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Mieceslau Borkovski e sua filha Maria Carolina: tecnologia e conhecimento colaboraram para sucessão familiar da propriedade | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Mieceslau Borkovski e sua filha Maria Carolina: tecnologia e conhecimento colaboraram para sucessão familiar da propriedade| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Presente

Produtor mantém tradição sem glamour

Mieceslau Borkovski, de 66 anos, é o retrato do produtor do Paraná. Ainda criança, ajudava o pai na plantação de batatas da família, em Contenda, a 44 quilômetros de Curitiba. Ele é proprietário de um minifúndio, de cerca de 170 hectares, onde planta soja e milho.

Apesar das dificuldades típicas de quem vive do campo, ele acredita que o ofício é visto de forma glamorizada. "O pessoal da cidade pensa que a gente tem colheitadeira de última geração e carro do ano. Mas não é isso. A gente mesmo faz a colheita, com máquina alugada e um caminhão velho."

Seo Mieceslau acredita que a paixão pela atividade agrícola deve ser incentivada às novas gerações. Ele conta que os jovens que querem seguir no campo precisam do apoio da família. "A terra, os produtos e maquinários estão muito caros. O pai que pode, divide sua terra com o filho para ele começar." A partir dessa lógica, a filha Maria Carolina Borkovski foi beneficiada. "Ela tem que assumir porque, logo eu vou pendurar as chuteiras."

FUTURO

Capacitação é a receita para o sucesso

Maria Carolina Borkovski, 34, filha de Mieceslau, investe na educação para encarar os desafios que o futuro no campo apresenta. Com três graduações (Administração, Zootecnia e Agronomia) e dezenas de cursos técnicos, ela agrega conhecimento à tradição agrícola. "A tecnologia está extremamente avançada, mas se a gente não souber usar não adianta nada", diz o pai.

Com o mesmo objetivo, José Rogério Volpato, 33, se formou em Processos Gerenciais e agora cursa especialização em Agronegócio. Ele planta 150 hectares de milho e soja em Ourizona, próximo a Maringá, Norte do estado. Com as novas técnicas, ele colheu na última safra 110 sacas por alqueire, apesar da seca que atingiu a região.

Volpato lembra que na época de seu pai, a falta de conhecimento técnico prejudicava a produção, que sofria grandes perdas. "Meu pai perdeu todo o café com a geada de 1975. Depois ele optou pela soja, mas foi uma escolha sem qualquer orientação."

Número

90,6% dos estabelecimentos agropecuários são chefiados por homens.

  • Pai e filha acompanham a chegada de uma carga de milho na cooperativa, em Contenda
  • Cooperativismo ainda é a base para o produtor rural do Paraná
  • A filha de Mieceslau, Maria Carolina, tem obtido receitas graças ao plantio de soja
  • O milho, já colhido na plantação da família, é a segunda maior cultura do estado
  • O investimento em educação fez com que o produtor José Volpato aumentasse a produtividade
  • José Volpato: educação que gera produtividade

O agronegócio segue a onda de valorização da soja e do milho e, numa época que parece ser o auge desse ciclo econômico, o produtor rural redefine seu perfil. Ficam para trás o latifundiário de lucro certeiro, obtido pelo plantio em larga escala, e que garantia um futuro milionário para filhos e netos. Também está em extinção o produtor familiar de vida simples, que plantava para sua subsistência, e não precisava se renovar para assegurar o futuro da família.

O produtor do Paraná tem, em média, 55 anos, e passa por uma fase de transição em plena maturidade. Não completou o ensino fundamental, mas exerce atividade especializada. Ganha pouco - a renda média é inferior a dois salários mínimos por trabalhador – porém, se obriga a fazer altos investimentos a cada safra. Busca socorro em financiamentos, participa de cursos técnicos e adere rapidamente a novas tecnologias para obter informações.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam: grandes latifúndios são minoria. De acordo com o Censo Agropecuário (2007), 90,53% dos estabelecimentos paranaenses não chegam a 100 hectares. O estado tem 371.051 propriedades, que em sua maioria são destinadas ao plantio de soja, milho, trigo e cana-de-açúcar. Juntas, ocupam 6.777.691 hectares, segundo a Secretaria da Agricultura do Paraná (Seab).

O mesmo estudo mostra que o grau de instrução evolui lentamente – 67,3% não passaram do ensino fundamental e o setor apela à qualificação em cursos técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop). De uma em cada três propriedades saí um aluno, que tem acesso a aulas diversas:de operação de máquinas até a gestão de contas.

Segundo o Censo, 11,85% dos chefes de propriedades rurais têm entre 25 e 35 anos. A tecnologia, além de auxiliar na instrução e produção, cria um importante incentivo para manter os jovens no campo. "A capacitação mostra que ele pode obter renda e qualidade de vida se utilizar a propriedade adequadamente", destaca o gerente técnico do Senar, Elcio Chagas.

Ele acrescenta que o uso da Internet também facilita o ensino, pois "além da flexibilidade de horário e local, é possível aplicar o conhecimento na propriedade". O conhecimento facilita a operação do maquinário, que por sua vez agiliza o plantio e reduz os custos.Mesmo com uma receita total superior a 13 bilhões anuais no estado, o ganho médio ainda é baixo. Se o valor fosse dividido igualmente entre os 1.117.084 de trabalhadores rurais, atingiria a cifra de R$ 12.494,60 anuais, ou R$ 1.041,22 mensais – valor inferior a dois salários mínimos.

O cooperativismo tem sido a alternativa para reverter esse cenário. Em 2011 o setor faturou mais de R$ 32 bilhões, e cerca de 745 mil cooperados. "O associado busca a orientação, ótimos resultados financeiros e a alta capilaridade que a cooperativa oferece", acredita Robson Mafioletti, técnico do Sindicato e Associação das Cooperativas do Paraná (Ocepar).

Retrato do produtor paranaense

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