da Paz apresentaram uma peça de teatro sobre violência, na quinta-feira à noite, no Parque da Fonte, em São José dos Pinhais. Foi por meio da arte, de oficinas, de palestras sobre direitos humanos e cidadania que elas encontraram uma forma de fortalecer o laço da comunidade para criar uma rede de amizade forte e reverter o quadro da violência na região. "É se conhecendo que fortalecemos a comunidade."
"Dizer bom dia a alguém é um sinal de que você reconhece e respeita a existência daquela pessoa". Essa frase, da estudante de Pedagogia Fabiane Moreira da Silva, 18 anos, simboliza uma conscientização fundamental para reverter o quadro preocupante de medo e de violência no país. Mesmo tão jovem, ela sabe e entende a importância de estreitar as amizades e multiplicar o conceito de cultura de paz. Consciência essa que quase metade dos paranaenses ainda não tem.
Segundo levantamento da Paraná Pesquisas (veja o infográfico abaixo), 86,64% dos paranaenses conhecem seus vizinhos, mas o relacionamento é superficial em quase metade dos casos: 49,44% dos entrevistados relataram que costumam encontrar os vizinhos só quando estão saindo de casa e 6,18%, só em situações inesperadas, como no caso de um assalto. Por outro lado, 51,69% dizem que costumam visitar a vizinhança.
Autor do livro Diálogos Sobre Segurança, o delegado da Polícia Civil do Paraná Rafael Vianna é um firme defensor do fortalecimento das amizades entre vizinhos. Para ele, essa relação forte e próxima pode fazer a diferença quando o assunto é segurança pública. Mas, antes de fortalecer a amizade com a pessoa que mora na mesma rua, segundo o policial, é importante cultivar os mesmos valores dentro de casa. "Essas relações começam com a família. Não se pode ter medo de cultivar a gentileza dentro de casa. Depois, sim, pode partir para as pessoas que estão ao seu redor", opina.
Ele lembra que a maioria dos pequenos delitos que algumas vezes se transformam em tragédias pode ser evitada com bons relacionamentos entre vizinhos. Segundo o delegado, muitas discussões entre vizinhos acabam nas delegacias. "É preciso compreender e se colocar no lugar do outro. O nosso maior problema é que sempre encaramos qualquer discussão como um ato de guerra. Não existem vencedores em uma briga ou um homicídio", ressalta.
Sobre o grande número de paranaenses que mantém um relacionamento superficial com os vizinhos, o delegado explica. "É medo de começar, de ser gentil. Hoje, as pessoas confundem bondade com fraqueza", explica. De acordo com o delegado, o segredo é valorizar os gestos de bondade, assim com Fabiane faz. "Enquanto a bondade for motivo de vergonha, dificilmente teremos solução na segurança pública", enfatiza.
Cultura da paz
Na avaliação da diretora do Instituto Sou da Paz, Luciana Guimarães, gestos de gentileza e boa vizinhança fazem parte da cultura da paz, que precisa cada vez mais ser valorizada. "Isso tem a ver com a forma com que convivemos com as pessoas. É algo muito mais proativo", explica. Segundo ela, a maioria dos conflitos do dia a dia é de convivência. "Não significa ser contra os conflitos, porque sempre vão existir. O que não é saudável é resolvê-los de maneira violenta".
Para Luciana, conviver bem com o outro cria um ambiente desfavorável para o conflito. "Apostar no diálogo é ter uma forma diferente de resolver os problemas. É lidar com tudo de um jeito pacífico."
Segundo Luciana, a vizinhança é uma instância muito importante, mas não pode parar por ai. "Começamos com os vizinhos e espalhamos essa cultura para outras relações", comenta. Ela defende que a cultura de paz seja transversal e atinja toda sociedade. "Se a gente conseguir incorporar essa cultura, talvez revertamos esse quadro de violência e individualismo", destaca.
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