Por conta do clima, trigo é uma das culturas mais produzidas em Guarapuava, que agora  cresce para a área de serviços | Brunno Covello/Gazeta do Povo
Por conta do clima, trigo é uma das culturas mais produzidas em Guarapuava, que agora cresce para a área de serviços| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

Com um entroncamento logístico favorável (acessada de leste a oeste pela principal rodovia do Paraná, a BR 277 ) e com o agronegócio fortalecido, Guarapuava, uma das principais cidades paranaenses e polo da região centro-sul do estado, vem encontrando uma nova vocação que vai além da produção agrícola: a área de serviços. Segundo especialistas, esse segmento hoje tem o maior potencial para negócios, que vão além da lucratividade e permitem também geração de qualidade de vida para a cidade e seu entorno.

Essa nova tendência se reflete no crescimento na geração de vagas de empregos: de acordo com o Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social), Guarapuava tinha 22 mil vagas formais em 2000, número que dobrou em 15 anos: as últimas pesquisas do instituto apontam para 45 mil empregos em 2015, sendo boa parte deles justamente no setor de serviços. “Isso indica que a área urbana da cidade continua se desenvolvendo bem, a ponto de o empresariado olhar oportunidades na área de construção civil, por exemplo. É um bom sinal para o desenvolvimento de outros setores”, aponta o Diretor de Centro de Pesquisa do Ipardes, Daniel Nojima.

Além disso, de acordo com o professor de economia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Felipe Polzin Druciaki, estudos em andamento na cidade, realizados por agências de desenvolvimento, apontam que existe, ainda, espaço para crescimento em ramos como o químico e fármaco. O setor moveleiro é outro que, segundo ele, apresenta aumento: de 2011 a 2016, cresceu mais de 26%, puxado sobretudo pelo ramo de reflorestamento, contribuindo significativamente para a balança comercial da cidade. “Mas hoje somos uma cidade prestadora se serviços. O PIB do município é composto boa parte por esse setor, diferente da Região Metropolitana de Curitiba, por exemplo, que tem um PIB composto mais pela área industrial” explica.

Guarapuava vem abrigando cada vez mais universidades, tanto públicas quanto privadas, o que, por consequência, aumenta a demanda por serviços: além da Unicentro, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) conta com câmpus na cidade desde 2014, com quatro cursos superiores de graduação.

O prédio da UTFPR é um dos empreendimentos consolidados dentro do bairro planejado Cidade dos Lagos, em execução na região – o bairro também será o responsável por abrigar o primeiro shopping center de Guarapuava, que terá 40 mil metros quadrados de área construída, 90 lojas satélite, seis âncoras e oito megalojas, além de cinema, praça de alimentação, espaço kids, estacionamento com mais de 1,6 mil vagas e hipermercado anexo (o empreendimento Dal Pozzo, já em funcionamento). O shopping, além de atender a demanda da cidade, também será uma referência para cidades vizinhas e para quem está em viagem cruzando o estado: o acesso ao local se dá pela BR 277, facilitando o fluxo para quem está em deslocamento e deseja ter acesso aos serviços do espaço.

O Shopping Cidade dos Lagos em construção: empreendimento será o primeiro do gênero em Guarapuava, com megalojas e cinema. Divulgação

Outra novidade que vem animando a cidade e a região é a ampliação do aeroporto e de suas atividades, hoje restritas para aeronaves particulares. Obras em andamento para ampliação da pista lateral e a possibilidade de operação por instrumentos apontam para o funcionamento para uma linha comercial – de acordo com Felipe, a companhia Azul – Linhas Aéreas Brasileiras será a responsável, com voo Gurapuava-Campinas. Consultada, a assessoria de imprensa da Azul confirmou que há estudos em andamento com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para início das operações na cidade, mas não confirmou rota nem a data de início.

Para o professor Felipe Polzin, da Unicentro, se concretizada, a linha comercial causará impactos econômicos significativos para Guarapuava. “Começando pelas obras, investimentos em máquinas, compras de veículos e empregos. Os ramos hoteleiros e de produção de alimentos também vão se beneficiar. Vai se criando um círculo econômico virtuoso”, acredita. Outro aspecto, diz, é a qualidade de vida para os moradores da cidade e entorno ( o fato de terem de se descolar até Curitiba para pegar um voo desestimula viagens) e a maior possibilidade de fomentarem a vida acadêmica na cidade. “Já ouvimos professores e pesquisadores que viriam de fora para palestras, mas acabam desistindo de convites por causa da falta de aeroporto”, conta.

Agronegócio

Território de campos com mais de 1 mil metros de altitude, clima bem determinado pelas estações e geadas regulares no inverno, Guarapuava é uma das regiões do Sul do país com grande produção de culturas como trigo, aveia e milho – a região tem a maior produtividade de quilos de milho por hectare no Brasil. A média de 12 mil quilos por hectare, segundo o presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, Rodolpho Luiz Werneck Botelho, é maior que a média americana (que nos maiores estados produtores de milho fica ainda um pouco abaixo desse montante). Além disso, o presidente destaca a produção de cevada para malte de cerveja na cidade: uma das cooperativas fornece 72% da matéria-prima para a gigante Ambev.

Botelho crê que a localização da cidade e seus acessos (além da BR 277, Guarapuava é acessada sentido norte pela PR 466 e ao Sul pela PR 170 – também conta com um ramal ferroviário pelo oeste, o que facilita o escoamento para o Porto de Paranaguá) é uma das principais vantagens da cidade, que a levaram a ser referência no agronegócio. O setor, diz ele, tem uma perspectiva não só de consolidação, mas de crescimento nos próximos anos, se ocorrer ampliação da produção de carnes nobres e transformação das commodities agrícolas. “Como Guarapuava está bem localizada em termos logísticos, precisamos aproveitar essa característica para atrair novas empresas e indústrias.”

Para Polzin, o sentimento de pertencimento do guarapuavano vem aumentando, o que facilita essa vontade pelo empreender e desenvolver a cidade. “Esses investimentos são o empurrão que o morador precisa para ter orgulho de Guarapuava e perceber quanta coisa terá à disposição por aqui”, frisa.