Rosali Oliveira Santos era mãe assistida por um projeto social na região metropolitana de Curitiba. Hoje preside a associação que mantém o mesmo projeto e que leva seus produtos a mercados internacionais
“Comecei na economia colaborativa como participante de um programa comunitário. Eu era uma mãe assistida do projeto Borda Viva. O ano era 2001 e todo o trabalho era coordenado pelo pároco José Aparecido Pinto. A ideia inicial era matar a fome de muitas famílias que haviam migrado de diversas regiões do país para São José dos Pinhais.
Naquela época, empresas automotivas se instalaram na região e se tornaram um grande chamariz de empregos e oportunidades. Fomos pioneiros no Paraná com o programa Fome Zero, criado em 2003. Implantamos sete cozinhas comunitárias em nossa região e passamos a alimentar 1,8 mil crianças ao dia, inclusive meus filhos, com parcerias com a prefeitura e o governo federal.
Em 2005 o padre José foi chamado para assumir novo trabalho em outra comunidade. Eu já conhecia bem o funcionamento do programa. Para que ele tivesse continuidade, me reuni com outras lideranças locais e decidimos seguir adiante com um trabalho que considerava brilhante. Seguimos em frente até 2007, quando uma mudança na prefeitura impediu a continuidade do projeto.
Apesar de receber recursos federais, dependíamos do município para fazer este repasse. Tal situação inviabilizava nossas atividades. Mas a Borda Viva não podia parar. A gente se viu diante do inesperado, mas decidiu seguir em frente. Buscamos novas parcerias, dessa vez com a iniciativa privada.
Isso transformou o programa Borda Viva em duas frentes sociais: a Cooperativa Borda Viva, que tinha como objetivo trabalhar o cooperativismo com os agricultores da região, por meio do programa Aquisição de Alimentos; e a Associação Borda Viva, para atender as demandas das áreas urbanas, como atendimento com alimentação saudável e formação das mães, seja para o trabalho formal ou informal, abrindo novas frentes de geração de renda.
Hoje temos uma cozinha social, que oferece alimentação saudável e segurança alimentar para as crianças; um restaurante que faz atendimento às empresas locais, realizamos eventos como serviço de coffee break. Desde 2009 passamos a atuar com costura, confeccionando bolsas de lona de banners. Em 2012 fizemos uma parceria com a Renault do Brasil, que passou a nos fornecer retalhos de tecidos automotivos. Foi um grande salto de qualidade do projeto.
Com o passar dos anos, as bolsas e acessórios da instituição ganharam fama e agora alcançam outros estados e países, como a França. Acreditamos que a sociedade deve se organizar de tal forma a extirpar os bolsões de miséria existentes no nosso país, seja por meio de associações cooperativas que foquem em projetos de inclusão social, de geração e distribuição de renda, ou projetos governamentais que inspirem a efetivação do bem-estar social.
Colaborativismo que transforma
O colaborativismo está presente em tudo que faço e de todas as maneiras. Seja ao comprar o pão do vizinho, a verdura do produtor local ou ajudar a divulgar o artesanato da outra vizinha. Precisamos nos fortalecer e estabelecer redes de informação.
Nosso coffee break, por exemplo, é feito na padaria da nossa comunidade. Montamos nossos cardápios com produtos produzidos na comunidade e este retorno financeiro fica na própria comunidade, sem intermediários.
Diante de tudo que vivi e que passamos nestes anos, vejo que, quando uma comunidade se organiza em prol dos mesmos objetivos, visando a qualidade de vida, a igualdade, o respeito ao próximo, podemos transformar muitas realidades. Nós trabalhamos com o que tínhamos e com o que temos. Hoje é uma alegria ver os resultados.
Fui uma mãe atendida por este programa e me deram a oportunidade de aprender e a mudar a minha vida. Hoje sou presidente desta associação, que me enche de orgulho pelas conquistas obtidas. Eu me considero um exemplo de transformação. Quando somos solidários e comungamos dos mesmos princípios, a transformação acontece. Ninguém faz nada sozinho”.