Apesar dos grandes avanços na redução de mortalidade infantil e materna, o Brasil ainda tem um caminho para avançar nesse cuidado, sobretudo com as grávidas: segundo o Ministério da Saúde, a mortalidade materna caiu 58% no Brasil entre 1990 e 2015, de 143 para 60 óbitos maternos a cada 100 mil nascidos. O índice, porém, ainda está longe da meta traçada como objetivo pela ONU para o Brasil, de 35 óbitos a cada 100 mil. Problemas como pressão alta durante a gravidez, infecções e hemorragia após o parto são algumas das principais causas, que poderiam ser evitadas com um pré-natal cuidadoso e informações acessíveis para a gestante.
A adesão ao pré-natal (são necessárias, no mínimo, sete consultas com o médico obstetra durante a gestação) continua sendo um dos principais desafios dos serviços de saúde – por isso, estratégias como a adoção de programas que aproximem as mães, tragam informações relevantes e acolham a mulher nesse período, que é de alegria, mas também de mudanças, são essenciais. Em Carambeí, na região dos Campos Gerais, o número de gestantes que começou a concluir o pré-natal quase dobrou após a implementação, em fevereiro do ano passado, do programa Parto Humanizado, da CCR RodoNorte. As ações, realizadas entre a concessionária, secretaria municipal da saúde e a Apae da cidade, instituição responsável pela gestão do projeto, são abertas para todas as gestantes cadastradas na unidade de saúde – hoje, são cerca de 300 no município.
O projeto, um dos primeiros na área de responsabilidade social da concessionária, já atendeu desde o seu início, em 2002, cerca de 45 mil gestantes e hoje está ativo, além de Carambeí, nas cidades de Ponta Grossa, Apucarana, Piraí do Sul, Tibagi, Mauá da Serra, Califórnia e Marilândia do Sul.
O apoio ao pré-natal é realizado desde e início: a gestante precisa comparecer em sete consultas e em encontros realizados pelas entidades gestoras nas cidades — no final, a mulher recebe um kit com um enxoval para o bebê, com fraldas e roupinhas, em uma sacola ecológica. As palestras com profissionais da saúde e doulas, de cerca de uma hora, abordam temas como alimentação saudável na gestação e pós-parto, trabalho de parto e rotinas hospitalares, direitos da grávida no hospital e na licença do trabalho, relacionamento entre mãe e bebê, testes obrigatórios após o nascimento, entre outros temas. “O que faz uma diferença muito grande é que elas saem mais seguras para a maternidade”, salienta a funcionária responsável pelo Parto Humanizado na Secretaria de Saúde de Carambeí, Edenize Plovas.
Participante do grupo mais recente em Carambeí, a funcionária pública Nicoly Talita Belo, de 28 anos, sentiu justamente essa mudança na autoconfiança em relação à gravidez e ao bebê. Mesmo não sendo mãe de primeira viagem, ela quis participar para ter mais informações nos cuidados com o seu segundo filho, Afonso. Grávida de 39 semanas, ela percebeu, nas palestras, alguns erros que cometeu com o primeiro filho, Álvaro, de dois anos. “Foi muito esclarecedor, mesmo tendo a experiência da maternidade. Hoje, tenho uma visão mais técnica. No meu primeiro filho, tive ajuda da minha mãe e minha sogra e, às vezes, alguns costumes antigos que não são mais usados hoje são colocados para nós. Vem palpites de todos os lados. Sei que sempre querem ajudar as mães, mas entendi o que tem necessidade ou não”, fala. Dessa vez, por exemplo, Nicoly não ficará só nas comidas muito leves, como sopas, após dar à luz. “Aprendi que preciso me alimentar bem para gerar leite e ter energia para amamentar”, frisa.
Outros temas
Dependendo da instituição que administra o projeto, mais assuntos podem ser incluídos nas palestras – em Carambeí, a Apae, que coordena o Parto Humanizado junto com a secretaria de saúde, fala em um dos encontros sobre a prevenção à deficiência. “Explicamos desde o que é a deficiência até maneiras de prevenção como a alimentação saudável, essencial para um bom desenvolvimento do bebê, uso de medicamentos e realização de exames na gravidez, síndromes genéticas, importância de estimular o bebê desde pequeno e testes importantes após o nascimento, como do pezinho, orelhinha e do coração”, explica a diretora da Apae da cidade, Lídia Silvano. A palestra já trouxe, inclusive, alunos para a instituição: uma das mães percebeu na palestra que o outro filho poderia ter algum atraso intelectual — a criança foi atendida na Apae e conseguiu recuperar a defasagem na aprendizagem, e acompanhar o ensino regular sem problemas.
Na Pastoral da Criança de Ponta Grossa, a questão psicológica recebe atenção especial no programa. “Trabalhamos no fortalecimento do vínculo entre a mãe e o bebê, para que elas exerçam a maternagem, que é dar amor, carinho e afeto”, diz a assistente social Camila Eidam Nazareth. Assuntos como a depressão pós-parto, que pode acontecer com as mães mas que ainda é tratado como tabu, também são levantados nos encontros. “Orientamos para que, assim que ela sentir algum sintoma, que procure ajuda. Há também uma interação entre as mulheres, que trocam vivências sobre a depressão, o que ajuda elas não terem medo de se abrir”, frisa Camila.
Outro incentivo na Pastoral é para que as mulheres façam avaliações odontológicas gratuitas nas unidades de saúde. “É um período que, às vezes, as mulheres podem ter mais sensibilidade nos dentes, ou gengivite, e existem profissionais focados no cuidado com a gestante”, salienta a assistente social. E, após o nascimento do bebê, a família é acompanhada por uma líder voluntária da Pastoral, que verifica indicadores de desenvolvimento, vacinas e amamentação. “Mas as mulheres, por serem muito assíduas no programa, se aproximam de nós, trazem o bebezinho para a gente ver. É um resultado muito relevante”.
Aproximação e impactos
Além dos resultados pessoais de cada uma das grávidas, o programa Parto Humanizado causa impacto nas cidades em que é incorporado – mais gestantes fazendo o pré-natal, índices em queda na mortalidade infantil e mulheres bem informadas e seguras são alguns dos resultados percebidos. “Foi um dos primeiros projetos sociais que idealizamos, pensado junto com as necessidades da comunidade”, diz a gestora de Relações Institucionais e Comunicação da CCR Rodonorte, Simone Suzzin – o projeto iniciou em Ponta Grossa, após a empresa estudar a demanda que veio da própria secretaria de saúde. “Não é só oferecer algo, mas contribuir efetivamente”, salienta.
Para o diretor-geral do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial da Fiep, Rui Brandt, a elaboração de programas sociais por empresas pensados junto e para as comunidades em seu entorno, dá credibilidade à empresa e aos projetos. “São características que passam a ser visíveis para a sociedade, de uma empresa cidadã que busca também um resultado social, e não só econômico”.