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Câmera na sala de aula no Instituto de Educação Pietro Martinez, em Ponta Grossa | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Câmera na sala de aula no Instituto de Educação Pietro Martinez, em Ponta Grossa| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Método

Especialista questiona medida

O uso de câmeras nas escolas pode criar uma política do medo e da delação no sistema educacional, segundo o mestre em Educação e professor André Rosa. "A sociedade parece se encaminhar para aquela condição que o filósofo francês Michel Foucault anunciava na década de 70, um sistema de excessiva vigilância e de punição. É dessa forma que se está querendo educar os estudantes?", indaga o especialista.

Ele acredita que ao adotar o sistema de monitoramento o estabelecimento de ensino sinaliza o começo da falência da política educacional. "A utilização de câmeras mostra apenas que o professor não tem condições de desempenhar o seu papel e que é preciso um monitoramento para coibir o aluno de praticar qualquer ato considerado errado. Além disso, a escola parece partir do pressuposto de que todo aluno é um deliquente e que é necessário ‘adestrá-lo’ com o apoio das câmeras. Isso representa a implementação de uma espécie de ditadura em sala de aula", critica André Rosa, que diz não se opor à adoção de meios tecnológicos nas aulas. "Mas não se pode usá-la de qualquer modo, deve haver uma indicação clara de uso. Definitivamente, monitorar em nada contribui na educação dos estudantes", afirma.

Ponta Grossa - Alunos vigiados também dentro das salas. Para coibir os atos de vandalismo, brigas e furtos no ambiente escolar – e ainda manter a ordem nas aulas –, diretores têm dado sinal positivo para a instalação de câmeras dentro das classes.

Em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, o Núcleo Regional de Educação (NRE) estima que 40 dos 84 colégios estaduais tenham adotado o sistema. O colégio estadual Instituto de Educação Pietro Martinez, que abriga quase 2 mil estudantes, foi o pioneiro na prática na cidade: foram gastos R$ 20 mil para custear as 48 câmeras do estabelecimento. "Queríamos investir esse dinheiro em outros projetos, mas havia a necessidade: 90% dos problemas que ocorrem em sala hoje, como discussões, trabalhos e cadernos perdidos, são resolvidos com essas câmeras", afirma o diretor auxiliar do colégio, Leandro Bueno.

De acordo com ele, até problemas que envolvem professores são solucionados pelo monitoramento.

"Existe professor que persegue aluno, isso acontece. Com a filmagem podemos orientar melhor o professor e aprimorar também o ensino", salienta Bueno.

Furtos

A estudante Thaline Stalzner não vê problema na instalação de câmeras. Para ela, os dispositivos só trouxeram benefícios. "Nossa sensação de segurança aumentou. Houve uma redução nas brigas e discussões em sala e diminuiu o risco de furtos", diz.

O Colégio Estadual Regente Feijó, que tem 2,8 mil alunos, também em Ponta Grossa, instalou câmeras nas salas no início deste ano. Segundo a diretora Cleozy Santos, todas as 24 classes receberam o equipamento, além de outras 16 espalhadas pelos corredores e pátio. "Dessa forma, evitamos pequenos furtos que aconteciam eventualmente", diz.

Apesar de muitas escolas terem aderido às câmeras nas salas, para a chefe do NRE, Maria Isabel Vieira, a inclusão do equipamento não resolve problemas e pode até mesmo disseminar o temor dentro da escola. "O medo não educa, é importante alcançarmos resultados educacionais e pedagógicos. O diálogo com os estudantes e pais deve ser sempre trabalhado, pois é isso o que irá educar de fato o cidadão", salienta.

Consultada pela reportagem, a Secretaria Estadual de Educação do Paraná disse não existir um levantamento de quantos colégios dispõem deste sistema de monitoramento.

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