Apenas três lombadas registram motoqueiros
Das 25 lombadas eletrônicas em operação em Curitiba, só três conseguem registrar infrações de motocicletas. Nos outros 22 equipamentos, a fotografia para possível aplicação da multa é tirada da frente do veículo e, como as motos não têm placa dianteira, não são flagradas quando excedem o limite de velocidade.
Pressa aumenta os riscos para entregadores
Além da fragilidade, a pressa está intimamente ligada ao número de acidentes dos motociclistas. "O pessoal da empresa quer urgência na entrega e, dependendo do horário, corre o risco do estabelecimento fechar ou perder o horário. É aí que você se coloca em risco", diz o entregador Sebastião Bueno.
O alerta costuma ser feito até mesmo para quem apenas pensa em tirar a carteira de habilitação para moto, mesmo que ainda sem muita convicção. Há dois tipos de motociclistas: os que já caíram e os que vão cair. E na maior parte dos casos, a queda é, na realidade, um acidente de trânsito, como o "leve esbarrão" de um carro, por exemplo. Ao lado dos ciclistas, os motoqueiros são o personagem mais frágil do trânsito, envolvendo-se mais em acidentes. A proporção entre a frota e o número de ocorrências em Curitiba confirma a afirmação: 12 motos a cada mil sofrem acidente. Entre os carros, a proporção é de 5 a cada mil.
Apesar de elevado, o índice já foi maior, a exemplo do ano passado: 17 acidentes entre mil motos e de 7 em mil para os automóveis. Ou seja, as ruas da capital ficaram mais seguras este ano. De janeiro a maio de 2008 foram registradas 1,9 mil ocorrências, sendo que em 90% dos casos houve vítimas. No mesmo período deste ano, aconteceram 1,5 mil acidentes, com vítimas em 88% dos casos. A segurança aumentou também para os carros: de cinco mil ocorrências, em 2008, para 3,8 mil este ano. Entre esses, a mortalidade não ultrapassa os 60%. Na comparação entre número absoluto, houve queda de 22% no índice de acidentes para motos e de 23% entre os veículos.
Os resultados que podem ser comemorados, pois a frota curitibana cresce em ritmo frenético. Em maio do ano passado, a capital tinha 1,06 milhão de veículos, sendo 766 mil carros e 112 mil motos (fora ônibus, caminhões e utilitários). Este ano, o total saltou para cerca de 1,1 milhão quase 800 mil carros e 122 mil motos um crescimento de quase 5% em 12 meses. E as motocicletas puxaram a fila, com aumento de 9%. Mais do que o dobro dos carros, que subiram 4%. De acordo com o Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), a queda de acidentes, mesmo com o aumento da frota, é consequência do aumento da fiscalização e da realização de campanhas educativas em escolas e empresas.
Coordenadora de Educação para o Trânsito do Detran-PR, Maria Helena Gusso Mattos afirma que, apesar da melhora, a fragilidade do veículo determina o alto índice de óbitos dos motociclistas. "Não existe uma proteção na moto. Por isso, os acidentes são mais graves, porque o condutor está multo vulnerável, mesmo em batidas leves", diz. Maria Helena aponta a falta de respeito às normas de trânsito como principal causa das ocorrências. "É preciso haver divisão de espaços prudente e respeitosa. Não se pode esquecer que no trânsito existem outros seres humanos, também com necessidades e pressa", afirma.
Histórias no chão
Não é preciso muito esforço para encontrar motociclistas que se envolveram em acidentes. O entregador Sebastião Bueno, por exemplo, envolveu-se em cinco batidas de moto em seus 24 anos de habilitação. O último deles, em 2006, ocorreu em uma madrugada, perto do Teatro Paiol. "Os caras furaram o sinal vermelho, todos bêbados. Na batida, minha moto deu perda total. Eu fiquei com a coluna machucada, agora só faço uma entrega ou outra", relata Bueno.
Nas outras quatro batidas, o motoqueiro contabiliza os ferimentos: duas platinas no joelho esquerdo, uma operação no direito para recuperar o osso da rótula e a clavícula fora do lugar. De acordo com Bueno, a maior parte dos acidentes decorre da falta de visão dos condutores de carros ou ônibus. "Quando vê, não dá tempo de desviar e acaba pegando o meio-fio ou o próprio carro", diz.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Condutores de Veículos Motonetas, Motocicletas e Similares de Curitiba e Região Metropolitana, Tito Mori, estima que de 25% a 30% dos acidentes ocorrem em função dos pontos cegos.
Mori não avalia, porém, os motoqueiros apenas como vítimas. "Muitas vezes, a pessoa não tem o conhecimento necessário ou falta educação no trânsito. Por isso, coloca-se em situações de risco", opina. Para evitar acidentes, o Sintramotos realiza a campanha "Olho no Trânsito", tratando das responsabilidades dos habitantes desse espaço de convivência. "Apesar do trânsito de Curitiba estar pesado e mal resolvido, todos nós vivemos ele e é preciso haver um melhor conhecimento", diz. A orientação deve ser feita para todos os tipos de condutores.
O motoqueiro Maurício Antônio resume a situação do motoqueiro. "Às vezes, você tem de fazer uma correria e nem sempre é vítima. Um minutinho de bobeira e, quando vê, a moto está no chão", conta. "Outras vezes, você está na hora e no lugar errado. Não faz nada e é atingido", acrescenta, mostrando as cicatrizes de seu último tombo, ocorrido recentemente em uma rua de Almirante Tamandaré.
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