"Os fins justificam os meios". A frase mais famosa do filósofo Nicolau Maquiavel parece mover o terceiro colocado do Brasileiro-2005. Ao travar uma alardeada batalha contra a falta de dinheiro, o Paraná do presidente José Carlos de Miranda, 67 anos, não tem poupado medidas impopulares: deu de ombros à torcida, adotou uma questionável política para captar recursos no Norte do estado e até cedeu munição aos rivais (leia-se Renaldo no Coritiba). Com o sucesso dentro de campo, a estratégia pode ser intensificada no futuro – sem receios de novas críticas. Amanhã, às 20h30, pela 19.ª rodada, a equipe de Lori Sandri vai ao Rio enfrentar o Flamengo. Uma vitória pode levar os paranistas à liderança.

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Gazeta do Povo – O senhor está surpreso com o desempenho do Paraná?

José Carlos de Miranda – Qualquer posição que estivéssemos seria possível. Montamos um time que é o melhor grupo na história tricolor. Investimos mais do que podíamos. Nós arriscamos.

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Então tudo se resume à sorte?

Somos a melhor administração de futebol do Brasil. Temos uma cota de R$ 3,96 milhões da tevê. O Coritiba e o Atlético recebem R$ 11 milhões. Há um grupo que leva R$ 16 milhões, um outro R$ 19 milhões e um top R$ 22 milhões. A Ponte Preta é nosso parceiro em capacidade, mas recebe ajuda da Federação Paulista.

Não foi um erro trocar Curitiba por Maringá?

Tivemos a opção de jogar em Maringá e ainda estudamos outros convites. Era preciso essa receita para pagar salários. Nós temos de levantar o dinheiro para terminar o ano no 0 a 0 em termos de pagamento.

Existe a possibilidade de outras saídas?

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Sim. Temos propostas de Joinville, Cascavel e Maringá. O pessoal do litoral quer time carioca e do Oeste, os gaúchos. Estamos estudando. Mas quanto melhor a campanha, maior será o preço. Cobraremos R$ 300 mil por confronto a partir de agora. Só vamos aceitar novas saídas em caso extremo de necessidade.

Mas o Gallo Maringá está lucrando (renda de R$ 486.662,50 contra o Santos). Isto não reforça que há erro nesta estratégia?

Vou mostrar matematicamente. No ano passado, tivemos 22 jogos aqui e um em Paranaguá. Sabe qual foi a receita líquida desse total? Chegou a R$ 154 mil. Este ano, por exemplo, nosso jogo contra o Atlético deu 12 mil pagantes e uma renda líquida de R$ 32 mil. Pagou o salário de um jogador. Sem esses jogos lá, já estaríamos com três meses de salários atrasados.

Todos sabem disso? Alguns jogadores já reclamaram dessa medida?

Quando a coisa apertar, todo mundo vai jogar nas costas do presidente. Tenho 67 anos de idade e comandei o Colorado em 1985. A coisa aperta e eu terei de andar com segurança, fugindo de copo com urina e ovos.

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Se o time perder uma vaga na Libertadores por poucos pontos a situação não será a mesma?

Vão reclamar sempre. O "se" não existe.

O jogo contra o Santos não seria com casa cheia?

Nosso cálculo é o seguinte: a maior renda do Paraná foi contra o Corinthians, em 2003. Os dois times estavam arrebentando e o duelo aconteceu na Arena – uma bela atração. Só 13 mil pessoas pagaram ingresso. Na época, sobraram R$ 68 mil. Sei que é difícil fazer a abstração do futebol profissional e a emoção. Por mim, não jogaríamos nem no Pinheirão. Seria tudo na Vila Capanema.

Valeu a pena abrir mão de um artilheiro e ídolo como o Renaldo?

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Foi um ótimo negócio. Trata-se de um jogador caro que só fez um gol no Brasileiro. Devíamos dois salários, nos livramos de um encargo até o fim do contrato e ainda recebemos um dinheiro. A transação só não ocorreu antes porque o Coritiba nos ofereceu algo e não aceitamos.

O jogador estava fazendo corpo mole?

Acredito que não, mas tem gente jurando o contrário. Ele faz o marketing dele. Nunca disse para nós que queria sair, mas temos informações contrárias.

Qual foi a contratação que mais lhe agradou?

(Pensativo) Acho que a maior surpresa positiva foi o Neto. Ele era o menos badalado.

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Por que não o Borges?

Eu estaria mentindo. Esses jogadores foram indicados e avalizados. Poderia dizer que foi o Daniel Marques, pois esse eu negociei diretamente com o Mustafá Contursi (dirigente do Palmeiras). Trata-se do melhor central do país. Só não vai reconhecer a imprensa provinciana de São Paulo e Rio.

Essa formatação do grupo custou quanto ao clube?

Nada. Todos os atletas vieram através dos parceiros e do bom relacionamento que temos no mercado. Temos crédito na praça.

Qual é a despesa com a folha de pagamento da equipe?

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Está em R$ 480 mil. É disparada a menor do Brasil.