Tida vai passar o Dia Internacional da Mulher como gosta: na trilha| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Os brincos não são mais iguais ao colar. Do estimado conjunto de joias gravadas com o desenho de um jipe, restou apenas o anel, acomodado no dedo mínimo da mão esquerda. A mesma mão que atende ao telefone. Uma voz alegre diz "Oi, é a Tida". A cena repete-se várias vezes ao dia. Do outro lado da linha, jipeiros em busca de uma trilha a percorrer.

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A Tida é, na carteira de identidade, Sali Morais Vercesi, 52 anos, que em fevereiro assumiu a presidência do Jeep Clube de Curitiba. É a primeira vez em 25 anos de história da entidade que uma mulher está no comando. Uma não. Duas: a vice-presidente é Lídia Peixe Filardo. As duas são comadres.

O ingresso de Tida no Jeep Clube, há 10 anos, é "culpa" do marido, Euclides Vercesi, que queria companhia para colocar o jipe da família nas trilhas. Tida foi para acompanhar. E deu no que deu: ganhou novos amigos e o apelido. Euclides já era o Tide. Como nenhum dos jipeiros acertava como pronunciar "Sali", ela virou a Tida do Tide. Por fim, só Tida. O codinome pegou.

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Presidir um clube formado por mais de 250 sócios, na maioria homens, em que a principal atividade são raids e passeios de jipe em trilhas com muito pó, lama e mata é um desafio que Tida encara como natural.

"Era preciso alguém com tempo disponível. Aposentada, achei que poderia fazer isso", conta a ex-funcionária pública.

Antes de chegar ao topo do organograma do clube, foi diretora social, tesoureira e coordenadora do principal evento do Jeep Clube, o Raid Transparaná, maior rali de regularidade do país, realizado há 15 anos.

Se hoje a presidência não assusta, o mesmo não pode ser dito do seu primeiro contato como o Jeep Clube, há dez anos. Fã do volante de automóveis de tração 4x4 desde os 17 anos, quando aprendeu a dirigir com o pai, em uma caminhonete F-75 da Ford, não gostou nada do début nas trilhas. Ela e o marido foram disputar o Raid do Litoral. Ele, ao volante, ela, como navegadora. Sem nunca ter visto uma planilha de rota antes.

"Fui de roupa clarinha, achando que ia para o shopping. Na segunda quadra, ainda na cidade, já tinha feito o Tide se perder", diverte-se.

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Não gostou de competir, jurou não mais voltar, ainda mais depois do primeiro atoleiro.

"Era lama até o joelho. Até hoje não achei meu tênis", conta, aos risos.

Quebrou o juramento, voltou e hoje organiza as provas. É quem conversa com donos de propriedades para pedir passagem aos jipeiros. Negocia com prefeitos apoio para os raids.

"Encaro tudo, lama, frio, pó, mato, sem frescura. Mas não abro mão de banho quentinho e cama fofinha ao final do dia", diz, sorrindo.

Divide seu tempo entre os compromissos do Jeep Clube, as caminhadas matinais, a novena e a jardinagem. Não dispensa o agrado dos filhos Lorenzo, 28 anos, e Luciano, 24. Faz lasanha quando eles vêm para o almoço.

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Os dois não herdaram o amor pelos jipes e não acompanham os passeios. "Quem sabe quando vier um neto?", cogita.

Tida vai comemorar seu Dia Internacional da Mulher como mais gosta: hoje está na estrada, em busca das trilhas que vão compor o primeiro passeio dos jipeiros este ano, o de Santa Felicidade, em 5 de abril. Tudo porque gosta de carros.