Pelo preço de uma passagem de ônibus, é possível percorrer uma distância quase igual à que separa Curitiba e Ponta Grossa. Com 107 quilômetros de extensão total e mais de três horas de viagem para cumprir o percurso, a linha Curitiba-Areia Branca tem o maior trajeto entre as 355 linhas que servem a capital e região metropolitana. Rodar essa quilometragem custa R$ 7,40 (contando ida e volta). O mesmo caminho feito em um carro popular custaria cerca de R$ 24 só com a gasolina.
O ponto de partida do Curitiba-Areia Branca fica na Alameda Dr. Muricy, no Centro. O ônibus passa por sete bairros antes de sair da capital e entrar em Fazenda Rio Grande e Mandirituba. Pela janela, o amontoado de prédios da região central dá lugar a casas e depois a pastos e plantações. Por fim, o veículo chega ao terminal de Areia Branca. Ou melhor, ao "Shopping de Areia Branca dos Assis Restaurante Lanchonete Loja Brechó Terminal de Ônibus", nessa ordem.
A maioria dos estabelecimentos do terminal leva o nome "Betina", uma homenagem que a comerciante Maria Bernadete Longo fez à filha. No começo, Bernadete tinha só um bar anexo ao terminal de ônibus. Quando a venda de bebidas alcoólicas em beira de estrada foi proibida, ela abriu o brechó o pontapé para a formação de seu pequeno "império" comercial.
O salão "Encanto da Beleza" é o único espaço que não pertence a Bernadete. Ele é administrado pela cabeleireira Vanderléia Alama, que conta ter uma relação íntima com as quase duas horas de viagem que separam Areia Branca da capital por ônibus. "Quando fazia curso em Curitiba, tinha que sair de casa às 8h para dar tempo de almoçar e chegar na aula das 14h", conta.
No dia que a reportagem da Gazeta do Povo esteve no terminal de Areia Branca, o prefeito de Mandirituba, Onildo Gelatti (PTB), tomava suco de laranja no balcão da Lanchonete Betina. Ele estava ali para ver um buraco que surgiu na entrada do terminal, causado pelas chuvas. Apesar de não andar de ônibus, Gelatti diz conhecer os problemas dos usuários da linha que leva a Curitiba que, segundo seus assessores, são mais de 2 mil por dia.
Mandirituba e Areia Branca ainda não fazem parte da Rede Integrada de Transportes (RIT), por isso o valor da passagem é de R$ 3,70. "Sabemos que muitos moradores têm dificuldades de conseguir emprego em Curitiba. O empregador precisa pagar até quatro passagens por dia, fica caro", comenta o prefeito. Ele diz que vai brigar pela integração do município a RIT para diminuir o valor da passagem e possibilitar a integração com outras linhas.
Paisagens na janela
Reencontro
A cobradora Ivani Worm costuma cumprimentar efusivamente os passageiros que entram no ônibus. "Vejo as mesmas pessoas todos os dias, acabamos ficando amigas", sorri. Ela e o motorista Edeno Gonçalves fazem uma pausa de uma hora entre cada viagem a Areia Branca. "Cada parte do trajeto leva quase duas horas, dependendo do trânsito. Temos que descansar e usar o banheiro nesse intervalo", explica.
O ir e vir na linha mais extensa da região trouxe pelo menos um fato marcante para a vida de Ivani. "Uma vez, entrou uma senhora no ônibus com uma fotografia na mão. Ela mostrava a todo mundo e perguntava se alguém sabia de seu filho, que havia sumido havia alguns anos. Quando ela me mostrou a foto, eu o reconheci. Era meu vizinho", emociona-se ao lembrar. "Levei a senhora até a casa do rapaz e vi a sua reação quando colocou os olhos nele. Ela saiu correndo e os dois se abraçaram. Foi muito emocionante".
Em medidas
Quase 60 km por 11 bairros
O Curitiba-Areia Branca pode ser a linha de ônibus mais extensa da Região Metropolitana. Mas das linhas que circulam exclusivamente dentro de Curitiba, o Interbairros III é campeão em trajeto mais longo. Com 59,7 quilômetros de extensão, o percurso passa por 11 bairros da cidade: Capão Raso, Xaxim, Boqueirão, Uberaba, Cajuru, Jardim das Américas, Capão da Imbuia, Bairro Alto, Atuba, Tingui e Santa Cândida. Um usuário leva cerca de três horas para completar o percurso.
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