Andar de ônibus é muito mais do que se locomover de um lugar para ao outro junto com outras pessoas anônimas e, às vezes, alguns colegas. Quem está todo dia dentro dos coletivos sabe que pegar o transporte público também é uma aula de comportamento humano na prática, onde os personagens e as situações são vistas ao vivo e em cores. No vai e vem dos ônibus e passageiros, sobram até algumas histórias engraçadas que, em meio à correria do dia a dia, divertem os moradores da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e temperam um pouco a rotina.
O problema é que quem já presenciou ou já foi vítima de um “mico” dentro do ônibus, na hora, quer fingir que aquilo nunca aconteceu ou ficar invisível por alguns minutos. Só que depois do vexame, todos acabam dando risada da situação e sobram até alguns bons exemplos para não seguir.
Cadê o dinheiro do ‘busão’?
Talvez uma das situações mais corriqueiras dos passageiros do transporte coletivo é esquecer o dinheiro da passagem. Seja por falta de atenção ou algum entrave no caminho, deixar algumas moedas de lado faz toda a diferença na hora de embarcar. Aí, resta esperar por alguma alma caridosa, como aconteceu com o Nilson.
“Uma vez eu estava indo para o trabalho e eu sempre deixava o dinheiro da passagem contado, certinho para não precisar dar tanto trabalho ao cobrador.
Só que chegou o dia que eu levei dinheiro faltando, e faltava mais de um real, não dava para deixar passar. Aí eu fiz uma cara de cachorro sem dono e tive que pedir para alguém o resto do dinheiro, fiquei com vergonha é claro.
Sorte que sempre tem alguém que compreende e consegui. Hoje, eu faço o mesmo, completo a passagem dos outros quando pedem, pois lembro da situação sem graça que passei”, disse.
Meu cartão, minha vida
É claro que essa situação não acontece quando você pode utilizar os ônibus com algum cartão transporte. Só quem perde o Metrocard sabe o quanto ele facilita a vida e faz falta, como já aconteceu com o João Antunes.
“Deixo sempre o cartão dentro da carteira, mas uma vez eu deixei em casa, por algum motivo esqueci. Aquilo de levar o cartão e passar é tão automático que você nem leva dinheiro de passagem junto, então, quando eu fiquei sem, não sabia o que fazer. Tinha algumas moedas no bolso, então podia pedir para alguém completar, mas é claro que a gente fica sem graça. Acham que a gente vai usar o dinheiro para outra coisa, está mentindo... Voltar para casa não dava, se não ficaria atrasado... Então o jeito é não esquecer o cartão e evitar essa situação”, comenta.
Isolada do mundo
Entre os problemas comuns da nossa modernidade, ficar sem internet parece ser um dos piores. Aconteceu com a Angélica Cristina, que estava contando com uma carona depois que chegasse ao terminal e ir mais rápido para casa. O problema é que faltou internet na hora de combinar.
“A gente fica nessa de usar o plano de dados, mexendo nas redes sociais e tudo mais, que esquece que uma hora a internet da conta acaba e ficamos sem o que fazer. Aconteceu isso comigo, acabaram meus créditos, eu não tinha internet para usar... Gastei tudo com Facebook! Não consegui me comunicar com ninguém, nem mensagem nem nada... Perdi minha carona por faltar internet naquela hora, para poder combinar a chegada... Tive que fazer todo o trajeto de ônibus mesmo”. O problema poderia ser evitado se a Angélica tivesse usado um dos pontos de Wi-Fi dos terminais e tubos da Região Metropolitana de Curitiba.
Se beber, vá de ônibus
Os terminais metropolitanos da RMC são verdadeiros portais para as mais diversas regiões da capital. Não há como pegar o ônibus errado e consertar de forma fácil depois, é preciso prestar atenção. Só que imagina quem precisa pegar o ônibus e está bêbado? Aconteceu com o César, que presenciou, em um domingo à noite, uma passageira completamente perdida depois de passar por uma intensa matinê do Centro e fez o papel de bom samaritano.
“Cheguei aqui no Guadalupe e uma senhora estava completamente bêbada e perdida no terminal. Estava arrumada e maquiada, tinha saído de um destes Bailões que tem aqui perto do Centro... Aí ela entrava em todos os ônibus, perguntava tudo para o motorista, tropeçando de salto alto, mas ninguém entendia direito o que ela queria dizer... Sabe Deus onde ela iria parar se alguém não ajudasse? Ainda bem que tinha eu e outro cara ali que trabalhamos como tradutores da senhora e conseguimos entender para onde ela queria ir... Pelo menos eu acho que ela conseguiu chegar para casa depois”. Pois é, se beber não dirija, vá de ônibus, mas, de preferência, escreva o nome dele num papelzinho.
Os vizinhos têm ouvidos
Uma das principais diferenças entre o transporte individual e o coletivo talvez seja a interação entre os passageiros. A conversa rola solta e em meio ao tititi dos desinibidos, escapam algumas fofocas e comentários que não passam despercebidos. Foi o que aconteceu com o Jean, que conhecia a “vítima” de uma conversa de “busão”.
“A gente sabe que tem gente que gosta de falar da vida dos outros no ônibus. Eu acordo com sono, fico quieto na minha, para falar a verdade nem gosto de conversar no ônibus... Mas uma vez vi que estavam falando de alguém que eu conhecia... É claro que eu não iria chegar lá e interromper o papo... mas que coisa feia fofocar, heim? Tem que ter cuidado, ainda mais no ônibus que sempre pode ter um conhecido, amigo de amigo ou algo assim... Sorte também que ninguém me reconheceu”, comenta.
Desventuras em série
Se deslocar na Região Metropolitana de Curitiba às vezes pode ser uma grande aventura, com um roteiro digno de “Férias Frustradas”, como aconteceu com a Milena Daniele. Ela foi vítima de um ônibus bem azarado...
“Quando a gente está com pressa tudo acontece de errado... Uma vez eu estava vindo lá de Colombo aqui para Curitiba, tinha compromisso marcado... Aí me resolve estragar a porta do ônibus, mas tudo bem, ficamos andando com ele de porta aberta, de qualquer forma conseguiríamos chegar até o destino, apesar de estar ventando na minha cara... Pouco tempo depois o ônibus começa a soltar fumaça e depois pega fogo. Fiquei assustada é claro, mas o motorista apareceu e disse que o motor tinha fervido, tinham esquecido de colocar água no radiador. Depois toda aquela sessão de esperar outro ônibus chegar, os passageiros te olhando torto por lotar o ônibus seguinte. Quando chega, contar uma história dessas, é claro que vão achar que estava mentindo...
Fiquei sem graça mas ainda bem que consegui chegar e compreenderam minha história”, comenta.
Sob chuva ou sol
Quase sempre tem aquele passageiro mais excêntrico, de personalidade forte e que realmente não se importa com o que vão pensar dele. O João Pedro sentou perto de um destes no último verão.
“Estava um calor terrível e o pior, um sol forte que dava na cara de todo mundo, tinha que ficar fechando os olhos às vezes. Eu estava sentando nos últimos bancos do ônibus, aí chega uma mulher bem perto de mim e abre um guarda-chuva dentro do busão... Ficamos eu e ela lá, com um guarda-chuva na frente da nossa cara... Bem, eu preferi nem falar nada, já estava chegando mesmo, mas eu nunca tinha visto ninguém conseguir abrir um guarda-chuva dentro do ônibus e jamais achei que isso ia acontecer comigo também. Mas eu não me irritei, até que foi engraçado e o guarda-chuva estava servindo para alguma coisa”, conta.
A peso de ouro
O Fábio Oliveira tinha de carregar algumas coisas com ele e não tinha jeito:
teria que ser de ônibus. O que ele tinha com ele? Alguns quilos de porcelanato que tinha que levar para casa.
“Eu devia ter alguns quilos de porcelanato comigo, ou eu sentava, ou aquilo tudo ia cair. Entrei no começo do ônibus, com ele já lotado... Bem, eu até tentei carregar ele e ficar de pé, mas durou poucos minutos. Era só o motorista frear e o medo vinha... Eu tive que tomar uma atitude, fui da porta três até o final do ônibus correndo e gritando com aquilo no colo: “Dá licença que o porcelanato vai cair”. A mulher que estava na ultima cadeira do ônibus pulou correndo da cadeira e eu me joguei no banco com o porcelanato no colo. Ainda bem que ninguém se machucou e o porcelanato não quebrou”, diz o passageiro.
Os bons e velhos costumes
A Ana Paula tentou educar alguns adolescentes apressados e acabou se saindo como a tia estressada do busão. Mas ela diz que tinha boa intenção, queria prevenir que alguém furasse fila na estação do Posto Paris em São José dos Pinhais.
“É todo dia a mesma coisa, forma uma fila enorme no Posto Paris e aí vem alguns adolescentes, acho que estagiários de uma empresa que tem perto, e ficam furando fila na hora de entrar. Semana passada me estressei e gritei com eles... Todo mundo concorda que aquilo tá errado, mas eles argumentam que todo mundo vai ficar de pé mesmo. Aí ontem várias pessoas vieram me dar conselho, falar para eu me acalmar, que jovem é assim mesmo... Bom, os outros furam fila e quem precisa de terapia sou eu? O pior é, o pessoal me cumprimentando, querendo me consolar e cuidar do meu estresse agora, já até esqueci dos fura-fila”, explica.
Cavalo dado...
O Lucas Prado já esperou pelo busão com um passageiro inusitado no ponto: um cavalo...
“Tinha que acordar cedo para ir pro Centro, aí o ponto estava vazio... Ele ficava perto de um terreno baldio, só tinha mato e um cavalo lá. Bem nesse dia a cerca estava toda arrebentada, e o cavalo tinha fugido do terreno e estava no ponto. Bem, eu fiquei lá com o bicho, uma hora ele virou de costas e começou a pastar. Eu realmente fiquei com medo de tomar um coice, sorte que o ônibus chegou logo. Quando entrei no ônibus, todo mundo estava com aquela cara de paisagem, como se o cavalo fosse meu”, diz.