Matemática, Português, Educação Física e História continuam sendo matérias essenciais no conteúdo da educação básica. Entretanto, na era da hiperconectividade e do excesso de informação desde muito cedo, escolher a linha pedagógica de uma instituição de ensino é também definir de que forma o estudante irá receber o conteúdo necessário para o seu aprendizado e ser cobrado por isso.
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A designer gráfica Bruna Luiza de Oliveira Corso, 25 anos, e o professor Fernando Artur de Souza, 37 anos, pais do Theo, de 1 ano e 6 meses, buscaram propostas diferentes para definir a nova escola do bebê. Desde o início da pesquisa, o foco eram instituições que priorizassem o brincar e estimulassem a autonomia infantil.
Entre as metodologias oferecidas nas escolas de Curitiba, o casal avaliou instituições que adotam, por exemplo, linhas pedagógicas Waldorf ou Sócio-interacionista, além de didáticas alinhadas ao pensamento Montessoriano ou Pikler. “Não somos muito fechados à uma pedagogia específica, mas buscamos escolas que priorizam o brincar, a autonomia infantil e fogem do formato ‘crianças sentadas em carteiras’, que é o que mais se alinha ao que ensinamos em casa”, explica Bruna.
A preocupação do casal é na forma como o conteúdo disciplinar será transmitido à criança. Na pedagogia Waldorf, por exemplo, o aprendizado acontece por meio de questões e tarefas conectadas com o modo como a criança se relaciona com o mundo. As aulas de culinária são usadas para transmitir conceitos matemáticos, como ao quantificar as porções de cada ingrediente para o preparo de um bolo. Uma fatia de melancia, por exemplo, pode servir de base para apresentar às crianças noções de quantidade, como “mais sementes” para o João ou “menos sementes” para a Carolina.
Para a professora da Universidade Federal do Paraná, Veronica Branco, que é doutora em alfabetização, a Escola Construtivista, formulada pelo psicólogo e filósofo suíço Jean Piaget, foi o “divisor de águas” na educação, rompendo com os conceitos do ensino tradicional que imperava até o início do século passado, que seguia a linha Behaviorista – área da psicologia que tem o comportamento como objeto de estudo (“behavior”, em inglês, significa comportamento ou conduta).
Baseado na observação e em entrevistas com crianças, o estudioso revolucionou as concepções de inteligência e de desenvolvimento cognitivo. “Piaget diz como o sujeito aprende, que ele pensa a partir das vivências que tem”, esclarece a professora.
Veronica destaca que o próprio papel do professor hoje em dia, como mediador e agente responsável por impulsionar o conhecimento já era um perfil apresentado por Piaget no início do século passado. “Vem daí a ideia de aula invertida usada hoje, de apresentar primeiro o problema para o aluno, para que ele se antecipe”, exemplifica.
Na opinião da professora universitária, apesar de todos os avanços verificados na área da educação, ainda existem muitas escolas que preferem adotar a linha pedagógica tradicional, com aulas expositivas e o professor como o principal provedor do conhecimento. “Essa é uma questão que depende muito da gestão escolar”, pondera.
Há várias linhas pedagógicas adotadas pelas escolas — conheça um pouco mais sobre as principais:
Tradicional: Abordagem predominante nas escolas brasileiras. O professor está no centro do processo educativo, pois é o responsável por transmitir os conhecimentos aos alunos. O estudante tem metas a cumprir a partir das tarefas aplicadas diariamente, dentro de determinados prazos. Por meio das avaliações periódicas, o aluno que não alcançar a meta – nota determinada – é reprovado.
Construtivismo: O método Construtivista foi idealizado pelo psicólogo suíço Jean Piaget na década de 20. Defende a construção do conhecimento pelo próprio aluno, fruto de sua interação com o meio, mas considera o professor um importante mediador nesse processo. Trata o ensino como algo dinâmico e o aprendizado é construído aos poucos, a partir de conhecimentos anteriores.
Montessori: Linha pedagógica idealizada pela educadora italiana Maria Montessori, em 1907, na qual a educação deve se desenvolver com base na evolução da criança e não o contrário. Trabalha com seis pilares educacionais que são: autoeducação, educação como ciência, educação cósmica, ambiente preparado, adulto preparado e criança equilibrada. A aprendizagem deve ter interferência mínima do professor e os conceitos de liberdade e disciplina devem se equilibrar.
Waldorf: Criada por Rudolf Steiner na Alemanha, a metodologia Waldorf está fundamentada na Antroposofia (ciência que traz a compreensão e desenvolvimento do ser humano nos âmbitos físico, emocional e espiritual, levando em conta a faixa etária e a individualidade de cada estudante). A pedagogia de Steiner incentiva a criatividade e a imaginação, conduzindo os alunos a um pensamento livre e autônomo. Considera fundamental, por exemplo, o equilíbrio entre a atividade intelectual e a prática, o esforço e o descanso. Prioriza atividades que incentivam o pensar, o sentir e o agir.
Sócio-interacionista: Linha pedagógica baseada nos conceitos do psicólogo bielo-russo Lev Semenovitch Vygotsky, que considera que a aprendizagem se dá a partir da interação do sujeito e a sociedade ao seu redor – ou seja, o homem modifica o ambiente e o ambiente modifica o homem. No contexto da educação, o professor assume o papel de mediador para estimular avanços que não ocorreriam espontaneamente.
Pikler: Focada na Educação Infantil, a abordagem desenvolvida pela médica húngara Emmi Pikler está embasada no cuidado com a saúde física e no respeito pela individualidade de cada criança e tem como princípios fundamentais e relação privilegiada entre mãe/educadora e bebê e o desenvolvimento da autonomia através do brincar livre. Prevê o desenvolvimento da criança em seu próprio ritmo, sem ser apressada pelos pais. Sozinha, ela começa a se dar conta de que suas ações geram consequências e aprende a lidar com isso de maneira natural.