Saúde fora de foco: apenas 36% do total gasto em equipamentos médicos no Brasil em 2015 foi para a indústria nacional | BigStock
Saúde fora de foco: apenas 36% do total gasto em equipamentos médicos no Brasil em 2015 foi para a indústria nacional| Foto: BigStock

Quando se fala em saúde no Brasil, a primeira ideia que vem à cabeça é o cenário crítico da saúde pública, com hospitais superlotados, falta de recursos e de médicos, infraestrutura deficitária e equipamentos caros, quebrados ou obsoletos.

E esse quadro tende a piorar, por diversos fatores: a população está cada vez mais longeva (a expectativa de vida na América Latina saltou de 65 anos em 1990 para 74 anos hoje, segundo o Banco Mundial); doenças crônicas – como câncer, cardiopatias e diabetes, de tratamento mais longo e caro – substituíram as infecciosas, parasitárias e os traumas como as maiores causas de morte; o avanço tecnológico, a crise financeira e a baixa produção nacional (apenas 36% do que se gasta em equipamentos médicos no Brasil é produzido no país, segundo a Abimo, associação dos fabricantes do setor) têm levado os custos dos insumos às alturas, só para citar alguns dos problemas.

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“Ou seja: temos uma população cada vez maior, vivendo mais, precisando mais de cuidados de saúde e com uma saúde cada vez mais cara”, resume o médico brasileiro Robson Capasso, chefe da Divisão de Cirurgia do Sono, professor assistente e mentor do centro de inovação em saúde (BioDesign) da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. “Tudo isso criou uma bola de neve, não há como continuar nesse ritmo. Por isso precisamos mais do que nunca de soluções inovadoras e viáveis na medicina.”

Ele vai além: “Para piorar, há um gap muito grande entre a importação e a exportação de equipamentos médicos no Brasil. O país até produz uma boa quantidade, mas os produtos mais caros e de maior valor agregado acabam sendo importados”, observa. “Sem falar que o segmento de dispositivos dessa área em outras partes do mundo produz com base no mercado europeu e norte-americano. Existe a necessidade real de se incentivar a produção de itens que se adequem à realidade brasileira.”

Presidente da Associação Brasileira de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (Abimo), Paulo Henrique Fraccaro confirma esse desequilíbrio no setor: “O mercado de equipamentos médicos no Brasil movimentou no ano passado R$ 25 bilhões. Mas menos de R$ 9 bilhões correspondem a itens fabricados no Brasil”, revela. O déficit na balança comercial vem crescendo a um ritmo de 20% ao ano, e nos postos de saúde aproximadamente 80% dos equipamentos disponíveis são importados.

O que encarece muito o custo de manutenção e contribui para outro dado lamentável: em 2015, dos 1,67 milhão de equipamentos médicos e hospitalares do país, 76,4 mil não estavam em uso – por falta de manutenção ou outros problemas. Pior ainda: desses 1,67 milhão de equipamentos, apenas 293 mil (17,6%) estão no SUS, que atende simplesmente 150 milhões (75%) dos 200 milhões de brasileiros.

Potencial

Quer outra boa razão para a urgência de inovações nessa área? Fraccaro aponta o potencial do mercado brasileiro: “A Holanda tem uma população de 17 milhões de habitantes, e gasta aproximadamente US$ 110 bilhões em saúde. O Brasil gasta US$ 170 bilhões, mas para uma população de 200 milhões de pessoas. Isto é, são US$ 5,75 mil por habitante ao ano na Holanda, contra US$ 880 por habitante no Brasil”, compara. “Lá há um volume de comercialização muito grande, o que atrai a instalação de empresas extremamente inovadoras.”

Projeto de inovação em saúde está em curso na PUCPR

Em um mesmo ambiente, estarão consultores, cientistas, inventores, CEOs e empresários da indústria médica, investidores, representantes do poder público e de órgãos de regulação e especialistas nas áreas da Medicina, Engenharia, Arquitetura e Design, Tecnologia da Informação e de Administração e Negócios

A notícia boa em meio ao cenário desafiador da saúde é que grandes desafios trazem oportunidades maiores ainda. “Temos que buscar soluções globais, não apenas locais, que democratizem o acesso à saúde, de preferência trazendo inovações que reduzam os custos”, destaca o professor Marcelo Pilllonetto, coordenador do Programa de Inovação em Saúde e professor da Escola de Medicina da PUCPR. “Para tanto, é preciso incrementar o ecossistema de saúde, por meio de um programa que reúna inventores, investidores, especialistas em regulação e governo.”

Este programa existe, foi criado com base no principal projeto multidisciplinar de inovação em saúde do mundo, o BioDesign da Universidade de Stanford, e está em curso neste momento na PUCPR: o hiPUC – Health Innovation at PUC –, que acontece de hoje ao dia 15 na universidade. Em um mesmo ambiente, vai reunir consultores de Stanford, cientistas, inventores, CEOs e empresários da indústria médica, investidores, representantes do poder público e de órgãos de regulação e especialistas nas áreas da Medicina, Engenharia, Saúde, Arquitetura e Design, Tecnologia da Informação e de Administração e Negócios.

A ideia é contribuir de forma efetiva na formação de profissionais inovadores/empreendedores dentro dessa nova visão global do mercado de saúde. “É uma espécie de intensivo do BioDesign de Stanford, realizado pela primeira vez na América Latina, e que tem potencial para tornar o Paraná, que já é terceiro maior produtor de equipamentos médicos no país, um polo nacional de inovação no setor”, resume Pillonetto.

Serviço: Saiba mais sobre o hiPUC no site www.hipuc.com .